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Reinaldo Polito

Roberto Jefferson é corajoso, ingênuo, irresponsável ou estrategista?

Roberto Jefferson  - Reprodução/YouTube
Roberto Jefferson Imagem: Reprodução/YouTube

Colunista do UOL

17/08/2021 04h00

Palavras houve já de sobra, dai-me, enfim, feitos: vamos à obra!
Goethe

Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, foi preso na última sexta-feira, dia 13, por ordem do ministro Alexandre de Moraes. O motivo alegado para a sua privação de liberdade foram as ameaças e ataques aos ministros do Supremo e às instituições democráticas. As opiniões sobre essas justificativas não são unânimes, pois há muita gente que discorda.

Corajoso

Quando Roberto Jefferson ataca os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), praticamente ninguém fica indiferente. A maioria diz que a sua coragem é admirável, que ele fala o que muitos brasileiros gostariam de expressar, mas não têm peito para isso. Pensam, ficam indignados, revoltados, mas não arriscam pôr para fora os seus sentimentos.

Ingênuo

Outros o consideram ingênuo. Afirmam que mesmo tendo cumprido seis mandatos como deputado federal, mudado a história do Brasil com as denúncias que fez contra o mensalão, permanecido encarcerado por ser condenado neste mesmo processo, parece que não aprendeu a lição. Não se conformam como não pensa antes de ligar sua metralhadora verbal para todos os lados.

Irresponsável

Há quem diga também que seus comentários são irresponsáveis, pois acabam por incitar a população contra as instituições. Em quase todas as suas entrevistas ele apresenta como solução para os problemas políticos do Brasil a troca dos ministros da Suprema Corte. Ressalva a todo o instante, entretanto, que não deseja que o Supremo seja extinto, mas sim que os atuais ministros, na maioria advogados, sejam substituídos por magistrados de carreira.

Estrategista

Não faltam, entretanto, quem o considere um grande estrategista. Essas pessoas têm certeza de que todas as suas ações não são improvisadas, executadas ao acaso, mas sim criteriosamente planejadas, com objetivo definido, visando fins determinados. Os que advogam a correção da sua conduta estão convictos de que até ser preso estava em seus planos.

Pelo fato de ter sido seu professor de oratória, e, como ele mesmo divulga, ser consultado vez ou outra para discutir suas apresentações, me questionam constantemente sobre o seu comportamento diante do microfone. Eu respondo que posso alertar sobre um limite ou outro de seus discursos, mas ninguém o demove dos seus intentos.

A sua filha, Cristiane Brasil, também foi minha aluna. Durante as aulas eu comentava com ela a respeito do rumo que o pai dava aos seus discursos. Ela dizia sempre resignada: você já o conhece muito bem. Esse não vai mudar. E, de fato, realmente não mudava a mensagem, mas burilava com disciplina a forma como a transmitia.

O receio de expressar opiniões

Depois que o STF efetuou algumas prisões que foram amplamente noticiadas, as pessoas passaram a ficar com receio de emitir opiniões. Até alguns comentaristas famosos, depois de falar, em tom de brincadeira comentam: "espero que o STF não me mande prender por causa dessas minhas opiniões. E complementam: atenção senhores ministros, são apenas as minhas opiniões, e opinião é permitido pela nossa Constituição, né?

Passou a correr um frio na espinha de alguns analistas políticos só pelo fato de mencionarem o nome de um ou outro ministro. Com as prisões do jornalista Oswaldo Eustáquio, que afirma ter sido torturado na cadeia, e do deputado Daniel Silveira, que julgaram ser inconstitucionais e até arbitrárias, concluíram que ninguém estava a salvo por analisar o erro ou acerto desses magistrados. Muitos se calaram sobre esse tema espinhoso.

Virou um símbolo

Todas as vezes em que perguntei a Roberto Jefferson se ele não tinha medo de ser preso por causa de suas entrevistas bombásticas, sua resposta era uma só: Polito, os ministros são como eu. São de carne e osso, corre sangue em suas veias e não tenho medo de assombração. Eu prestava atenção em suas palavras e não percebia um músculo se mover por motivo de preocupação. Nunca notei qualquer insegurança em suas manifestações.

Enquanto escrevo este texto os seus advogados estão entrando com pedido de prisão domiciliar, alegando problemas de saúde. Roberto teve câncer quatro vezes. Praticamente não tem estômago. Os alimentos entram pela boca e saem como se fosse um passarinho se alimentando. Toma cerca de 20 comprimidos por dia. Nessas condições, seria uma crueldade mantê-lo na prisão. Para sobreviver ele precisa de cuidados, medicamentos e alimentação especial. A cadeia não tem estrutura para proporcionar esse apoio.

Independentemente de quanto tempo e em que condições ele fique preso, uma previsão pode ser feita sem receio de errar. O STF fez de Roberto Jefferson uma espécie de símbolo combativo para boa parte da sociedade brasileira.

Tendo em vista a projeção conquistada e sua excepcional capacidade de comunicação, pois é, sem dúvida, o melhor orador da nossa política atual, certamente se elegerá a qualquer cargo legislativo que venha a concorrer. Por isso, não duvide não se no futuro ele decidir erguer uma estátua em homenagem a Alexandre de Moraes.

Superdicas da semana

  • Cada um pode dizer o que quiser, desde que assuma a responsabilidade pelo que diz
  • Ninguém deveria ficar calado por medo de externar suas opiniões
  • A Constituição garante a liberdade de expressão
  • Quem ofende um poderoso sem condições de se defender é ingênuo ou irresponsável

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como Falar Corretamente e sem Inibições", "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Saiba dizer não sem magoar os outros" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela editora Planeta.