Amanda Klein

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Reportagem

Banco Central faz serviço que governo não fez

O Copom optou por um último choque de juros — já na máxima em quase duas décadas — para ancorar as expectativas. Ninguém imaginava que Gabriel Galípolo vestiria tão bem o modelito hawk, jargão do mercado para conservador. Desde que assumiu, os juros subiram de 12,25% para 15% ao ano.

O mercado estava dividido em relação à decisão do Banco Central: metade achava que a Selic seria mantida e metade esperava uma alta. No comunicado, o Copom informou que a partir de agora interrompe o ciclo de aperto monetário para "examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado". No economês, dá um "forward guidance", avisa que parou.

Alexandre Azara, economista-chefe do UBS, avalia que a Selic ficará alta por mais tempo, o "higher for longer", com o primeiro corte só no ano que vem. "A mensagem é: não precifiquem corte de juros logo", afirma.

Já Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que dependerá do cenário à frente. "Se o cenário de inflação melhorar, eles mudariam de posição. Não está certo que vai ficar em 15% o ano inteiro. Pode começar a cair antes", resume.

Roberto Padovani, economista-chefe do BV, elenca quatro sinais importantes no comunicado. "O BC mostrou cautela subindo a taxa de juros. No balanço de riscos, ressaltou a inflação corrente, câmbio e expectativa de inflação como justificativas para a alta, avisou que agora para de subir para aguardar os efeitos do ciclo de aperto. E, se não funcionar, retoma alta dos juros. O objetivo é claramente desacelerar a atividade econômica e fazer inflação convergir para o centro da meta".

Já Gabriel Redivo, Economista da Aware Investment, nota que a decisão reflete a preocupação com o cenário fiscal e a volatilidade do câmbio. "O BC preferiu ganhar tempo e preservar credibilidade." Enquanto o governo perde credibilidade, o Banco Central trabalha para manter a dele.

No front político, até aqui Galipolo havia sido poupado de críticas de Lula e do PT. Mas a saraivada começou.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, postou nas redes sociais: "A taxa de 15% é indecente, proibitiva e desestimula investimentos produtivos… Falam muito de ajuste fiscal e da dívida pública. Mas o crescimento da dívida não vem dos programas sociais com saúde ou educação — vem do pagamento de juros".

Parece que o PT vai eleger um novo bode expiatório.

Reportagem

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