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Reinaldo Polito

Bolsonaro precisaria arrasar na ONU para superar seu desempenho de 2019

O presidente Jair Bolsonaro na tribuna da ONU, em Nova York - Johannes Eisele/AFP
O presidente Jair Bolsonaro na tribuna da ONU, em Nova York Imagem: Johannes Eisele/AFP

Colunista do UOL

21/09/2021 04h00

Disse um de nossos estadistas: a maldição deste país são as pessoas eloquentes.
Emerson

Durante toda a semana se especulou sobre o conteúdo do discurso que Bolsonaro deveria proferir na abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), nesta terça, 21. Esta é a sua terceira participação no evento.

Com todas as críticas feitas por alguns a esse encontro, a verdade é que se trata de uma das mais importantes oportunidades de relacionamento e de defesa das nossas causas. Além dos discursos feitos pelos chefes de estado, há muitos encontros paralelos, que até são mais importantes em determinados casos.

Os governistas

Os bolsonaristas afirmam que o presidente deveria defender a posição do Brasil e revelar que as críticas feitas dentro e fora do país são infundadas. Nascem internamente do interesse político e ideológico, já que estamos com praticamente os dois pés nas próximas eleições.

Com relação ao exterior, acusam os países de fazerem críticas levianas e sem fundamento às questões do agronegócio, à preservação das florestas e às ações em defesa dos povos indígenas.

De acordo com os adeptos do presidente, o chefe do executivo precisaria deixar claro que os críticos têm interesse em nossas riquezas naturais, e temem a concorrência com a nossa excepcional produtividade.

A oposição

Já os acusadores do governo dedicam o tempo censurando a conduta de Bolsonaro sobre a vacinação e a pouca atenção dada ao meio ambiente, ainda que tenha aderido ao acordo de Paris. Não deixam de mencionar também o descuido com os direitos humanos e a falta de responsabilidade com a segurança, ao flexibilizar o controle das armas e munições.

Se analisarmos bem, os temas são mais ou menos recorrentes, não muito distintos daqueles tratados nas assembleias anteriores. Na primeira assembleia da qual participou, Bolsonaro enfrentou um grande desafio. Precisou responder a alguns ataques feitos, especialmente pelo presidente francês Macron.

As opiniões não mudam

No final dos encontros foi possível observar duas avaliações muito diferentes por parte daqueles que acompanharam o discurso de Bolsonaro. Os críticos vociferaram indignados com o pronunciamento do presidente, chegando até dizer que foi uma participação vergonhosa.

Por outro lado, os seguidores do governo comemoraram como se o discurso tivesse lavado a alma do povo brasileiro e calado a boca dos acusadores internacionais. Havia argumentos para todos os lados.

Ou seja, todo mundo saiu com a impressão de ter vencido a batalha. Ainda hoje, passado um ano da última edição, e dois da penúltima, as opiniões continuam conflitantes.

A torcida pelo bom resultado

Como o meu objetivo é o de analisar principalmente a qualidade da comunicação do presidente nesses eventos, torço para que ele tenha sempre bom desempenho. Afinal, é a imagem do Brasil que está sendo avaliada e o futuro do nosso país que está em jogo.

Eu me lembro que depois de ter criticado muito a atuação do presidente diante do microfone, tive de elogiá-lo quando discursou pela primeira vez na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2019. Naquela oportunidade cobriu todos os temas relevantes internos e externos com a profundidade que o tempo permitia.

Até aquela data Bolsonaro ficava muito desconfortável diante do teleprompter. Mantinha o semblante fechado, truncava as frases, não sabia se olhava para o texto ou para a plateia, ficava em dúvida se soltava os braços para gesticular ou se segurava o pódio.

Além desses problemas que prejudicavam o resultado de suas apresentações, deixava transparecer sua insegurança também ao trocar o apoio do corpo com frequência, ora sobre a perna esquerda, ora sobre a direita.

Seu desempenho era tão ruim que ao fazer seu primeiro pronunciamento em rede nacional pela televisão, eu comentei que ele teria ganhado mais se não tivesse feito. Ou seja, gastou dinheiro, perdeu tempo e conseguiu um resultado pior do que se tivesse ficado quieto.

Fez sua melhor apresentação

No dia em que falou pela primeira vez na Assembleia Geral da ONU, entretanto, ele se transformou. Foi a sua melhor apresentação. O seu desempenho na tribuna chamou a atenção de forma muito positiva. Usou a emoção na medida certa, sendo firme, sem demonstrar agressividade.

Fez a leitura com o teleprompter sem truncar as frases e mantendo boa comunicação visual com a plateia. Manteve o semblante arejado e bem descontraído. Até alguns que só criticavam sua comunicação se surpreenderam com o resultado.

Após o seu discurso de hoje, mais uma vez, teremos as opiniões divididas. Os oposicionistas vão dizer que de novo ele nos envergonhou com sua apresentação medíocre, enquanto os apoiadores do governo vão comemorar mais uma vitória. Essa divisão de opiniões está cada vez mais acirrada. Dificilmente alguém consegue fazer uma análise isenta, se olhar com as lentes contaminadas pela ideologia.

Superdicas da semana

  • Quando olhamos com as lentes da ideologia não mudamos de opinião
  • Com observação e bom treinamento todos podemos melhorar
  • Um discurso pode mudar a história
  • Discursos importantes exigem muitas mãos em sua elaboração

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como Falar Corretamente e sem Inibições", "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Saiba dizer não sem magoar os outros" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela editora Planeta.