As novidades de Open Finance, IA e pagamentos no fórum Money 20/20 Europa

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Um dos principais eventos de fintechs do mundo, o Money 20/20 Europe 2025 aconteceu de 3 a 5 de junho, em Amsterdam, e eu estive lá ao lado do nosso time global para nos conectarmos com parceiros da indústria e mergulharmos nas principais discussões atuais do nosso mercado.
O Money 20/20 é um evento focado em inovação e que conta com um olhar para o futuro, não apenas com a perspectiva de tentar prever o que vai acontecer no universo dos meios de pagamentos, mas também de entender como cada player da indústria pode ajudar a construir esse futuro.
Entre os principais tópicos abordados na edição europeia de 2025 — o Money 20/20 também acontece nos Estados Unidos, na Ásia e no Oriente Médio —, destaco os temas: IA Agêntica" (Agentic AI), pagamentos instantâneos e interoperabilidade. Porém, no evento, as discussões foram muito além de tecnologia; a importância da confiança foi amplamente discutida como forma de atender às necessidades tão mutáveis dos consumidores atuais.
Relevante não só para empresas de meios de pagamento, mas para todos os interessados em sair na frente quando o assunto é inovação, o Money 20/20 Europe definitivamente dita a conversa. Por isso, separei neste artigo os meus principais insights após três dias intensos em Amsterdam.
As perspectivas para o Open Banking
O Open Banking, que no Brasil é conhecido como Open Finance, foi iniciado no Reino Unido, com outros países seguindo o exemplo — e corrigindo os erros cometidos pelo país pioneiro na implementação. Porém, por mais que a indústria entenda que o Open Banking não é uma tendência passageira e que todas as empresas do mercado financeiro deveriam investir no modelo de negócio, o consenso no Money 20/20 Europe é de que as estruturas por trás da estratégia não permitem que o Open Banking atinja o próximo nível de qualidade e escalabilidade.
Se 52% das empresas na Europa não monitoram, ao longo de um período de seis meses, a quantidade de clientes que mantêm o consentimento para o compartilhamento de dados que impulsiona o Open Banking, e se 20% dos negócios relatam que cerca de 1% de seus chamados de APIs (Application Programming Interface) falham, o problema do Open Banking parece estar em sua infraestrutura atual.
Para os palestrantes presentes na imersão, uma das razões para isso é que o Open Banking foi — e ainda é — tratado como um projeto da área de compliance, fazendo com que a indústria não enfrente muitos problemas relacionados à regulamentação ou privacidade de dados, mas sim à construção de eficiência, escalabilidade e retenção de clientes no longo prazo.
O interesse dos consumidores e o valor de mercado do Open Banking já foram mais do que comprovados, mas o modelo tem potencial para gerar mudanças ainda mais significativas no cenário de meios de pagamentos. Quando isso acontecer, a indústria poderá criar produtos de pagamento interoperáveis, interconectados e duradouros, que promovam uma transformação real.
Para Valérie Nowak, vice-presidente de Open Banking da Mastercard nas regiões Ásia-Pacífico, Oriente Médio, África e Europa, "o Open Banking é a camada-base, o fator que vai viabilizar a próxima geração de serviços de pagamento".
Enquanto isso, ao expandirmos o horizonte para o Open Finance, a palavra-chave é dados: trata-se de um modelo de negócios orientado por dados, que considera — ou deveria considerar — mais do que apenas dados de banco para banco, mas todo tipo de histórico de serviços financeiros, para ampliar a oferta de produtos.
A era da Agentic AI e seu impacto nos pagamentos e no e-commerce
A Inteligência Artificial é "o assunto" nos eventos corporativos ao redor do mundo há pelo menos 3 anos e, ao longo desse tempo, é interessante perceber como o tópico vem evoluindo. Após um período dedicado a entender o potencial da tecnologia e a necessidade de ir além da buzzword para se dedicar a entregar valor real à empresa e ao consumidor por meio da IA, as conversas no Money 20/20 Europe 2025 se voltaram à IA Agêntica.
A IA Agêntica, ou Agentic AI, sai do cenário "humanos se conectando com soluções impulsionadas por Inteligência Artificial" para "construir interações realizadas completamente entre dois agentes de IA": o agente do próprio usuário interagindo com o agente de uma empresa, permitindo, por exemplo, compras online sem esforço. O e-commerce, por exemplo, promete ser um dos segmentos mais impactados positivamente pela IA Agêntica, com o Agentic Commerce emergindo como uma das tendências mais fortes abordadas neste ano no Money 20/20.
Para que isso aconteça e se torne parte do nosso cotidiano, no entanto, muitos sistemas precisam estar em funcionamento: precisamos confiar que os agentes de IA — tanto os nossos quanto o do comerciante — serão capazes de comprar exatamente o item que desejamos, sem erros em nenhuma parte do processo.
O passo mais importante para isso é o checkout propriamente dito: "sem realmente concluir o pagamento em nosso nome, o agente de IA é apenas um personal shopper sofisticado", definiu Mathieu Altwegg, vice-presidente sênior de produtos e soluções da Visa Direct na Europa.
Chegar a esse estágio exige fluxos de trabalho claros e abrangentes, além de métricas bem definidas sobre o que significa sucesso — e, por mais avançada que seja a tecnologia, no fim das contas, os humanos que a utilizam precisam confiar nela e no propósito para o qual ela é usada. Sem isso, todo o sistema desmorona.
