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Reinaldo Polito

Simpatia é chave para ganhar emprego e até eleição; saiba cativar o público

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Imagem: iStock

13/11/2018 04h00

É difícil saber exatamente o que leva um político a ganhar ou perder as eleições. Sem dúvida, a plataforma política, os projetos sociais, os planos econômicos, as realizações pretéritas, entre outros pontos, envolvem e sensibilizam os eleitores. Há um item, entretanto, que tem influência fundamental no processo político: a simpatia do candidato.

E não é de hoje. Eu me lembro de quando era garotinho e andava pelas ruas de Araraquara, lá no interior de São Paulo, segurando a mão de meu pai. Quando cruzávamos com alguém sorridente, ele me dizia: esse deve ser político. Pois, segundo ele, político é que sorri para estranho tentando conquistar votos.

Essa percepção não mudou. Você poderia dizer: "ah, mas o Bolsonaro venceu as eleições, e de simpatia não tem nada. Pelo contrário, vive sempre com a fisionomia amarrada". Isso é verdade, mas, talvez, o resultado pudesse ter sido outro, ainda mais favorável, se ele fosse mais simpático. Ou, de outro lado, o Haddad poderia ter conquistado menos votos se não fosse tão simpático.

Independentemente de ideologias --e quando se toca em nome de políticos, a sensibilidade fica aflorada--, o que nos interessa aqui é comunicação, basta lembrar que, depois de ter sido derrotado nas eleições à Prefeitura de São Paulo, Haddad foi tão sedutor que fez uma transição dos sonhos para a democracia. Passou o bastão para Doria com toda a dignidade.

Tirando Lula, que sempre foi um conquistador das massas, os que o sucederam, infelizmente, não ganham nenhum prêmio de simpatia. Dilma estava sempre enfezada. Temer, por mais que tenha feito tentativas, não consegue botar simpatia no semblante. Tanto que, durante um tempo, precisou pedir à mulher que abrisse caminho para que ele pudesse passar conquistando mais receptividade. Bolsonaro é esse mal-humorado que já conhecemos.

Simpatia também afeta a vida nas empresas

Estou mencionando os políticos porque acabamos de sair de uma campanha para as eleições presidenciais, e tudo ainda está fresquinho em nossa memória. O conceito, entretanto, se expande para todas as áreas da sociedade, inclusive a vida corporativa. Nos processos de negociação, em determinadas circunstâncias, vale mais um sorriso sincero que argumentos técnicos.

Quantas vezes compramos um produto ou aceitamos as cláusulas de um contrato por causa da simpatia do interlocutor! São incontáveis as situações em que os subordinados abraçam uma causa, não apenas pelo que ela representa em si, mas, principalmente, pela atitude simpática do líder.

Estamos o tempo todo tentando convencer ou persuadir as pessoas para que nos contratem. Comprem o nosso produto ou serviço. Abracem a nossa causa. Aceitem as nossas propostas. Sejam receptivas aos projetos que apresentamos. Que ingredientes são necessários para que obtenhamos êxito nessas empreitadas?

É evidente que o processo de persuasão ocorre a partir de fatores que se somam e se intercalam, no sentido de afastar as resistências das pessoas e levá-las a agir de acordo com a vontade do orador. Além da argumentação poderosa e da relevância da causa, a simpatia de quem fala pode fazer toda a diferença entre o sucesso e a derrota dessa causa. Simpatia dá dinheiro!

Gente antipática tem muita dificuldade para conquistar as pessoas. P. Wright, no estudo intitulado "Mudança de atitude sob influência interpessoal direta e indireta", afirma: "Assegure-se, em primeiro lugar, de que a pessoa a quem tenta convencer simpatiza com você, ou seus esforços serão inúteis".

Comece pelo sorriso

Um dos maiores comunicadores que tive a felicidade de conhecer foi o padre Vasconcelos. Sobre sua capacidade oratória, acrescente-se o fato de ter sido dedicado estudioso da arte de falar em público. Ele disse, em uma de suas palestras, que nada pode ser mais convincente que um sorriso sincero.

Afirmou que, quando o orador abre um sorriso simpático e verdadeiro, ele abre também um campo magnético. Complementou afirmando que esse sorriso irresistível envolve os ouvintes de maneira tão intensa que as pessoas passam a aceitar com mais facilidade a mensagem do orador.

Temos de ter em conta que, quando estamos na frente do público, o semblante não nos pertence, mas sim aos ouvintes. Sempre que a circunstância permitir, a fisionomia deve ser simpática, arejada e envolvente. Só o fato de o orador saber que deverá agir dessa maneira já constitui um passo importante para se comportar de forma adequada diante da plateia.

