'Never bet against America', versão 2025

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Em momentos de crise e muita volatilidade no mercado, a principal atividade de um bom investidor é saber distinguir algum ruído no sinal. Tentamos adivinhar e antecipar as mudanças, sendo que a melhor atitude agora seria estudar as crises passadas para analisar o presente e entender o que nunca muda.
A turbulência atual não é a primeira e nem será a última que os Estados Unidos enfrentarão. Se olharmos nos últimos 100 anos, não faltaram motivos para acreditar que o país perderia a sua vantagem competitiva.
Os EUA passaram pela crise de 1929, uma taxa de 25% de desemprego, a Segunda Guerra Mundial, dois impeachments, uma inflação de quase 20%, 17 recessões, a bolha da internet, uma taxa de juros de 20%, a crise do subprime de 2008, a crise do petróleo, o assassinato de um presidente, os ataques de 11 de setembro, a Guerra Fria, o escândalo de Watergate, a pandemia do coronavírus, dentre outras situações adversas. No entanto, durante esse mesmo período, o índice da Bolsa americana aumentou o seu valor de mercado em mais de 300 vezes.
Vale lembrar que cerca de 40% das receitas das empresas do S&P 500 vieram de fora dos EUA — demonstrando o quanto essas companhias estão expostas a mercados globais e diversificadas geograficamente. Das diversas empresas listadas nos EUA, mais de mil são internacionais e representam quase 50 países, como a TSMC (Taiwan), a SAP (Alemanha), a Novo Nordisk (Dinamarca), o Spotify (Suécia), a Unilever (Grã-Bretanha), o Mercado Livre (Argentina) e a Ferrari (Itália), sem mencionar as marcas brasileiras que também decidiram abrir capital na Bolsa americana.
Ou seja, investir nos Estados Unidos vai muito além de apostar apenas em um só país. Isso porque a robustez e a profundidade do mercado americano oferecem um acesso direto a empresas e economias do mundo inteiro.
As Bolsas de Nova York impressionam tanto pelo seu tamanho quanto pela variedade de setores. Diferentemente do mercado brasileiro, que tem uma forte presença de empresas ligadas a commodities e setores tradicionais, nos EUA você encontra uma diversidade muito maior de negócios, oferecendo aos investidores a oportunidade de explorar segmentos inovadores e de rápido crescimento.
Por exemplo, o setor de tecnologia é muito robusto, englobando temas diversos como computação em nuvem, segurança cibernética, inteligência artificial, big data e produção de semicondutores. Todos esses segmentos refletem não apenas o dinamismo do mercado americano, mas igualmente a sua capacidade de inovação e de adaptação a novas demandas globais.
Por outro lado, a diferença de tamanho entre os mercados também é bem expressiva: enquanto a B3 concentra aproximadamente 400 empresas, as Bolsas americanas reúnem mais de 5 mil companhias, sendo que dez empresas delas contam com valores individuais de mercado maiores do que a Bolsa brasileira inteira.
A verdade é que os números dos EUA são extremamente superlativos e o país continua sendo o protagonista no mundo. Hoje, o mercado americano de ações e dívida é o maior que existe, valendo praticamente o dobro dos nove seguintes (Japão, Reino Unido, França, Canadá, Alemanha, China, Austrália, Itália e Espanha).
Seguem mais algumas curiosidades sobre a influência norte-americana: 11 nações soberanas têm o dólar como dinheiro oficial; cerca de 90% das trocas cambiais realizadas no globo são feitas em dólar; 60% dos dólares americanos impressos são usados fora dos Estados Unidos; 59% das reservas mundiais estão em dólar americano; 56% das melhores faculdades do mundo estão nos EUA; o estado mais pobre dos EUA tem um PIB per capita maior do que cinco países do G7; 25% da economia global é representada pelos EUA; nove das dez maiores empresas no mundo são americanas; mais da metade dos unicórnios no mundo está nos EUA e por aí vai...
Como você pode ver, a lista é enorme. Em suma, os Estados Unidos atraem talentos do mundo todo, sendo o único país desenvolvido que não está com a sua população economicamente ativa em declínio. Não é à toa que praticamente metade das 500 maiores empresas americanas foi fundada por imigrantes ou os seus filhos.
Por fim, vale salientar um ponto importante que muitas vezes é esquecido. As crises que acontecem em países importantes do globo têm um efeito dominó que atinge diretamente os mercados emergentes, como o Brasil, impactando desde os ativos financeiros até a cotação do real frente ao dólar. A crença de que investindo somente no Brasil estamos seguros das crises que acontecem internacionalmente é extremamente perigosa e pode fazer o investidor perder grande parte do seu patrimônio em pouquíssimo tempo.
As últimas três crises que pegaram em cheio os EUA, como a bolha da internet, o subprime e a Covid-19, ilustram bem essa vulnerabilidade do Brasil. Em todas elas, o dólar se valorizou frente ao real: 125%, 51% e 28%, respectivamente. E, em todos esses eventos, a renda fixa americana de curto prazo cumpriu o seu papel trazendo proteção e retorno positivo em dólar para os seus investidores. Durante o tarifaço do presidente Trump não foi diferente. Entre os dias turbulentos de 2 a 8 de abril, por exemplo, o dólar se valorizou cerca de 6% frente ao real e a renda fixa americana subiu 0,4% em dólar.
Em resumo, basta dar um zoom out e estudar a história recente para chegarmos a uma simples conclusão: apesar das incertezas e solavancos, os Estados Unidos ainda continuarão sendo o porto seguro do mundo por muito tempo.
Como diria o lendário investidor Warren Buffett, "never bet against America".
*Daniel Haddad é diretor de investimentos (CIO, chief investment officer) da Avenue Securities.
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