Quem vai vencer as eleições presidenciais?
Nenhuma batalha desenrola-se como previram aqueles que armam os planos.
Tolstoi
Nunca o resultado de uma eleição à presidência dependeu tanto da capacidade de comunicação dos candidatos como neste ano. Teremos dois estilos diferentes. Embora os principais concorrentes se expressem sempre de forma contundente, Lula contorna mais os temas antes de dizer o que pensa, enquanto Bolsonaro vai diretamente ao ponto.
Não há certo ou errado. Tudo depende da circunstância, da característica e das expectativas dos ouvintes. De acordo com o momento, são necessárias certas adaptações de percurso para que o resultado seja positivo. Quem tiver mais jogo de cintura e perspicácia para enfrentar essas situações terá mais chances.
Talvez, por antipatia política, o jeito como um ou outro se expressa não agrade a todos, mas, se nos basearmos apenas nos aspectos técnicos da comunicação, os dois são bons de microfone.
Lula já ganhou
Os lulistas juram de pés juntos que Lula já faturou. Afinal, dizem eles, sua vantagem nas pesquisas não deixa dúvidas. É só esperar um pouco para vestir a faixa e, mais uma vez, desfilar no velho Rolls-Royce pela Esplanada dos Ministérios, acenando para a multidão.
O que o candidato petista tem feito para vencer? Ele mudou de estratégia. Se antes, para conquistar o eleitorado que se mantinha distante devido às suas pregações radicais, adotou o perfil do "Lulinha paz e amor", fazendo discursos agregadores, agora voltou aos primórdios, defendendo causas mais extremas.
Decisão polêmica
Outra decisão controvertida foi colocar Geraldo Alckmin, um de seus mais ferrenhos adversários ao longo de décadas, para ser o vice. Se essa dobradinha pode dar a ele resultados eleitorais, ainda é uma incógnita. Há petistas que não engolem Alckmin, assim como há seguidores do ex-governador que não podem nem ver Lula na frente. Com todas essas dúvidas não é possível cravar a vitória como certa.
Ah, e as últimas pesquisas começaram a preocupar. Lula tem oscilado para baixo e o presidente pouco a pouco está tirando a diferença. Como nada de novo aconteceu para justificar essa mudança, a oposição começa a descer do salto alto e a diminuir o oba-oba. Até Lula já pediu para abandonar essa história do "já ganhou".
Bolsonaro já ganhou
Os bolsonaristas, por outro lado, não têm dúvida de que a reeleição já está garantida. Primeiro, porque a maioria não confia nas pesquisas. Depois, dizem que tudo o que foi plantado nos últimos três anos começa a aparecer agora para a população. Ninguém pode negar que o Auxílio Brasil fará enorme diferença na intenção de voto do segmento mais pobre do eleitorado.
Bolsonaro deu azar
Durante o seu governo, por dois anos, pegou a maior pandemia já enfrentada pelas últimas gerações em todo o mundo. As pessoas tiveram de ficar em casa e a economia do país quase afundou. A equipe econômica conseguiu segurar a tormenta e, com muita dificuldade, deixou o país de pé.
Quando a tempestade começava a se afastar, nuvens escuras voltaram a rondar o Brasil. Eis que aparece a guerra entre Rússia e Ucrânia, com consequências perversas de toda sorte para todo o mundo. Aumento no preço dos combustíveis, do milho, dos fertilizantes, etc. Esse desajuste provocou elevação nos índices inflacionários.
Os argumentos de cada um
Lula dirá que Bolsonaro é negacionista e foi resistente com as vacinas, sendo responsável pela morte de centenas de milhares de brasileiros - um genocida. Bolsonaro irá contra-atacar, alegando que o Brasil foi um dos países que mais vacinaram no mundo, com centenas de milhões de vacinas distribuídas em todo território nacional.
Bolsonaro dirá que Lula e sua turma desviaram milhões dos cofres brasileiros, delapidando as estatais e fazendo obras no exterior, enquanto nós precisávamos desse dinheiro para a saúde e a educação.
Lula enfatizará sua inocência e voltará a afirmar que, se alguém nas estatais cometeu algum crime, que seja punido. Argumentará ainda que a Lava Jato destruiu grandes empresas e tirou o emprego de milhares de trabalhadores.
O duro é explicar
Todas essas questões podem ser explicadas, mas muitas vezes não são compreendidas facilmente pela maior parte da população. A dona de casa não quer saber, por exemplo, dos motivos. Apenas constata que, com o mesmo dinheiro, já não leva para casa a mesma quantidade de alimento.
Aí é que entra a importância da habilidade de se comunicar dos candidatos. Lula, em posição mais cômoda, enquanto se defende das acusações, dirá que a culpa é toda de Bolsonaro. E fazer esse papel de estilingue é muito mais simples.
Caberá a Bolsonaro encontrar um discurso que seja convincente para atacar o adversário e, ao mesmo tempo, se defender, dizendo que a culpa não é dele, mas sim que os problemas surgiram em virtude de fatores externos e até de gestões anteriores.
Aquele que conseguir encontrar argumentos persuasivos e falar mais próximo do coração dos eleitores ampliará as chances de se sair vencedor nas urnas. A oratória terá mesmo papel relevante nessas eleições.
Superdicas da semana
- Não basta explicar, é preciso esclarecer
- Há argumentos que convencem
- Há argumentos que persuadem
- Há aqueles que, pela inconsistência, não fazem nem uma coisa nem outra
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo", "Saiba dizer não sem magoar as pessoas", e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.
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