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Carla Araújo

Militares consideram comparação de Barroso com a Venezuela como "esdrúxula"

13.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro e o ministro do STF Luís Roberto Barroso se cumprimentam usando os cotovelos - Marcos Corrêa/PR
13.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro e o ministro do STF Luís Roberto Barroso se cumprimentam usando os cotovelos Imagem: Marcos Corrêa/PR

Do UOL, em Brasília

16/06/2020 12h36

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A declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, ontem (15), ao programa Roda Viva, de que é "ruim e preocupante começar a povoar cargos no governo com militares" e que isso foi o que aconteceu na Venezuela foi repudiada por militares que fazem parte do governo.

"Quando um Ministro do STF faz uma comparação esdrúxula entre dois países de formação histórica e cultura distintas me parece que tem a intenção de enviar uma mensagem de advertência às Forças Armadas! Com que objetivo?", questionou um militar de alta patente.

Barroso disse ainda que esse processo pode ser considerado um "chavização", ou seja, que haveria o risco de o governo de Jair Bolsonaro repetir os feitos de Hugo Chávez na Venezuela. "Quando você multiplica militares eles começaram a se identificar com o governo e começam a se identificar com vantagens e privilégios. É um desastre e não pode acontecer", disse o ministro do STF.

Na avaliação de um general que atua na inteligência, o comportamento de Barroso deve ser repudiado. "Parece-me, como de hábito desse indivíduo, bem melosa, melíflua, enganosa, venenosa, tergiversa, e suavemente malandra", destacou.

Outro general, que despacha no Palácio do Planalto, ressalta que a presença de militares neste atual governo "nada tem a ver com as Forças em si". "As Forças estão cumprindo suas obrigações constitucionais, sem nenhuma influência política de qualquer militar que esteja no governo", disse.

A lógica defendida pelos auxiliares militares é de que o presidente "procura trabalhar com gente em quem confia". "Sobre a Venezuela, ele (Barroso) está cansado de saber que não há o mais mínimo termo de comparação. Aqui o governo nem é corrupto, e nem está mais ligado intimamente ao narcotráfico", defendeu. "Nem aqui o governo está cooptando militares com aumentos de soldo exagerados e totalmente fora do contexto nacional", completou

Ao falarem sob condição de anonimato os auxiliares militares do governo salientaram que não é hora de "colocar mais lenha na fogueira" e que eventuais "provocações do Supremo" devem ser respondidas com cautela.

Além de diversos auxiliares fardados, o Palácio do Planalto hoje possui três dos quatro ministros que despacham na sede do Executivo oriundos do Exército: general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), general Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Ramos é o único que ainda está na ativa, mas tem sido incentivado por seus pares para pedir que vá para a reserva.

O vice-presidente Hamilton Mourão, que também é general, tem sido um dos defende que militares da ativa em cargos políticos devem passar para a reserva.

Exército é de Estado

No Quartel-General do Exército a ordem também é tentar se afastar da crise envolvendo os poderes Executivo e Judiciário. Segundo uma fonte, os comandos das Forças têm tentado dificultar a ida de militares da ativa para o governo, ou pelo menos, tem feitos críticas reservadas ressaltando que as Forças Armadas são instituições de estado e não de governo.

Generais da ativa que não fazem parte do governo preferiram, por exemplo, não comentar as declarações do ministro Barroso. "Temos muito trabalho no Exército para ter opinião sobre tudo o que se tem falado hoje em dia", disse uma fonte.