É preciso garantir que a inovação gere valor real para os clientes: caso contrário, o que temos é a indústria falando sozinha, sem considerar o usuário final. A IA Agêntica definitivamente tem o potencial de trazer muito valor para o consumidor, mas exige não apenas um arcabouço regulatório e tecnologia escalável como também uma compreensão do que significa confiança na era da Inteligência Artificial — tema que vou abordar mais à frente neste artigo.
Como transformar um novo método de pagamento em fenômeno?
Ao redor do mundo, os consumidores demonstram grande interesse pelos Métodos de Pagamento Alternativos (APMs, da expressão em inglês Alternative Payment Methods), que estão impulsionando a inovação, o acesso a serviços financeiros e o surgimento de novos negócios em toda a indústria de fintechs. Um dos maiores cases europeus é o Blik, sistema de pagamento móvel lançado em 2015 na Polônia que representa quase metade de todos os pagamentos online no país e é o método n°1 nos pagamentos em e-commerce.
Esse cenário tende a se expandir por toda a Europa com a implementação do Regulamento de Pagamentos Instantâneos da União Europeia. Estabelecido no início de 2024, o regulamento estabelece que os países da Zona do Euro devem estar seguindo suas regras até o final deste ano, enquanto os países de fora da Zona do Euro têm até meados de 2027 para se adequar.
Com exigências relacionadas ao envio e recebimento de pagamentos instantâneos, os PSPs (Provedores de Serviços de Pagamento) da União Europeia deverão garantir disponibilidade em tempo integral e processamento em menos de 10 segundos. Isso já é realidade no Brasil desde o lançamento do Pix — processamento verdadeiramente instantâneo, disponível o tempo todo.
Se isso se concretizar na União Europeia, pode ser um divisor de águas. De qualquer forma, em eventos internacionais de fintechs, fica claro o quanto o sistema de pagamentos no Brasil é avançado em relação ao resto do mundo, com um case extraordinário não apenas de produto financeiro digital, mas de adoção e escalabilidade: o Pix muito rapidamente se tornou parte cotidiana da vida dos brasileiros e, para impulsionar ainda mais o método de pagamento, o Banco Central investe continuamente em novas funcionalidades, como o recente lançamento do Pix Automático.
O incentivo regulatório para a padronização e a aceitação em massa de um novo método de pagamento são essenciais para gerar um impacto no longo prazo e, nesse sentido, a União Europeia está construindo uma jornada bastante promissora para seus APMs.
Interoperabilidade para experiências globais localizadas
Seja falando de pagamentos instantâneos, de carteiras digitais — outro método de pagamento amplamente discutido no Money 20/20 Europe — ou de projetos e oportunidades relacionadas a pagamentos transfronteiriços, uma palavra muito mencionada no evento foi interoperabilidade.
Conforme os pagamentos digitais avançam, os consumidores têm uma demanda cada vez maior pela possibilidade de fazer pagamentos em qualquer lugar do mundo com a mesma facilidade com que o fazem onde residem. Não à toa, há estabelecimentos em Portugal, por exemplo, que aceitam Pix para fomentar o consumo de residentes e turistas brasileiros.
Mas imagine uma rede europeia, latino-americana ou até mesmo global em que os sistemas de pagamentos instantâneos de cada país estão conectados entre si, permitindo que façamos pagamentos sem fricção, com agilidade e por meio de uma experiência já conhecida em qualquer lugar do mundo, sem precisar de novos apps ou contas — é para isso que a interoperabilidade pode abrir espaço.
Porém, mesmo nesse cenário de pagamentos globais, cada país vai continuar tendo regulamentações próprias, contextos específicos e preferências únicas quanto a consumo e pagamento. Por isso, será cada vez mais fundamental que as empresas invistam tempo e recursos para estudar com profundidade os mercados estrangeiros para o qual pretendem se expandir, para assim poder criar soluções e processos que respeitem as especificidades de cada mercado.
Construindo a confiança que move a inovação
Carteiras digitais, pagamentos instantâneos, e-commerce — todos buscando construir conexão, escalar em meio à concorrência, evoluir de forma centrada no cliente e ter um portfólio robusto de serviços de valor agregado. Mas, sem confiança, um app financeiro é... apenas um app. A fim de construir verdadeira interoperabilidade, inovação e impacto de longo prazo na vida dos clientes e no mercado, ter a confiança como pilar é essencial.
Na Money 20/20 Europe 2025, ficou claro que a indústria sabe para onde quer ir, mas é fundamental que fintechs, bancos e todos os players do setor foquem agora na execução — para construir soluções verdadeiramente interconectadas, padronizadas, reguladas e inovadoras. Para isso, é fundamental manter o usuário no centro das estratégias em vez de ir rumo a um caminho de "inovação pela inovação", aplicando novas tecnologias e ferramentas sem um propósito claro por trás.
A palavra confiança foi mencionada por 99% dos palestrantes ao longo do evento — e à medida que o mundo fintech avança e se torna mais complexo, ser capaz de construir e manter essa relação de confiança dos clientes vai se tornar cada vez mais difícil, mas também cada vez mais urgente.
Você está resolvendo problemas reais de pessoas reais em suas vidas reais? E mais: essas pessoas reais confiam em você, no seu produto e na sua empresa? Se a resposta for sim para ambas as perguntas, você está no caminho do sucesso.
A tecnologia financeira e os meios de pagamentos são indústrias por si só, mas também são uma parte fundamental de qualquer segmento do mercado. Por isso, qualquer profissional pode absorver insights valiosos a partir das discussões do Money 20/20 Europe 2025, e espero que eu tenha conseguido transmitir um pouco do que foi discutido, pensado e compartilhado em Amsterdam.
*Caio Costa é diretor de negócios do PagBank.
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