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Reinaldo Polito

De 513 deputados federais, só 27 se elegeram com os próprios votos

Plenário da Câmara dos Deputados - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Plenário da Câmara dos Deputados Imagem: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Colunista do UOL

09/11/2021 04h00

Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.
Churchill

Não aguento mais ouvir essa história de que política não é para amadores. Só que cada vez mais me convenço de que a frase é perfeita desde sempre. Como disse Aristóteles: "Zoom Politikon". Sim, o homem é um animal político. Eu me lembro de uma palestra excepcional ministrada por Franco Montoro, quando ele ainda representava o Estado de São Paulo como senador. O líder emedebista, que mais tarde ajudaria a fundar o PSDB, falou sobre um tema que lhe era muito caro, "Estudos de filosofia do Direito".

Ele abriu a apresentação com a frase do grande pensador grego, fez todas as analogias políticas com ela e encerrou com o mesmo pensamento. E ainda aconselhou: espero que nunca se esqueçam dessa expressão - "Zoom Politikon", independentemente de atuarem ou não no mundo político.

Um conceito sempre atual

O que Aristóteles disse há quatro séculos a. C. pode ser aplicado nos dias de hoje como se o termo filosófico tivesse acabado de ser elaborado. Entra dia, sai dia, e as pessoas estão cada vez mais envolvidas com a política, pois tudo o que diz respeito à nossa existência está direta ou indiretamente relacionado com as decisões políticas. A maioria, infelizmente, nem se lembra em quem votou nas últimas eleições. Como reclamar dos políticos se não cuida nem do próprio voto?!

Montoro alertava que o homem é um ser gregário, que precisa da convivência com seus semelhantes para que possa se completar. É a partir dessa análise que afirma, dentro do conceito aristotélico, que o homem é um ser político. Esclarece ainda que apenas aqueles que participam efetivamente da comunidade, pensando e pondo em prática as leis, têm o direito à cidadania.

As regras precisam mudar

Se pensarmos em nossa realidade, a partir do nosso voto, exercemos a cidadania por meio das pessoas que compõem o legislativo, o executivo e o judiciário. Nesse nosso cenário, porém temos entraves a enfrentar.

Uma excrescência que precisa ser corrigida o mais breve possível: de 513 deputados federais eleitos, só 27 contaram com os próprios votos para ocupar a sua cadeira. Ou seja, a nossa vontade é responsável apenas por 5,26% dos deputados eleitos. Faz pouco tempo que as pessoas, poucas, passaram a ter esse tipo de consciência. Isto é, pensamos que elegemos os nossos representantes, quando na verdade, apenas somos levados por regras que nos limitam e tiram a nossa condição de escolha.

Os demais deputados um número extremamente elevado e desproporcional, 486, chegam à Câmara "carregados" para a função a partir dos votos recebidos pelos partidos e pelos candidatos que obtiveram expressiva votação. Por isso, talvez, o desânimo de alguns.

Os lobos cuidam das ovelhas

Como são os próprios políticos os responsáveis pelas mudanças nas leis, dificilmente tomarão a iniciativa de mexer no sistema que hoje os beneficia. Por outro lado, até há pouco tempo ninguém tinha noção dessa distorção. Hoje, entretanto, boa parte da população começa a se manifestar exigindo que as regras sejam alteradas.

Muito já foi modificado. O quadro de parlamentares não é mais o mesmo. Vários caciques que tinham uma espécie de assento permanente, perderam sua posição. Foram substituídos por políticos mais jovens, com outra mentalidade. Por isso, devemos ficar atentos e discutir esses aspectos eleitorais à exaustão, independentemente de preferências ideológicas.

Temos de mudar o país para melhor. Afinal, "Zoom Politikon". E não nos esqueçamos de que aqueles que chegaram lá são verdadeiras águias. Vamos nos lembrar sempre de que a política não é mesmo para amadores.

Superdicas da semana

  • Quem não se envolve com política acaba tendo suas decisões tomadas pelos outros
  • As mudanças são lentas, mas acontecem
  • As distorções no processo político são inconcebíveis
  • Por mais que detestemos a política, temos de participar e interferir nela

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Comunicação a distância", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Saiba dizer não sem magoar os outros" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora planeta.