Solar flutuante pode adicionar duas Itaipus ao país
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A instalação de sistemas solares flutuantes em apenas 1% da área dos reservatórios hidrelétricos do Brasil poderia adicionar até 38 GW (gigawatts) à matriz elétrica nacional. O volume é mais que o dobro da potência instalada da hidrelétrica Itaipu Binacional, que tem 14 GW, e não exigiria a ocupação de um metro quadrado de terra adicional.
O cálculo é da consultoria especializada PSR, em estudo obtido com exclusividade pela coluna.
"A integração entre hidrelétricas e sistemas solares flutuantes ou próximas de reservatórios é uma opção estratégica para o Brasil avançar na transição energética com eficiência e sustentabilidade", disse Rafael Kelman, diretor-executivo da PSR. "Trata-se de uma oportunidade para usar a infraestrutura já existente para expandir rapidamente o uso de fontes renováveis".
Apesar do alto potencial técnico, econômico e ambiental, a adoção dessa tecnologia ainda é limitada por entraves regulatórios, riscos de corte na geração e incertezas sobre o despacho conjunto com as hidrelétricas.
Projetos economicamente viáveis
Do ponto de vista econômico, os projetos de geração solar flutuante seriam viáveis, especialmente em cenários em que os preços de energia no mercado de curto prazo estão mais elevados.
Caso um investidor consiga garantir um contrato de venda de energia de longo prazo de até R$ 190/MWh, 17 GW seriam viáveis, com geração média equivalente a 14% da geração hídrica das usinas analisadas.
Para efeito de comparação, o preço médio de quarta-feira, 28 de maio, foi de pouco menos de R$ 300/MWh em quase todo o país - mas preços de contratos de longo prazo tendem a ser menores que os do mercado de curto prazo.
Considerando os preços do mercado de curto prazo registrados entre 2015 e 2023, seriam viáveis economicamente 24 GW, com destaque para a oportunidade de instalação de painéis em Itaipu.
O estudo da PSR aponta ainda que os sistemas flutuantes podem reduzir a evaporação da água dos reservatórios das hidrelétricas entre 30% e 50%, dependendo da área coberta, contribuindo com a conservação de água para a geração hidrelétrica, embora o ganho direto de produção de eletricidade com a água economizada seja modesto.
A operação híbrida também traz sinergias importantes, como perfis de geração complementares e uso compartilhado da infraestrutura de escoamento, o que pode reduzir custos de conexão e facilitar a integração das fontes.
Potencial teórico: mais de 15 vezes a matriz do Brasil
Segundo o estudo, o potencial de geração solar flutuante nas superfícies de todos os reservatórios das hidrelétricas do país é de até 3.800 GW, mais de 15 vezes superior que a capacidade instalada atual do país, de 235 GW.
O número, porém, é apenas teórico, já que desconsidera limitações físicas e operacionais das hidrelétricas, como a necessidade de manter áreas livres para operação e segurança, ignora limites de capacidade de conexão com a rede elétrica, restrições ambientais e sociais. Muitos reservatórios são usados para navegação e turismo, por exemplo.
Utilizar 1% dos reservatórios para instalar os painéis solares, por sua vez, significaria aproveitar ao máximo o uso complementar das fontes hídrica e solar.
A PSR estima que esse percentual é "seguro" do ponto de vista ambiental, logístico e regulatório, facilitando o licenciamento e a aceitação pelas comunidades locais.
Riscos mitigáveis
Ainda assim, há riscos embutidos na análise, como os cortes de geração de energia, conhecidos pelo termo curtailment. Cada vez mais a geração renovável tem sofrido com esses cortes por diversos motivos, como gargalos na rede de transmissão e falta de demanda.
Há também aspectos regulatórios e ambientais que precisam ser equacionados, mas a consultoria avalia que podem ser mitigados com boas práticas, como o monitoramento ambiental contínuo e a escolha de áreas com boa circulação de água.
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