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Reinaldo Polito

Mesmo quem ficou mudo e gago por um tempo, como eu, pode falar muito bem

Getty Images/IStock
Imagem: Getty Images/IStock

07/03/2017 04h00

Você sente dificuldade para falar em público? Acha que esse é um dom natural de alguns poucos privilegiados? Imagina que jamais conseguirá diminuir o nervosismo ou o desconforto para conversar com pessoas estranhas ou para se apresentar diante de grupos de ouvintes, na empresa ou nos contatos sociais?

Se você duvida de suas condições para superar esses desafios, posso afirmar com toda a segurança – você está enganado. Ao longo dos últimos 40 anos atuando como professor de oratória nunca encontrei um caso sequer em que a pessoa determinada, aplicada e com boa vontade não tenha atingido seus objetivos.

Quando me apresento em público, ministrando aulas ou proferindo palestras é muito comum me dizerem que a minha facilidade para falar diante das plateias é um dom natural. E complementam afirmando que ou a pessoa nasce assim ou não terá condições de se desenvolver com treinamento.

Pois bem, vou contar a minha história. Talvez sirva de estímulo para que você também tome a decisão de abraçar o objetivo de aprimorar sua comunicação. É um relato que mostra como as dificuldades, por maiores que sejam, podem transformar os desafios em estímulos.

Eu tinha menos de dois anos de idade. A casa onde morávamos em São Paulo, no bairro do Tatuapé, tinha um fogão a gasolina. Para que o cheiro não fosse para a cozinha, o tambor de combustível ficava atrás da parede, dentro do banheiro. Meu pai fazia a limpeza periodicamente, retirando a gasolina suja para lavar o tambor.

Ele fechava a porta do banheiro para que o cheiro não fosse para a casa. Em um desses dias, eu o acompanhei e, sem que ninguém visse, levei um isqueiro Binga e comecei a bater no bidê. O que aconteceu não tem explicação. O isqueiro acendeu, eu me assustei e o joguei no chão, onde estavam as latas de gasolina.

As labaredas subiram imediatamente, com fumaça sufocante para todos os lados. Meu pai, atordoado, tentando me proteger e sem enxergar nada, teve dificuldade para encontrar a fechadura da porta. A demora foi suficiente para que eu queimasse os pés e as pernas em quase sua totalidade.

Passei alguns meses hospitalizado com queimadura de terceiro grau. O trauma foi terrível. Como consequência, perdi a fala e, quando voltei a falar, estava gago.

Meus pais, que já estavam desesperados com minhas queimaduras, também ficaram muito preocupados com aquela gagueira.

Vendo a preocupação dos meus pais, um dos médicos que tratava das minhas queimaduras (não sei o tipo de conhecimento que ele tinha sobre o assunto) sugeriu que me ensinassem algumas poesias e versinhos infantis. Disse que, assim como o cantor que é gago não gagueja quando canta, o ritmo e a cadência da poesia poderiam produzir o mesmo resultado.

Recitar poesia acabou com a gagueira

Como se fosse uma brincadeira, fui recitando as poesias. Não sei se foram esses exercícios que resolveram o problema, mas, surpreendentemente, depois de uns seis meses a gagueira desapareceu. Voltei a falar normalmente sem nenhum tipo de problema. Mesmo assim, gostei do treinamento continuei a recitar os versinhos.

Moramos poucos anos em São Paulo e voltamos para a minha cidade natal, Araraquara. Lá, passei a praticar, no curso primário, o que já havia aprendido a fazer com os exercícios: nas festas comemorativas, por exemplo, eu ia para a frente dos coleguinhas recitar poesias.

A turma aplaudia, as professoras incentivavam e eu, desde muito cedo, tomei gosto pelas apresentações em público.  Ainda criança, ganhei prêmios em concursos de declamação promovidos pelos serviços de alto-falantes, tão comuns naquela época. Eu me inscrevia e recitava as poesias exatamente como aprendera a fazer nos exercícios para tratar da gagueira.

Quando penso o que me levou a gostar tanto de falar em público, a única resposta que encontro é essa história do incêndio, das queimaduras, dos versinhos infantis e das minhas apresentações no curso primário.

As marcas das queimaduras praticamente desapareceram, exceto algumas nos pés, que nunca me incomodaram, mesmo para jogar futebol. Servem para me lembrar de que não devemos nos abater diante das dificuldades, pois até por trás de um infortúnio pode estar a porta que nos levará a caminhos promissores, que nem imaginávamos existir.

Por isso, posso assegurar que se alguém que chegou a ficar mudo, que enfrentou problemas com a gagueira aprendeu a falar em público e fez da arte de falar sua atividade profissional, não será você com todas as condições para aperfeiçoar a oratória que não irá superar esse desafio.
Seja bem-vindo ao aprendizado dessa maravilhosa arte, a arte de falar em público.

Superdicas da semana

  • Nós é que impomos as nossas limitações
  • Não há desafio que não posa ser conquistado com determinação
  • Os melhores oradores tiveram de se dedicar muito a arte de falar
  • Todas as pessoas com boa vontade e aplicadas podem aprender a falar em público

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
Escolha um curso adequado as suas necessidades (link encurtado: http://zip.net/bnrS3m)
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