IBC-Br mostra economia aquecida e desafios para o BC
Ler resumo da notícia

O IBC-Br, considerado a prévia do PIB (Produto Interno Bruto), superou as estimativas no primeiro trimestre do ano. Em março, o índice de atividade do Banco Central ficou em 0,8%, uma aceleração em relação a fevereiro (0,4%) e acima da projeção de 0,5% do mercado. De janeiro a março, o índice registrou um aumento de 1,3% da atividade econômica em relação ao trimestre anterior. Agropecuária (1,05%) e indústria (2,15%) responderam pela maior parte dessa dinâmica.
Para Marcio Holland, professor de economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), o IBC-Br veio alto. "No mês de março, excluindo a atividade da agropecuária, veio 0,73%, ou seja, muito puxado pela indústria, o que impressiona. A economia ainda tem uma tração relevante, e isso sim joga mais pressão nos preços e maiores desafios ao Banco Central. A expectativa é que a economia comece a se acomodar nos próximos trimestres, principalmente no segundo semestre do ano, porque no primeiro semestre ainda pesa muito a expansão da agropecuária", pondera.
Juros altos ainda não mostraram todo o efeito.
Holland explica que o aperto monetário ainda não surtiu todo o seu efeito esperado para os próximos trimestres, com menor demanda por bens duráveis e algum impacto no setor de construção, além do aumento da inadimplência das famílias. "Esse efeito negativo para as famílias é importante para a potência da política monetária, ou seja, conseguir convergir a taxa de inflação para dentro das bandas de tolerância das metas [de inflação] no médio prazo. Claro que medidas de estímulo do governo comprometem esse canal de crédito, mas, de alguma forma, ele chega uma hora na inflação", diz o professor.
Ele identifica alguns canais de impulso para a demanda ainda robusta, apesar do nível restritivo de juros: "Tem os impactos pelo canal de crédito advindos do consignado a trabalhadores do setor privado, a manutenção das elevadas transferências de renda para as famílias brasileiras, que jogam contra o ciclo de aperto monetário. O ciclo de aperto monetário tem uma defasagem e deve começar a impactar a economia de modo mais significativo nos próximos trimestres".
Segundo Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, a agropecuária, grande motor de crescimento do primeiro trimestre, não é a única responsável pela atividade econômica resiliente. "É agro, mas é mais que isso. Condições de renda muito favoráveis atenuam impacto do crédito", resume. Para ele, o Banco Central deveria continuar subindo os juros, mas não foi isso que comunicou. "O Copom [Comitê de Política Monetária do BC] disse que vai esperar os efeitos das altas passadas e do quadro global", comenta Padovani. Hoje, Gabriel Galípolo reforçou a percepção do 'higher for longer' (juros maiores por mais tempo) em evento do Goldman Sachs: "Nossa visão é manter o nível de juros e um nível muito restritivo por um período prolongado".
Em um ambiente de tantas incertezas, daqui e de fora, banqueiro central é a profissão mais ingrata do mundo na atual conjuntura!
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.