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Reinaldo Polito

Faça como os advogados no caso Elize: mesmo discordando, não crie inimigos

Último dia do julgamento que condenou Elize Matsunaga por morte do marido - Janaina Garcia - 4.dez.2016 /UOL
Último dia do julgamento que condenou Elize Matsunaga por morte do marido Imagem: Janaina Garcia - 4.dez.2016 /UOL

13/12/2016 06h00

No final do julgamento de Elize Matsunaga, Luiz Flávio Borges D’Urso, que atuou no caso como assistente de acusação, cumprimentou com amabilidade Luciano Santoro, o advogado de defesa. Os dois que haviam se digladiado com veemência no júri agora se viam como profissionais que cumpriram bem sua função.

A atitude desses profissionais do direito pode ser apontada como um ótimo exemplo de como devemos nos comportar com relação àqueles com os quais nos confrontamos no dia a dia durante os embates profissionais. É a demonstração admirável de que o profissionalismo não pode ser confundido com o relacionamento pessoal.

Nessa época tão competitiva em que vivemos, onde os mesmos objetivos são disputados, às vezes, até de maneira truculenta, mostrar respeito e consideração pelo oponente pode ser um bom recurso para conquistar a simpatia, o respeito e admiração do público ou colegas de trabalho.

Se uma pessoa tem a grandeza e a superioridade de espírito para reconhecer de forma honesta e sincera as qualidades de seu adversário, naturalmente poderá angariar a benevolência dos ouvintes. Essa atitude, entretanto, deve ser percebida sempre como verdadeira, pois se as pessoas desconfiarem de que se trata apenas de uma estratégia de comunicação, poderão se tornar resistentes à ação de quem a interpreta.

É muito comum os adversários tentarem desqualificar o oponente, tentando demonstrar que a outra parte ou não tem competência, ou não tem experiência, ou não tem respaldo ético para defender determinadas posições. Enquanto os ataques se restringem aos aspectos profissionais, sem problemas, mas quando atingem a imagem pessoal, denegrindo a honra e a reputação, a luz amarela começa a piscar.

Lembro-me do encontro de duas personalidades da política paulista em um evento do nosso Curso de Expressão Verbal. Sentaram-se à mesma mesa dois antigos adversários, Blota Júnior, que além de político se notabilizou como um dos mais importantes apresentadores da televisão brasileira em todos os tempos, e Fernando Mauro Pires Rocha, líder do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) na Câmara dos Deputados.

A forma amistosa como ambos se trataram diante do público fez com que a plateia os recebesse com enorme boa vontade. Depois de Fernando Mauro fazer referências elogiosas ao seu oponente político, Blota Júnior deu demonstrações ostensivas de admiração pelo adversário. As pessoas perceberam sinceridade naquelas palavras e aplaudiram com entusiasmo os discursos.

Ouça no áudio abaixo o elogio feito por Blota Júnior a Fernando Mauro

UOL Notícias

Hoje, tal comportamento, mais que nunca, torna-se necessário nos embates da vida corporativa. Podemos discutir as ideias, confrontar posições, defender interesses, mas tratar com respeito os adversários. Sem contar que com as voltas que a vida dá, no futuro talvez precisemos ter como aliado os adversários de hoje.

Se houver consideração e dignidade no tratamento dispensado ao oponente do momento, evitaremos que lá na frente ele se transforme em inimigo. Essa atitude respeitosa poderá ser o caminho para que disputas passadas se restrinjam apenas às discussões das ideias, nunca em desafetos pessoais.

A emoção da contenda geralmente nos faz dizer o que não sentimos verdadeiramente. São aquelas palavras que servem apenas para diminuir o adversário e tentar desestabilizá-lo para que nossas ideias prevaleçam. Nós nos esquecemos, entretanto, de que as agressões verbais machucam e podem criar mágoas irreconciliáveis.

Essa atitude equilibrada deve ser observada não apenas no tratamento com pares, superiores hierárquicos e concorrentes, mas também com subordinados. Além de merecerem tratamento digno por serem profissionais que tentam fazer bem seu trabalho, cada vez mais observamos subordinados se transformando em chefes daqueles que os comandaram.

Superdicas da semana

  • Trate bem os adversários de hoje para que não se transformem em inimigos amanhã
  • O público respeita mais quem trata bem os adversários
  • Trate bem não só pares e superiores hierárquicos, mas também os subordinados
  • Não use palavras agressivas hoje das quais possa se arrepender depois

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, e "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. Leia também “A elegância no ar”, biografia de Blota Jr., escrita por Fernando Morgado.

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