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Reinaldo Polito

Curso superior é mesmo importante para ingressar no mercado de trabalho?

Brian Snyder/Reuters
Imagem: Brian Snyder/Reuters

11/12/2018 11h48

Há algumas décadas comecei a me surpreender com a informação de que pessoas importantes, bem-sucedidas e famosas não possuíam curso superior. No início, elas não divulgavam abertamente essa falta de escolaridade. Como alunos particulares, entretanto, tentando explicar certo desconforto para falar em público, confidenciavam que não haviam concluído e, em alguns casos, nem frequentado uma faculdade.

Essa condição, todavia, não se confirmou como motivo para explicar a inibição que esses alunos sentiam diante da plateia. As causas eram outras, muito diferentes das que imaginavam. O medo que sentiam para falar em público era explicado, geralmente, por motivos mais específicos.

Entre eles, a falta de um pensamento lógico e concatenado, a inexperiência no uso da palavra em público e, principalmente, o desconhecimento que tinham de suas características positivas, ou potencialmente prontas para se tornarem positivas. Nada a ver, portanto, com o fato de não terem cursado uma faculdade.

A fila dos sem diploma é longa. Nesse rol desfilaram pelas minhas aulas presidentes de instituições como a bolsa de valores, Febraban, bancos, grandes construtoras e empresas de tecnologia. Eu me ative ao cargo de presidente só para mencionar aqueles que atingiram as posições profissionais mais elevadas. Se considerarmos a turma do andar de baixo, aí perdemos a conta.

Com o tempo, esses mesmos profissionais se sentiram mais à vontade para revelar abertamente essa falta de formação acadêmica. Descobriram que estavam muito bem acompanhados e que, em alguns casos, essa condição se transformava até numa espécie de marca de competência pessoal. Afinal, pensavam, só chegaram onde chegaram por serem inteligentes, intuitivos e empreendedores, e não porque tiveram de frequentar uma escola.

Por que esconder o fato de não terem concluído um curso superior, se alguns que brilharam na ponta da pirâmide das maiores empresas mundiais estavam na mesma condição? Entre eles, Steve Jobs, Mark Zuckerberg, Julian Assange, Bill Gates, Michael Dell e mais uma infinidade de profissionais do mesmo naipe.

Sem mencionar alguns que perambulam pela nossa cozinha, como Silvio Santos, o falecido Samuel Klein e (hoje fora de moda) Eike Batista. Na política, então, como não há teste de avaliação escolar, os exemplos são ainda mais numerosos, não só na Câmara dos Deputados, no Senado, como também na Presidência da República.

Cursar uma faculdade, porém, continua sendo requisito importante para o sucesso profissional. Estudos recentes mostram que os profissionais com formação escolar superior chegam a ganhar salários duas, três, até cinco vezes mais altos aos daqueles que não estudaram. Para ingressar em algumas empresas, não basta apenas ter curso superior; elas exigem também que seus profissionais tenham frequentado pós-graduação, de preferência no exterior.

Tudo isso é verdade. Só que de alguns anos para cá, algumas empresas, especialmente na área de tecnologia, não estão olhando com tanto interesse para o fato de os profissionais possuírem ou não curso superior. Para citar algumas das mais importantes no mundo: Apple, Google e IBM.

Os recrutadores dessas organizações não desconsideram a qualificação dos candidatos, mas se o pretendente ao cargo provar que possui competência específica de excelência para exercer a função, o diploma universitário poderá ser dispensado. Um dado surpreendente mostra essa realidade: na IBM, cerca de 15% das pessoas empregadas nos Estados Unidos não possuem curso universitário.

Essas empresas julgam que se o profissional desenvolveu em outras organizações habilidades de qualidade para ocupar o cargo, ou se conseguiu com empenho pessoal, em cursos rápidos, ou até autodidata, se preparar para dar conta com competência da função, bem-vindo ao clube. Esse fenômeno, todavia, parece estar mais restrito às empresas de tecnologia, devido principalmente à escassez de mão de obra.

