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Reinaldo Polito

Curiosidades sobre os discursos de Bolsonaro e da primeira-dama

A primeira-dama Michelle Bolsonaro discursando na convenção nacional do PL - Ricardo Moraes/Reuters
A primeira-dama Michelle Bolsonaro discursando na convenção nacional do PL Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Colunista do UOL

02/08/2022 04h00

Não é verdade que a igualdade seja uma lei da natureza. A natureza nada fez igual.
Vauvenargues

Na semana passada, Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, falaram e deram o que falar. Os dois foram protagonistas em eventos que lançaram candidaturas à presidência da República e ao governo de São Paulo. O resultado dessas participações dependeu quase que exclusivamente da capacidade de comunicação do casal. Houve fatos curiosos.

Antes de analisarmos o desempenho de cada um, é preciso dizer que algumas atitudes são desaconselháveis na oratória. Assim como devemos deixar claro que por serem "desaconselháveis" não significa que sejam sempre necessariamente "erradas". Por exemplo, não se recomenda falar por muito tempo com as mãos nos bolsos, com os braços nas costas, não gesticular, ou movimentar os braços em excesso. Há, porém, exceções.

Alguns oradores fizeram desses comportamentos considerados desaconselháveis seu próprio selo de identificação. Um dos exemplos mais marcantes foi o do líder fascista Benito Mussolini, que procurava projetar sua imagem fazendo pausas prolongadas com os braços cruzados.

Excesso de gestos

Outro que chamou a atenção foi o ex-senador gaúcho Pedro Simon. Quem se lembra de suas atuações na tribuna do Senado sabe que ele se apresentava o tempo todo com excesso de gesticulação. Essa foi também sua marca característica.

Se, por infelicidade, ele tivesse encontrado um professor de oratória espartano, que obedecesse à risca os conceitos técnicos da arte de falar em público, sem considerar a importância da liberdade individual, talvez tivesse tirado dele esse comportamento tão peculiar.

Mão no bolso

Bolsonaro é mais um orador que adotou atitude vista, de maneira geral, como inadequada. Tem se apresentado em alguns dos últimos eventos, como nas convenções do PL e do Republicanos, em boa parte do tempo, com uma das mãos no bolso. Só a retirando de vez em quando para um gesto ou outro.

Pode estar agindo assim por se sentir pressionado de alguma maneira. Hipótese improvável devido à sua longa quilometragem de tribuna. Outro motivo poderia ser o de ficar mais confortável, o que não seria indicado, pois, agindo assim, perde a possibilidade de usar a expressão corporal. Os gestos são muito úteis na comunicação para:

  • destacar as informações importantes
  • complementar a mensagem
  • substituir palavras não proferidas

Deixar de gesticular, portanto, pode prejudicar o resultado da apresentação. Nada impede, todavia, que ele esteja fazendo dessa atitude uma nova marca em suas exposições. Se for mesmo esse objetivo, e se o resultado será ou não positivo, só o tempo dirá. Sem contar que dificilmente se comportaria assim de forma premeditada.

Pode ser que nos próximos discursos ele volte a soltar o braço. Nesse caso, mesmo sendo improvável à primeira vista, deve ter ficado com a mão no bolso por se sentir mesmo pouco à vontade.

A primeira-dama

Outra que chamou a atenção nos últimos eventos foi Michelle Bolsonaro. Embora tenha sido muito elogiada pela forma como se apresentou no lançamento da candidatura de Bolsonaro à presidência, na verdade faltou a ela naquela oportunidade um pouco de espontaneidade. Basta observar seus gestos. Alguns deles foram realizados depois de proferir as palavras. Esse comportamento demonstra artificialismo na comunicação.

Já no lançamento da candidatura de Tarcísio Gomes de Freitas ao governo de São Paulo, a primeira-dama se mostrou mais solta e confiante. Foi impressionante a sua evolução de um evento para o outro. Se Bolsonaro contar mesmo com a presença dela durante a campanha, com essa comunicação desembaraçada, poderá ser uma boa aliada, especialmente para afastar a rejeição do eleitorado feminino.

Superdicas da semana

  • Não há nada tão errado em comunicação que não possa ser posto em prática em algum momento
  • Certas atitudes tomadas como defeitos podem até se transformar em qualidade no orador
  • O que é defeito em uma pessoa, dependendo do estilo, pode ser positivo em outra
  • Cada um deve decidir se vale ou não quebrar determinadas regras ao falar em público

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como falar corretamente e sem inibições", "Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo" e "Oratória para advogados", publicados pela Editora Saraiva. "29 minutos para falar bem em público", publicado pela Editora Sextante. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.