Camila Maia

Camila Maia

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Disputa entre sócios privados acirra eleição do conselho da Eletrobras

Os acionistas da Eletrobras decidem nesta terça-feira, 29 de abril, a nova composição do conselho de administração da companhia, em uma votação que reforça que, mesmo com o capital pulverizado e sem um controlador desde sua privatização, em 2022, a Eletrobras ainda é um ativo político e estratégico de altíssimo valor tanto para o governo quanto para os sócios privados.

Essa deve ser a primeira assembleia com três indicações da União, se os acionistas antes aprovarem os termos do acordo que a empresa fechou com o governo para encerrar o questionamento da sua privatização no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para os nomes da União, foi a relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que determinou os indicados, todos com histórico de atuação no setor elétrico em governos passados do PT. Para as sete cadeiras dos sócios privados, porém, há 12 nomes indicados, o que tem gerado intensa disputa entre acionistas e uma crescente tensão, com direito a acusações em redes sociais e recomendações de votos divergentes pelas consultorias internacionais ISS e Glass Lewis.

Vagas da União, vagas do presidente Lula

No caso dos indicados pela União, não há conflito aparente. O governo federal enviou dia 27 de março as indicações dos ex-ministros de Minas e Energia Silas Rondeau, Maurício Tolmasquim e Nelson Hubner.

Para essas vagas, a disputa aconteceu nos bastidores, antes mesmo da assinatura do termo de conciliação, que aconteceu dia 26 de março. Segundo fontes, Hubner, que foi ministro do MME no segundo governo Lula, entre 2007 e 2008, e diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) de 2009 a 2013, era contrário ao termo de conciliação e defendia a reestatização da empresa.

Em paralelo, os técnicos do MME conduziam as negociações em torno do acordo, e o ministro Alexandre Silveira tinha nomes que gostaria de emplacar no conselho, especialmente Arthur Cerqueira, secretário-executivo da pasta que está de saída para seguir carreira como advogado no setor privado, e já faz parte do conselho de administração da PPSA (Pré-Sal Petróleo).

Quando o acordo foi enfim concretizado, porém, foi a Casa Civil que indicou os conselheiros, todos de confiança do presidente Lula e ligados ao PT. Silas Rondeau, hoje presidente da ENBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional), foi ministro do MME de 2005 a 2007, também no governo Lula 2. Maurício Tolmasquim, diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras desde 2023, foi ministro do MME em 2005 e depois disso presidiu a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) até a saída de Dilma Rousseff, em 2016.

O governo também indicou Guido Mantega para o conselho fiscal da Eletrobras, mas mudou os planos e informou à Eletrobras que irá informar o nome do candidato "em momento oportuno".

Continua após a publicidade

A votação começa às 13h, com uma Assembleia Geral Extraordinária em que os acionistas, exceto a União, votarão sobre o acordo que dá as três cadeiras ao governo e encerra os questionamentos da privatização.

Às 14h30, começa a Assembleia Geral Ordinária, cujo tema principal será a composição do conselho de administração — agora a principal fonte de tensão para a administração atual da empresa.

Tensão entre acionistas privados

A administração da Eletrobras indicou e tem defendido publicamente uma chapa que traz algumas mudanças em relação à composição atual, com a recondução do chairman Vicente Falconi, e dos conselheiros Ana Silvia Corso Matte, Daniel Alves Ferreira, Felipe Villela Dias e Marisete Pereira. Também foi indicado o sócio de longa data da Eletrobras Pedro Batista, que tem eleição em separado pelos acionistas preferencialistas. A novidade é a entrada de Carlos Marcio Ferreira.

Ficou de fora da lista do governo o atual conselheiro Marcelo Gasparino, que manteve sua candidatura e passou a integrar um grupo de dissidentes, com o banqueiro Juca Abdalla Filho. Eles foram indicados pelos acionistas Geração L. Par, Tempo Capital Principal, RPS e Clave, que também indicaram Rachel Maia para a vaga dos preferencialistas, batendo de frente com Pedro Batista. Os mesmos investidores, posteriormente, indicaram Afonso Henriques, caso o nome de Juca Abdalla seja reprovado por ser conselheiro da Petrobras.

Gasparino tornou-se símbolo da crise interna ao receber três advertências formais do conselho de administração por publicações críticas nas redes sociais, consideradas violações ao Código de Conduta e às normas de governança da empresa. A mais recente advertência, comunicada ao mercado no último domingo (27), indica que a Eletrobras encara sua atuação como uma falta grave, a poucos dias da eleição.

Continua após a publicidade

"Diante da proximidade da Assembleia Geral Ordinária, a ser realizada no próximo dia 29 de abril, na qual consta a candidatura do conselheiro de Administração Marcelo Gasparino da Silva para novo mandato no Conselho de Administração, e do cometimento de falta grave pelo referido conselheiro, impõe-se a comunicação imediata aos acionistas das condutas irregulares narradas acima e das medidas de saneamento adotadas pelo Conselho de Administração em cumprimento a seus deveres fiduciários", diz o comunicado da Eletrobras enviado aos acionistas no dia 27 de abril.

Até a publicação desta reportagem, o conselheiro não voltou a publicar críticas ao conselho após ser comunicado da terceira advertência. Em post de ontem, 27 de abril, no LinkedIn, Gasparino agradeceu os acionistas que votaram nele em boletim à distância, cujo prazo já terminou, e disse que deseja que o melhor aconteça para a Eletrobras, "independentemente de posições individuais".

"Meu desejo é que o melhor resultado se materialize para a Eletrobras dia 29/04/25, independentemente de posições individuais. Espero firmemente que, no dia 30, após a Assembleia, todos os conselheiros eleitos possam sentar à mesma mesa, deixando de fora da companhia as vaidades e divergências, unindo forças em prol da nossa Eletrobras", escreveu.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.