Haddad busca data centers, mas acesso à rede elétrica é obstáculo
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desembarcou nos Estados Unidos nesta semana com a ambiciosa missão de atrair investimentos trilionários para instalação de data centers no Brasil. Em encontros com executivos de big techs como Google, Amazon e Nvidia, o governo vende a promessa de uma infraestrutura sustentável, ancorada na disponibilidade de energia limpa e na reforma tributária, que deve reduzir o custo de bens de capital e das exportações de serviços de tecnologia.
A retórica é afinada com as demandas das big techs, que buscam locais com estabilidade política, segurança energética e, cada vez mais, matriz renovável. O Brasil parece um candidato promissor, mas os planos do governo esbarram num obstáculo importante: a falta de espaço para conexão de grandes cargas na rede.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem rejeitado solicitações de acesso à rede por parte de projetos de data centers e projetos de hidrogênio verde, por entender que representam sobrecarga em pontos críticos do sistema, com riscos operacionais, especialmente no Nordeste, região que já opera no limite.
Até projetos localizados em regiões com obras em curso, como o Bipolo Graça Aranha-Silvânia, linhão licitado em 2023, enfrentam limitações, já que os novos ativos estão dimensionados para atender demandas de intercâmbio entre regiões, ou seja, reforçar o envio de energia do Nordeste para onde o consumo se concentra, no Sudeste.
O planejamento do Sistema Interligado Nacional (SIN) caminha em prazos incompatíveis com a velocidade de execução dos investimentos em novas cargas de grande porte. A execução da infraestrutura envolve ritos importantes, desde planejamento das obras, licenciamento, leilões de transmissão e construção.
Mesmo com o cenário de oferta excedente de energia renovável e ocorrência de cortes de geração (conhecidos pelo termo em inglês curtailment) custando bilhões às geradoras, o gargalo de conexão à rede continua sendo uma barreira à viabilidade de novos projetos do lado de consumo, pelo menos nos próximos anos.
Plano em fase final de elaboração
Ainda que a agenda de Haddad na Califórnia tenha antecipado discussões, o Plano Nacional de Data Centers (Redata) ainda está em fase final de elaboração, com atuação de outras pastas além da Fazenda, como o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MIDC), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e o Ministério de Minas e Energia (MME).
Segundo o governo, a intenção do plano é atrair R$ 2 trilhões em investimentos na próxima década. Nas próximas semanas, deve ser enviado ao Congresso um projeto de lei ou uma Medida Provisória (MP) com alterações previstas no plano, como a isenção de tributos federais os bens de capital ligados aos data centers.
A pressão política sobre o ONS é grande. A equação da política pública envolve ainda uma discussão regulatória sobre a alocação de custos e a previsibilidade de acesso à infraestrutura. A Aneel estuda mudanças nas regras de conexão de grandes consumidores intensivos em energia, mas ainda não há definição sobre prazos, responsabilidades ou critérios técnicos que deem previsibilidade a esses investimentos.
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