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Reinaldo Polito

Depois de "kafta", "imprecionante": o que novo erro do ministro nos ensina

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante evento - Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante evento Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

14/01/2020 04h00

Os erros de uns são lições para outros; estes acertam porque aqueles erraram.
Marquês de Maricá

O Ministro da Educação, Abraham Weintraub, é democrático. Ele não se contenta em cometer erros apenas quando fala, estende também esses deslizes ao escrever. No mês de maio do ano passado, quando falava na reunião do Senado com os membros da Comissão de Educação, o ministro deu uma bela escorregadela: em vez de dizer que o autor era Kafka, disse Kafta. Naquela oportunidade, até enviei uma carta hipotética dando uns conselhos a Sua Excelência.

Agora, o equívoco foi na escrita. Em mensagem pelo Twitter, para dar uma resposta ao deputado Eduardo Bolsonaro, Weintraub foi autor da seguinte pérola: escreveu "impressionante" com a letra "c". Vale a pena ler o texto todo, já que não é longo:

Caro @BolsonaroSP, agradeço seu apoio. Mais imprecionante (sic): Não havia a área de pesquisa em Segurança Pública. Agora, pesquisadores em mestrados, doutorados e pós doutorados poderão receber bolsas para pesquisar temas, como mencionado por ti, que gerem redução da criminalidade.
Abraham Weintraub, ministro da Educação

Um espanto!

E, embora o destaque tenha sido dado para esse deslize "imprecionante", outros equívocos poderiam ser apontados nessas poucas linhas da sua redação. Por exemplo, não ter colocado hífen em pós-doutorados; ter iniciado com letra maiúscula depois de dois pontos; misturado o pronome ti (2ª pessoa do singular) com o pronome seu (3ª pessoa do singular). Ou seja, um erro para cada linha. Seria reprovado na redação do Enem.

Talvez alertado a respeito da gravidade dos erros cometidos, o ministro apagou a mensagem, mas a internet não perdoa, já que o texto havia sido printado, e se alastrou como se fosse uma queimada na Austrália. Quando uma personalidade da importância de um ministro comete um erro, imediatamente alguém irá copiá-lo, pois as pessoas sabem que, normalmente, será apagado em seguida. Não tem jeito: na internet, as lambanças ficam eternizadas.

Podemos aprender com o erro do ministro

Por que estou insistindo nesse tema que já foi divulgado à exaustão pela imprensa? Pelo fato de que esses erros podem nos ensinar muito. Quando escrevi o livro "Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas", dediquei um capítulo para tratar dos cuidados que devemos ter com as mensagens que enviamos pelas redes sociais. No final do capítulo, comento o seguinte:

"Por último, o conselho mais importante: reveja o texto inteiro mais de uma vez quando for enviar mensagens pelas redes sociais. Parece óbvio, mas a maior parte das pessoas não relê, pior, nem lê o que escreve. Erros gramaticais ou de digitação passam a ideia de negligência e até de pouca preparação. Do mesmo modo, não confie cegamente nos corretores ortográficos eletrônicos. Eles às vezes induzem ao erro".

Está difícil defender o ministro

Se eu tentar defender o ministro aqui, sei que vou apanhar muito de alguns leitores, de todos os perfis, mas, especialmente, daqueles que são opositores ao governo. Sei disso porque já aconteceu em casa e com os amigos mais próximos. Em todo caso, vamos lá.

O ministro Weintraub não deve ser pessoa despreparada. Opa, já começaram os ataques de alguns leitores. Tenho cá comigo que ele é mais negligente e descompromissado com o jeito de falar e de escrever que propriamente inculto. Vixe, os tomates agora passaram zunindo.

Pessoas em posição de destaque como a do ministro precisam ter cuidado redobrado com o que falam ou escrevem. Primeiro, mesmo os corretores ortográficos não sendo muito confiáveis, pois, como vimos, podem induzir a erros, são recursos que nos ajudam bastante. Alguns equívocos, como esse do ministro, por exemplo, seriam evitados. Depois, precisariam desenvolver o hábito de ler duas ou três vezes o que escrevem antes de enviar a mensagem.

E, indo mais longe no caso do ministro, ele deveria escalar um assessor para corrigir seus textos, não só para evitar possíveis erros, mas também para confirmar se a mensagem é adequada para aquele momento, ou se não possui algum vício que poderia comprometer o entendimento do que pretende informar. Não custa nada, absolutamente nada. Só precisa ter um pouco mais de cuidado. Ah, lá no MEC, profissionais para dar essa ajuda existem aos borbotões.

Os erros eram evitados por outros olhares

Houve época em que profissionais que ocupavam posições importantes na hierarquia da empresa, ou se destacavam como liberais, principalmente na área do direito, da engenharia ou da medicina, tinham secretárias para redigir ou, pelo menos, corrigir seus textos. Hoje, com as mídias sociais, salvo exceções, essa mordomia caiu em desuso, e cada um é responsável por escrever e corrigir os próprios textos.

Se alguém comete um erro, por mais insignificante que possa parecer, corre o risco de comprometer sua carreira. Como é que nos sentiríamos confortáveis em contratar um advogado, por exemplo, que escrevesse "imprecionante"? Não é apenas o erro em si, mas, sim, a indicação de que, se cometeu um erro tão primário, houve, com certeza, muitas lacunas na sua formação.

Portanto, qualquer que seja o tipo de atividade em que você esteja atuando, seja cauteloso. Antes de enviar uma mensagem, mesmo que seja para uma pessoa do seu íntimo relacionamento, leia-a mais de uma vez. Lembre-se de que toda sua preparação intelectual, e até mesmo sua história de vida, talvez esteja sendo avaliada pela forma como escreve.

Ministro, este já é pelo menos o segundo deslize grave na sua maneira de se comunicar. Valeria a pena ser mais cuidadoso para que os projetos da sua pasta não sejam ofuscados por problemas de comunicação. Muitas de suas iniciativas têm sido enaltecidas e valorizadas. É isso que se espera da atuação de um ministro de uma área tão relevante quanto a sua.

Superdicas da semana

  • Sua reputação dependerá também da forma como fala ou escreve
  • Habitue-se a ler mais de uma vez os textos que escreve antes de enviá-los
  • Se a mensagem for muito importante, leia-a muitas vezes
  • Mesmo que seja uma mensagem simples, leia-a e releia-a antes de enviar

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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