A simpatia pode ser desenvolvida. Basta apenas prestar atenção no outro e treinar um pouquinho. São pequenos gestos nesse processo. Já pela manhã, poderá sorrir para cumprimentar o porteiro do prédio, a recepcionista da empresa, o colega de departamento. Quem não está acostumado talvez até sinta dificuldade no primeiro momento. Com o tempo, passa a agir assim com naturalidade.

As primeiras palavras devem ser amáveis

Ao chegar diante do público, cumprimente os ouvintes da mesma maneira como costuma cumprimentar os amigos mais queridos. Dessa forma transformará a plateia num grupo de amigos. Elas perceberão essa proximidade e passarão a torcer pelo seu sucesso já no início de sua apresentação.

Não se trata apenas das palavras que usará nesse cumprimento, mas, sim, e principalmente, do tom de voz. Mesmo que seja em circunstância formal, diante de pessoas estranhas, o cumprimento deverá ser sempre simpático, amável e envolvente. Esse é, portanto, depois do sorriso, o primeiro passo no processo de conquista dos ouvintes.

Elogie os ouvintes com sinceridade

O elogio é um dos recursos mais eficientes para conquistar a torcida e a benevolência dos ouvintes, desde que sincero.

De que adianta dizer às pessoas que elas são maravilhosas, se não sentirem autenticidade em suas palavras? Com um pouco de atenção e cuidado, será simples identificar as qualidades a serem destacadas no público.

Reconheça o esforço dos ouvintes

Agradecer o esforço que as pessoas fizeram para estar naquele local também é uma boa forma de conquistar a simpatia dos ouvintes. Ao dizer que agradece terem deixado seus afazeres para estar ali, fará com que se sintam valorizados, bem recepcionados, e ouvirão suas palavras com mais boa vontade.

Elogie uma pessoa que seja admirada pelo público

Se você demonstrar, de maneira sincera, que tem admiração por alguém que tenha representatividade naquele grupo, fará com que os ouvintes percebam essa identidade com eles e ficarão mais receptivos às suas palavras.

Esse recurso poderá ser usado ainda que a pessoa mencionada não esteja presente, ou até que não esteja mais viva. O importante é que seja admirada pela plateia. De preferência, devem ser incluídas nesse elogio as pessoas que dão orgulho àquele público. É comum políticos de praticamente todos os partidos fazerem referências elogiosas a Ulysses Guimarães, por exemplo.

Agradeça ao convite

Se você foi convidado a falar, agradeça ao convite tão honroso para estar ali. Se você convidou e as pessoas compareceram ao evento, agradeça a presença delas para tratar de um assunto tão relevante. Ainda que não tenha convidado, ou não tenha sido convidado, agradeça a oportunidade de estar naquele encontro.

Ao agradecer você demonstrará simpatia e, ao mesmo tempo, reconhecerá a importância dos ouvintes. São atitudes simples, mas muito úteis nesse processo de conquista do público. Praticamente todas as apresentações podem ser iniciadas com agradecimento.

Use suas próprias características pessoais

Brinque com suas próprias características pessoais. Não se leve muito a sério. Sempre que a oportunidade permitir, faça referências bem-humoradas quanto às suas características físicas, inabilidades, defeitos ou gafes cometidas. Esse comportamento na medida certa pode conquistar a torcida dos ouvintes.

Lembro-me de uma palestra proferida pelo professor Silveira Bueno, um dos mais destacados filólogos da nossa história. Ele falava sobre as características de Rui Barbosa como orador e, ao mencionar sua estatura, disse: "Ele era um tipo franzino. O que não é nenhum desdouro, porque também sou pequenino". Foi suficiente para provocar risos na plateia e ter o público ao seu lado.

São algumas formas que temos à disposição para conquistar a simpatia dos ouvintes já no princípio da apresentação e, dessa forma, fazer com que aceitem com mais facilidade a mensagem que irão ouvir.

Superdicas da semana:

  • Pratique a simpatia. Não custa nada e dá ótimos resultados
  • Lembre-se sempre de que ser simpático pode gerar resultados financeiros
  • Aprenda a sorrir. Com sinceridade
  • Elogie de maneira honesta os ouvintes
  • Faça "autogozação". Brinque com suas características físicas e com as gafes que comete

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; “Vença o medo de falar em público”, “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", “Superdicas para falar bem”, “As melhores decisões não seguem a maioria” e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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