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Alexandre Pellaes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Já ouviu falar em solidão do poder? Saiba identificar (em você e em outros)

Justin Luebke/Unsplash
Imagem: Justin Luebke/Unsplash

Colunista do UOL

26/05/2022 04h00

Você já ouviu o termo solidão do poder?

Em geral, ele é definido como a sensação de solidão que é reconhecida por pessoas que estão em altos cargos hierárquicos e com concentração de poder - gerentes sêniores, diretores, diretoras, presidentes, CEOs etc.

Veja bem... Não é a escolha ou necessidade pontual de solitude - ou seja, a preferência de ficar só para performar uma ação ou tomar uma decisão. Tampouco é apenas a observação da redução do número de pessoas que existe no topo das estruturas de poder. É mais profundo e mais difícil de identificar do que isso.

Solidão do poder é o sentimento de solidão, abandono e falta de suporte, que acomete uma pessoa que tem uma estrutura interna diferenciada para lidar com situações desafiadoras - ou seja, uma pessoa que "dá conta" de fazer o que tem que ser feito, ou sobre a qual recai o julgamento de que está dando conta.

E, aqui, o papo começa a chegar até você, porque, no fundo, esse sentimento não é exclusividade de privilegiados que vivem no Olimpo corporativo. Na verdade, o fenômeno afeta outros dois grupos fortemente:

1. Pessoas que se destacam em suas profissões e conquistam algum nível de status, despertando julgamentos alheios - às vezes, motivados por sentimentos pouco nobres, como inveja e frustração;

2. Pessoas que estão numa tremenda correria, que gerenciam muitas atividades, que seguem no malabarismo 24x7 e que, sob arbitragem externa (olha o julgamento aí de novo), parecem autossuficientes.

A situação 1 pode acontecer, por exemplo, quando um(a) analista se torna coordenador(a) ou gerente, e seus companheiros de trabalho tendem a encaixá-lo(a) em uma nova classificação de relacionamento.

Já não é mais colega, é visto como chefe, traíra, ou parte da liderança. Não é mais convidado(a) para o almoço da galera, não faz parte das piadas e comentários informais, não tem acesso às ideias ou sugestões e reclamações etc. Foi deixado de lado, por ter conquistado reconhecimento. Um paradoxo doloroso.

Esse peso pode ser ainda maior, devido à autocobrança: "Sonhava com a promoção e por ela trabalhei muito, mas ao ser promovido(a) descobri que perdi os amigos... - será que decidi errado?"

A situação 2, por seu lado, pode ser representada pelo caso de um(a) empreendedor(a) individual que está lutando para construir sua marca ou empresa, ideia ou serviço, independentemente do tamanho e da complexidade deles. Alguém que trabalha com foco e determinação.

No começo, os amigos interagem, compram serviços, apresentam oportunidades, recomendam. Com o tempo, a pessoa começa a obter resultados positivos e exposição. Os votos de sucesso e força, bem como as pequenas ações de suporte e interação são substituídos por felicitações superficiais e abandono.

Em ambos os casos, o fato é que grande parte das pessoas "de fora" conclui (ou decide) que quando alguém avança na vida, na escala organizacional ou social, ela não precisa (ou não merece) de ajuda, carinho, suporte, cuidado, atenção, feedback positivo, reforço etc. Quase como punição inconsciente, a empatia e a disposição para ajudar começam a desaparecer.

Pronto. Aí está a receita da Solidão do Poder

O mais curioso sobre esse conceito de poder, é que ele não precisa ser real. Ele é uma pressuposição assumida pelas pessoas e atribuída a alguém, de fora para dentro.

A penalização recai sobre quem é eficiente na gerência de sua própria vida, porque, muitas vezes, quem sofre com a solidão do poder são pessoas que usam a ação e não a reclamação como estratégia para resolver problemas.

São vistas como indivíduos que demonstram pouca vulnerabilidade. Ao menos, a vulnerabilidade que é vendida como apelo de marketing: a pessoa que faz vídeo chorando no carro; a selfie ensaiada contando sobre a emoção de ver uma experiência de terceiros; a verborragia dos desabafos montados nas redes sociais etc.

Mas, veja bem, quem está se resolvendo de verdade, não tem tempo nem saco pra ficar de enrolação. Isso não quer dizer que seja herói.

Leia a frase a seguir com muita atenção: Só porque uma pessoa está dando conta de suas obrigações, não significa que esteja fácil.

cartaz solidão do poder - Produção/Alexandre Pellaes - Produção/Alexandre Pellaes
Imagem: Produção/Alexandre Pellaes

Se você se reconhece nessa situação, receba aí um abraço. Respire. Siga. Saiba que, apesar do sentimento de solidão, o seu exemplo se torna inspiração para outras pessoas.

Se esse não for o seu caso, aproveite a conscientização para reforçar a empatia. Mas tem que ser empatia de verdade, viu? Não a empatia seletiva, em que você escolhe com quem vai ser gentil... Tem que enxergar até o chefe, a pessoa que trabalha bem mas de quem você tem inveja, e a estrela do time, com quem você não tem afinidade. Difícil, né? Mas é uma questão de conexão e humanidade.

Equipes e pessoas que se sentem reconhecidas e valorizadas entre si criam laços mais fortes. Afinal, às vezes, até o Super-Homem e a Mulher Maravilha se sentem um pouco sós ;^)

Você acredita que esse fenômeno é real, ou é mimimi da liderança?

Alguma vez você já se sentiu a solidão do poder recaindo sobre você?

Escreva seu comentário abaixo ou me contate no instagram @pellaes.

Um abraço e muito obrigado pelo seu trabalho!

Lugares Incríveis Para Trabalhar

Alexandre Pellaes é colunista do Lugares Incríveis Para Trabalhar, uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores do prêmio são definidos a partir da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. As inscrições para a edição 2022 estão abertas e vão até 30 de maio.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL