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Reinaldo Polito

William Waack não foi o único. E não será o último

O jornalista William Waack (à direita) em vídeo em que teria feito comentários racistas -
O jornalista William Waack (à direita) em vídeo em que teria feito comentários racistas

10/11/2017 11h49

Ops, terremoto pelos lados da Globo. Teve de afastar o jornalista William Waack de suas funções por suspeita de atitude racista. Até que a história não seja elucidada, o jornalista será substituído no comando do “Jornal da Globo”, por enquanto, pela Renata Lo Prete, que normalmente o substitui.

No final de 2016, Waack estava nos Estados Unidos para cobrir as eleições presidenciais. Antes de transmitir notícias ao vivo, uma buzina dispara com barulho muito estridente, e ele, com sorriso de censura, sem perceber que já estava sendo gravado, fez comentários, aparentemente, racistas. Um vídeo, não muito audível, mostrando a cena, viralizou agora nas redes sociais.

Waack disse que não se lembra do episódio, mas, mesmo assim, pede desculpas a quem tenha se sentido ultrajado pela situação. Os colegas de profissão, que o conhecem bem, saíram em sua defesa, destacando sua experiência, seu profissionalismo e o respeito que sempre mereceu no meio em que atua. A Globo não cedeu e, por ora, ele fica de gancho.

Rubens Ricupero e a antena parabólica

Bem, a história se repete. Waack não foi o único e, com certeza, não será o último a ter uma conversa pessoal gravada sem perceber. Nos últimos anos, vários exemplos de gravações, intencionais ou não, passaram rasteira em gente de alto coturno. Talvez o caso mais emblemático tenha sido o do ex-ministro Rubens Ricupero.

Enquanto ele aguardava o momento de ser entrevistado, conversava de maneira desguarnecida com o jornalista Carlos Monforte. Nenhum deles se deu conta de que já estavam com o microfone ligado, e toda a conversa foi transmitida por uma antena parabólica. Falou o que não poderia falar em público, e o então presidente Itamar Franco não teve outra alternativa a não ser entregar a ele o bilhete azul. Por mais bem preparado e respeitado que fosse, não houve jeito: perdeu o cargo.

Gravações que abalaram o rumo da história recente do Brasil

Algumas das gravações que abalaram o rumo da história recente do Brasil foram as que filmaram as propinas pagas nos Correios e a de um importante assessor do governo acertando comissões indevidas no saguão de um aeroporto. Essas ocorrências foram o estopim para a abertura do julgamento do mensalão, que botou empresários e políticos atrás das grades.

Em tempos mais próximos, outro tsunami caiu sobre o país. O ex-senador Delcídio do Amaral vacilou e caiu numa arapuca armada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Nessa conversa, Bernardo combinava com o senador uma forma de viabilizar a fuga do pai.

Delcídio perdeu as funções no Senado e foi preso. Até hoje, vive às voltas com a Justiça, negociando colaboração premiada, uma situação inimaginável por alguém que chegou a ser um dos políticos mais influentes do país. É quase certo que esse acontecimento prejudique definitivamente sua carreira política.

Tudo isso sem falar no mais importante de todos os casos de gravação, a do presidente Michel Temer, que teve de se defender com unhas e dentes para não perder o cargo. Se não fosse sua habilidade política, já estaria fora do Palácio do Planalto. As acusações que recebeu fizeram estrago tão grande que mexeu com os destinos da história brasileira.

Cuidado com os julgamentos precipitados

Não é a primeira vez que falo aqui sobre as consequências de gravações casuais ou intencionais que prejudicam a vida de muita gente graúda. Todas as vezes que toco no assunto, alguém comenta que “foi bem-feito”, que “esse pessoal tem que se ferrar mesmo”, e outras opiniões mais ou menos do mesmo calibre. Também acho que essa turma que ultrapassa a linha amarela da lei ou do respeito à dignidade humana deve ser penalizada.

Ocorre, entretanto, que há assuntos que são sigilosos, pois tratam de segredos corporativos, de planos pessoais que não podem ser revelados. Por isso, não custa nada alertar que os microfones estão espalhados por todos os cantos, e um comentário indevido agora poderá ser usado daqui a muitos anos. Pior, como se estivesse acontecendo no momento em que for mostrado.

Como esse caso do William Waack. Faz quase um ano que a gravação foi feita, mas só agora foi veiculada. E dá a impressão de que o fato acaba de acontecer. Embora muita gente já o tenha condenado, independentemente dos desdobramentos do episódio, a verdade é que precisamos tomar cuidado com os julgamentos precipitados, pois não há nada mais terrível para a reputação de uma pessoa, um de seus bens mais preciosos, que sofrer uma injustiça.

Por que trato desse assunto? Por um motivo simples: a comunicação não está apenas no que falamos ou ouvimos, mas também e, principalmente às vezes, no que deixamos de falar ou evitarmos ouvir.

Superdicas da semana

  • Cuidado, pois os microfones estão espalhados por todos os cantos
  • Se tiver dúvida sobre a privacidade de um local, prefira não falar
  • Nem tudo o que uma pessoa fala em sua intimidade é exatamente o que ela pensa
  • Sêneca dizia: seu amigo tem um amigo, e o amigo do seu amigo tem outro amigo, portanto seja discreto

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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