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Carla Araújo

Presidente tem responsabilidade e precisa checar informações

22.mai.2020 - Aos gritos e palavrões, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) concede entrevista em frente ao Palácio da Alvorada - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
22.mai.2020 - Aos gritos e palavrões, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) concede entrevista em frente ao Palácio da Alvorada Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Brasília

23/05/2020 07h00

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"Rede de amigos talvez. Todo mundo tem". A frase foi dita por um auxiliar do presidente Jair Bolsonaro ligado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ao responder o que o presidente Jair Bolsonaro quis dizer ao falar que possui um sistema particular de informação.

À noite, em quase uma hora de entrevista ao vivo, transmitida por suas redes sociais, o presidente tentou explicar o que quis dizer e afirmou que conta com "amigos policiais civis e militares do Rio de Janeiro", que lhe passam informação.

É natural que pessoas compartilhem com amigos informações. A maior parte da população realmente participa de grupos de amigos, colegas de trabalho, de família. Até ai, tudo bem.

A questão é que o presidente Jair Bolsonaro, ao dizer que possui um "sistema particular de informação", reforça a guerra de narrativas que tem permeado o governo e acirra ânimos ao abrir caminhos para a continuidade da era das "fakes news".

A narrativa de Bolsonaro de criticar abertamente o Supremo Tribunal Federal (STF), atacar a imprensa e desconfiar das instituições soa como música aos ouvidos de seu eleitor. Ganha apoio o presidente. Ganham suposta credibilidade as informações, que muitas vezes escondem a realidade.

Há uma crise institucional no país. E o atual chefe do Poder Executivo já avisou que ele manda ao dizer a seus ministros que todos poderiam ser trocados se discordarem dele pois: "não estamos de brincadeira".

Ninguém quer um governo que brinque. A responsabilidade de governar um país é imensa, ainda mais um com dimensões continentais e tamanha desigualdade. Ainda mais durante uma pandemia, que já matou mais de 20 mil brasileiros.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, há quase um ano, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete Institucional (GSI) e chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) foi questionado se havia relatórios ou levantamentos para explicar a tese do governo de "doutrinação em salas de aula" e respondeu o seguinte:

"Nossa senhora! Tem muita coisa, só WhatsApp e vídeo no YouTube tem uns 300. Recebi várias fotos de várias universidades mostrando o estado de depredação em que elas se encontram, depredação que não foi fruto de vendaval ou furacão, foi depredação por livre e espontânea vontade dos alunos".

Com todo respeito a trajetória do general Heleno, que é admirado pelos pares e tem uma biografia reconhecida nas Forças Armadas, espera-se que a inteligência brasileira vá além do WhatsApp, das redes sociais.

E espera-se de um Presidente da República que ele saiba o tamanho da sua responsabilidade. E que, além de falar o que agrada seus eleitores, deve governar um país sem ser "o tiozão do zap".

Checar informação é premissa básica da imprensa. E deve ser também de Bolsonaro.