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Reinaldo Polito

Lula e Bolsonaro são dois políticos Teflon: não gruda nada, nem acusações

Canal UOL | UOL News: Lula e Bolsonaro - André Porto/UOL e Antonio Molina/Folhapress
Canal UOL | UOL News: Lula e Bolsonaro Imagem: André Porto/UOL e Antonio Molina/Folhapress

Colunista do UOL

24/05/2022 04h00

Quem está n'água até a garganta, /
É obstinado se não grita por socorro.

Ariosto

Se eu mencionar os nomes Kevlar, Nomex e Tyvek, provavelmente, a maioria dos leitores não terá a mínima noção do que seja. Se, entretanto, eu falar na empresa a qual pertencem, a DuPont, com certeza será um nome identificado rapidamente.

Da mesma forma, se eu me referir a politetrafluoretileno, quase ninguém saberá do que se trata. Pronunciar essa palavra é desafio para a Alice, a menina de dois anos que fala "palavras difíceis".

Teflon não gruda

Se, todavia, eu disser Teflon, aí sim todos saberão do que se trata. Quase todos nós temos em casa panela ou frigideira revestida com esse produto. Uma beleza! Pode pôr ali qualquer tipo de alimento sem que haja aderência. Pois bem, aquele palavrão que acabei de mencionar, nada mais é que o Teflon, batizado com esse nome pela DuPont.

Portanto, quando nos referirmos ao Teflon, sabemos que estamos falando a respeito de algo que não gruda, que não pega. Por isso, é possível dizer que Lula e Bolsonaro são políticos Teflon, e a associação é imediata - as críticas e acusações que eles recebem, por mais merecidas e contundentes que sejam, não pegam.

Lula

Lula sobreviveu ao "Mensalão". Aparentemente, sua situação era tão desesperadora que atribuíram a Fernando Henrique Cardoso, embora ele negue, um conselho à oposição: "Vamos deixar o Lula sangrar no cargo". Dessa forma, evitariam o trauma de um processo de impeachment e desgastariam o líder petista, tirando dele as chances de permanecer no comando do país.

Quebraram a cara. Lula não perdeu o poder e fez sua sucessora. Depois veio o "Petrolão" e a prisão do ex-presidente. Bem, aí a fera parecia ter ido à lona, sem chances de voltar à cena política.

Como ele mesmo disse, porém: "Se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo". Dá a impressão de que o experiente político estava com a razão. Vencendo ou não as eleições, está firme na ponta das pesquisas para voltar ao Palácio do Planalto.

Bolsonaro

Bolsonaro também tem essa característica. Desde o dia em que assumiu o cargo de presidente, sem trégua, levou bordoada de todos os lados. Foi chamado de genocida, ditador, autoritário, golpista, homofóbico, misógino, incompetente, tosco. Até de fascista e nazista. Será que outro político já foi contemplado com tantos adjetivos negativos?!

Teve de enfrentar a CPI da Covid-19 articulada pela oposição, com apoio do STF e do presidente do Senado. Durante cinco meses e 29 dias, seus desafetos bateram à vontade e sem dó. Fizeram todos os tipos de acusação. Prepararam um relatório para derrubá-lo do poder. E... acabou não dando em nada.

Enfrentou dois anos de pandemia, com a economia praticamente fechada. Em seguida foi atacado pelos respingos de um conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o que provocou aumento no preço dos combustíveis e de alguns alimentos essenciais em todo o mundo, como o trigo, por exemplo.

A consequência foi uma onda inflacionária generalizada em quase todos os países. Mas o que importa para o povo brasileiro a inflação além-mar? O que vale é o preço do alimento nos nossos supermercados. Culpa do presidente.

Calou os críticos

Quebraram a cara. Apesar de tudo, a queda do PIB que estava prevista para o Brasil em mais de 10%, ficou apenas em 3,9%. Digo "apenas", pois temos de considerar que Espanha e Portugal ficaram acima dos 10%. Inglaterra, acima dos 9%. Itália, acima dos 8%. França, acima dos 7%. Alemanha, acima dos 5,5%. Japão, acima dos 4%. E nós, abaixo de todos esses números.

Outro aspecto que iria destruir o país, e, consequentemente seu governante, na opinião dos maiores economistas do universo, é que o endividamento ultrapassaria os 100% do PIB. Finalmente, chegaram os dados para provar que essa turma estava equivocada. O endividamento que era de 76,5% chegou a 78,5%. Déficit zerado. Só o Brasil e Cingapura alcançaram essa proeza.

Os detratores ficaram inconformados e alegam que a situação hoje é essa, mas no futuro tudo vai piorar muito. Ou seja, críticas por expectativa de problemas bem lá na frente. Fato que até poderia ocorrer se todos os fatores presentes permanecessem constantes.

O dinamismo da política e da economia

Como sabemos, entretanto, a economia e a política são dinâmicas, e o homem sempre acaba por encontrar soluções para as dificuldades. Há uma máxima que se confirma a cada dia: é na crise que crescemos. É nesses momentos que encontramos as saídas e a prosperidade.

Esses são alguns exemplos que demonstram a característica Teflon dos dois principais concorrentes nessa corrida presidencial. Vendo os políticos que poderiam enfrentar essa campanha, parece não haver nenhum com capacidade de assimilar os ataques, nem de ser refratário aos desafios que esses dois são obrigados a superar dia sim, outro também.

A frase é batida, mas nesse caso, cabe como uma luva: a política não é para amadores. E quando falamos em Lula e Bolsonaro, estamos nos referindo a dois políticos que sabem como ninguém ser profissionais nessa arte. Imagino até que a DuPont ainda cobrará direito de uso da sua marca pelos dois rivais.

Superdicas da semana

  • Por pior que seja a situação, sempre haverá uma porta de saída
  • Nem sempre as circunstâncias de hoje serão mantidas amanhã
  • Há pessoas que são refratárias a quase todas as pressões
  • É preciso ter vocação, experiência e sorte para obter sucesso

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.