Musk saiu. E você, vai continuar fingindo que lidera?

Ler resumo da notícia
A decepção foi enorme. Esse projeto de gastos contradiz tudo que estávamos fazendo no Departamento de Eficiência Governamental.
A frase de Elon Musk caiu como uma bomba política. Ao anunciar sua saída do governo Trump. Musk fez o que poucos com cargo, poder e holofote teriam coragem de fazer: foi embora. O motivo? Dizem ser uma proposta de lei bilionária que, segundo Musk, comprometia os princípios de contenção e racionalidade que ele buscava implantar à frente do DOGE (Departamento de Eficiência Governamental).
Um projeto que deveria promover cortes e eficiência, na prática, faria o oposto: aumentaria o déficit público, criaria novos privilégios e contrariaria a lógica que Musk foi chamado para defender. Ele poderia ter permanecido. Poderia ter feito vista grossa, mas decidiu sair. Porque, às vezes, continuar no cargo é menos importante que renunciar aos seus valores.
Essa atitude me fez refletir sobre um princípio essencial da liderança: coerência não é virtude opcional, é o centro de tudo.
Como líder, ao longo de décadas, também enfrentei decisões em que era mais fácil ceder. Mais confortável calar e mais lucrativo fingir. E posso afirmar: são nesses momentos que você escolhe quem é e o que vai deixar.
Muitas vezes, tive que escolher entre agradar os acionistas ou proteger um time de colaboradores e clientes. Entre olhar para o curto prazo ou defender a perenidade da organização, garantindo uma boa experiência para quem importa de verdade, o cliente. Entre aceitar uma imposição externa ou manter firme o meu estilo de liderança.
E posso afirmar: a verdadeira liderança se revela quando você precisa perder alguma coisa para manter o que acredita.
Elon Musk, com todos os seus excessos e polêmicas, fez exatamente isso. Recusou a segurança e prestígio de um cargo para não compactuar com algo que parece ferir seus princípios.
Quantos líderes, nas empresas ou no serviço público, fariam o mesmo?
O mundo precisa de líderes com menos controle e mais impacto. A grande virada da minha carreira foi quando percebi que liderar não é sobre ter todas as respostas, mas sobre fazer as perguntas certas. E, sobretudo, viver de acordo com as respostas que você encontra.
A saída de Musk reforça a tese de que o mundo não precisa apenas de líderes mais eficientes, mas de líderes mais íntegros, precisa da liderança exercida em três dimensões simultâneas, que separam chefes de líderes.
O que define um líder
Gestão — foco, metas, performance. A base de toda organização.
Autoliderança — porque ninguém lidera outros sem antes liderar a si mesmo.
Liderança de pessoas -- a mais difícil de todas, que exige empatia, escuta ativa e coragem emocional.
Só quando essas três dimensões atuam juntas é que o líder consegue deixar marcas, e não apenas bater metas.
A decisão de Musk não foi apenas financeira por suas empresas e pode também ser vista como um recado direto para todos que se escondem atrás de cargos: não existe liderança real sem a coragem de ser coerente.
*Paulo Camargo é mentor de CEOs, palestrante, autor de 'Seja o Líder que Você Gostaria de Ter Como Chefe' e ex-CEO de organizações como McDonald's Brasil, Zamp, Espaçolaser e Iron Mountain
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.