Na verdade, boa parte das faculdades no Brasil forma mal os alunos. Muitos estudantes deixam os bancos escolares sem a mínima condição de exercer as funções para as quais deveriam ter sido preparados. Sem contar que em determinadas carreiras, mesmo que tenham aprendido, o preparo que tiveram no curso frequentado é suficiente apenas para um ano de atividade. Depois desse prazo precisam adquirir novos conhecimentos.

Carlos Alberto Júlio, CEO da Digital House, empresa especializada no preparo de profissionais para a área de tecnologia, disse que a quase totalidade dos alunos que frequentam seus cursos termina o treinamento já empregados, independentemente de terem ou não curso superior. São preparados para exercer imediatamente funções na área da tecnologia como marketing digital, gestão de negócios digitais, desenvolvimento de projetos mobile em Android, análise estratégica de dados etc.

E estamos falando de milhares de alunos formados anualmente nessa escola. Carlos Júlio revela que esse número, embora seja expressivo, é insuficiente para atender à demanda do mercado. Sem mencionar o fato de que estamos apenas engatinhando nesse mundo digital. Vai faltar muita mão de obra nessa área.

Um de meus alunos recentes, proprietário de uma das maiores empresas na criação de games do mundo, me disse que, por não ter equipes suficientes de profissionais para desenvolver seus projetos, deixa de ganhar em poucos meses milhões de dólares. Comentou com seriedade: "Imagina se estou preocupado se o profissional tem ou não curso superior. Eu quero gente que consiga dar conta do recado".

Sofia Esteves, fundadora da DMRH, que tem sob seu guarda-chuva a Cia de Talentos, uma das mais importantes empresas de consultoria de Recursos Humanos da América Latina, diz que o recrutamento de profissionais sem curso superior, embora tenha aumentado nos últimos anos, ainda é incipiente.

Afirma que entram nesse pacote os profissionais que exercem a função de programadores e desenvolvedores. Ressalta que há ainda certa resistência por parte dos profissionais mais tradicionais em aceitar pessoas sem curso superior, especialmente porque não se acostumaram ainda com a novidade. Alerta que, pela falta de profissionais na área de tecnologia, essa tendência irá se ampliar em futuro próximo.

Ruy Leal, Superintendente da ONG Via de Acesso, considerado o maior especialista no treinamento e contratação de jovens para o mercado de trabalho e autor de diversos livros sobre o tema, concorda que o fenômeno está mais restrito à área de tecnologia, pois são funções que permitem ao jovem aprender em cursos rápidos e aprimorar seu conhecimento enquanto desenvolve suas atividades.

Em praticamente todos esses casos citados, os profissionais são responsáveis não apenas pela criação e desenvolvimento de projetos, mas também pela exposição de seus resultados. Precisam sair da frente do teclado dos computadores e, diante de públicos exigentes, já que, quase sempre, há muito dinheiro envolvido, falar com desenvoltura sobre suas realizações.

Devido ao aparecimento vertiginoso de novas tecnologias, da mudança sem precedente na cultura, nos valores e nas necessidades de um mundo que parte para um futuro com perfis inimagináveis, a comunicação verbal se apresenta como o grande vetor que permeia esse momento tão desafiador.

Como essa habilidade de falar em público, salvo raríssimas exceções, também não se desenvolve em cursos universitários, e pode ser aprimorada rapidamente, bastará um pouco mais de esforço e boa vontade para que esses profissionais se tornem comunicativos e sejam ainda mais completos e eficientes.

Superdicas da semana:

  • Se você tiver curso superior, suas chances de ganhar mais se ampliam
  • De nada adiantará você ter curso superior, se não tiver competência em alguma área
  • Se você não tiver curso superior, procure se desenvolver em alguma área ligada à tecnologia
  • Mesmo que você tenha feito um curso superior, procure dominar alguma área ligada à tecnologia
  • As melhores oportunidades profissionais estarão na área da tecnologia

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante; "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", ?Oratória para advogados?, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva; e ?Oratória para líderes religiosos?, publicado pela Editora Planeta.

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