Camila Maia

Camila Maia

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Governo discute volta do horário de verão após risco de déficit de energia

O governo brasileiro voltou a discutir o retorno do horário de verão em 2025, depois que o leilão de reserva de capacidade que aconteceria em junho foi cancelado, e aumentou o risco de déficit no atendimento dos picos de demanda por eletricidade no segundo semestre. A decisão final, contudo, é política e passa pela análise de impacto em outros setores da economia.

No ano passado, o assunto mobilizou o setor de energia, depois que o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), órgão que coordena e controla a operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica, recomendou o retorno do horário de verão por identificar potencial de redução de até 2,9% da demanda máxima por energia no país.

Segundo o estudo, o horário de verão ajuda a minimizar a chamada "rampa da carga" entre 18h e 19h, ou seja, o horário no fim do dia em que o país perde a geração solar fotovoltaica, mas o consumo de energia elétrica cresce. O ajuste nos relógios iria postergar a demanda máxima em até duas horas, alongando os impactos da saída da solar e minimizando o risco de problemas no abastecimento do país.

Horário de verão de volta à mesa

A discussão voltou à tona na última semana. O ONS recomendou sua adoção ao CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), órgão que acompanha e avalia a continuidade e segurança do fornecimento de energia elétrica ao país. À Agência Infra, o diretor-geral do ONS, Márcio Rea, disse em entrevista nesta semana que "tecnicamente é importante" o retorno do horário de verão e que seria viável sua implementação ainda neste ano.

Reunião do CMSE desta semana discutiu retomada do horário de verão, entre outras medidas
Reunião do CMSE desta semana discutiu retomada do horário de verão, entre outras medidas Imagem: Ricardo Botelho/MME

O atraso do leilão de reserva de capacidade, que aconteceria em junho e contrataria a disponibilidade de termelétricas a partir de setembro deste ano, reforçou a necessidade de alternativas para evitar déficit de potência no país. Nessa semana, o CMSE já autorizou a antecipação de contratos de 2 GW em termelétricas que iriam começar a valer em julho de 2026, e outras medidas devem ser implementadas nos próximos meses.

O leilão ainda não foi reiniciado pelo governo, o que precisa acontecer o quanto antes para evitar que cenários como esse se repitam nos próximos anos, com risco cada vez maior de blecautes conforme o pico de carga avança.

Cancelado em 2019

O horário de verão, prática em que os relógios eram adiantados em uma hora para diminuir o consumo de energia pelo melhor aproveitamento da luz natural, foi extinto em 2019, pelo governo do então presidente Jair Bolsonaro. Na época, o cenário era diferente e estudos mostraram que havia baixa economia de energia, além de impacto negativo na saúde da população.

Continua após a publicidade

Desde então, porém, houve um crescimento expressivo da fonte solar fotovoltaica - eram 4 GW (gigawatts) no fim de 2019 e hoje são 56 GW - e mudanças no comportamento do consumo de energia elétrica, que deslocaram o período de pico de carga para o fim do dia.

Ainda assim, em 2024, o governo preferiu não implementar o horário de verão, ainda que os segmentos de turismo, comércio, bares e restaurantes tenham se posicionado à favor da mudança, assim como o Ministério de Minas e Energia.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.