EUA e China dão sinais de desescalada na guerra comercial
Ler resumo da notícia
A semana termina com sinais de desescalada na guerra tarifária. Tanto Trump quanto Xi Jinping dão o braço a torcer diante da constatação óbvia de que as duas maiores economias do mundo dependem uma da outra. O custo é altíssimo: emprego, crescimento, comércio e popularidade! Seja numa democracia ou ditadura.
Desde terça, Donald Trump tem diminuído o tom, tanto em relação à ameaça de demissão de Powell, como às tarifas impostas à China. Segundo o presidente americano, a sobretaxa ficará em 145%, o que, na prática, impõe um embargo ao inviabilizar o comércio entre os dois países.
Primeiro, a China negou as negociações e demandou que Washington recuasse unilateralmente das tarifas impostas para conversar. Hoje, surgiram os primeiros sinais concretos de recuo por parte dos chineses. Segundo a imprensa americana, citando fontes chinesas, o país isentou alguns produtos americanos da tarifa de 125%. Fármacos, químicos, semicondutores e peças de aviação estariam na lista.
"A notícia é de que foram liberados oito códigos relacionados a semicondutores no porto de Shenzhen, um dos maiores da China. Possivelmente deverão fazer liberação para equipamentos médicos e químicos, etanol e gás liquefeito. Mas isso não está oficializado", diz Marcus Vinicius de Freitas, professor da Universidade de Relações Exteriores da China.
Autoridades locais não confirmam. Pelo contrário, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores disse não estar ciente da notícia de que Pequim planeja eximir alguns produtos importados dos Estados Unidos de tarifas.
Marcus Vinicius não duvida que o recuo possa acontecer em setores específicos. "Americanos também abriram para produtos eletrônicos. Nenhum dos dois consegue ser 100% independente. Semicondutores são um problema pra China. Eles precisam de chips americanos e do sudeste asiático. Para alguns produtos não há substituto".
Depois de uma segunda-feira de estresse nos mercados (Brasil estava fechado por conta do feriado), com a independência do Fed em xeque, as bolsas se recuperaram no restante da semana. Contribuíram sinais otimistas da Casa Branca de negociações com uma série de países e a temporada de balanços das empresas americanas. Embora gigantes como American Airlines, Procter & Gamble e PepsiCo tenham alertado sobre as dificuldades de planejamento diante da incerteza tarifária.
Para Álvaro Bandeira, coordenador de economia da Apimec, caso não haja recuo, o custo pode ser recessão em muitos países, com endividamento alto e possibilidade de atingir o setor financeiro. "O pior é que é uma crise fabricada, diferente de outras crises globais, como o subprime em 2008 e a pandemia em 2020.
Marcus Vinicius ressalta que Xi Jinping é pragmático, mas não dará o braço a torcer. Só sentará para conversar se for procurado por Trump. "São dois estilos diferentes na forma de agir. Trump impõe sua vontade e quer que os outros peçam desconto. Xi Jinping está numa diplomacia superativa. Viajou pelo sudeste da Ásia. E agora tem encontro com pares na Europa central.
É uma postura missionária de relacionamento comercial. Alguns aqui dizem que Trump foi o melhor presidente que a China poderia ter. Ele causa um trauma global", relata. E conclui: "A guerra tarifária conseguiu reunir um sentimento nacionalista, de que a China está sendo atacada, é vítima. O apoio interno é efusivo. A popularidade de Xi está em alta". E é com esse sentido de resistir que os chineses vão até o fim. Trump já piscou algumas vezes. Xi mantém-se impávido.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.