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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Adriano Pires confirma ao governo que não assumirá presidência da Petrobras

Adriano Pires havia sido indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para assumir o comando da Petrobras - Pedro França/Agência Senado
Adriano Pires havia sido indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para assumir o comando da Petrobras Imagem: Pedro França/Agência Senado

Do UOL, em Brasília

04/04/2022 20h02Atualizada em 04/04/2022 21h24

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O economista e consultor Adriano Pires desistiu de ocupar o cargo de presidente executivo da Petrobras. Ele havia sido indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na semana passada, em substituição ao general da reserva Joaquim Silva e Luna, após críticas do mandatário sobre alta nos preços de combustíveis.

Na noite desta segunda-feira (4), em uma carta enviada ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, Pires afirmou que não poderia conciliar o cargo na Petrobras com as atividades de consultoria para empresas do setor (leia aqui a íntegra da carta). Ele afirma ainda que não ter tempo hábil para se desvincular de suas outras atividades.

"Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da Presidência da Petrobras. Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria que fundei há mais de 20 anos e hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que infelizmente não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo", disse o economista.

Pires destacou ainda que atua há três décadas no setor e que tinha recebido o convite do governo como uma missão e com "a certeza de pode ajudar a Companhia e o País a enfrentar a atual conjuntura de turbulência e incerteza no cenário mundial". O presidente Bolsonaro abriu uma crise pública com Silva e Luna ao pedir reações à alta dos preços dos combustíveis.

A ala política do governo tem defendido que a estatal conceda subsídios aos combustíveis, o que a equipe econômica é contra. Em meio ao impasse, Bolsonaro foi convencido de que a mudança no comando da estatal seria uma sinalização eleitoral importante de que o governo está buscando soluções.

No documento de recusa, o economista diz que possui um "alinhamento de visões em relação ao papel da Companhia neste momento" e que defende publicamente a importância "de regras de mercado e do aumento da competição, em prol do consumidor e da sociedade".

Pires já havia avisado a interlocutores do presidente Bolsonaro pela manhã de que não aceitaria mais o cargo, no entanto, Bolsonaro tentou fazer o economista desistir da ideia.

O MME também divulgou um outro documento assinado por Bento Albuquerque, no qual o ministro diz o convite ao economista foi feito pela "sólida formação profissional" no mercado, mas que compreende a decisão. "Em decorrência de suas considerações consignadas na carta encaminhada a esta Pasta, compreendemos as razões que o motivaram a declinar da indicação à Presidência da Petrobras", escreve Bento.

O ministro diz ainda estar certo que o governo poderá contar com "oportunas contribuições" de Pires e deseja "continuado sucesso em sua vida pessoal e profissional".

Conflito de interesses

Conforme mostrou a coluna mais cedo, a situação do economista vinha forçando o governo a procurar novos nomes porque relatórios internos da estatal apontavam dificuldades para que o nome dele fosse aprovado na reunião do Conselho da empresa, que será realizada no próximo dia 13. As informações dos relatórios foram reveladas pelo jornal O Globo e confirmadas pela coluna.

Segundo fontes da Petrobras, "o dossiê" da diretoria apontava um provável conflito de interesses do economista para assumir a estatal, já que ele é consultor e possui ligações com empresários e empresas do setor de gás. A lista de clientes atendidos por Pires, no entanto, não é informada, conforme mostrou o UOL.

Adriano Pires é sócio e fundador do Cbie (Centro Brasileiro de Infraestrutura). Doutor em economia industrial pela Universidade de Paris 13, Pires tem mais de 40 anos de atuação na área de energia e já passou pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis).

O relatório diz que ele teria "conflitos demais". Além de atuar como consultor do empresário Carlos Suarez, ele também trabalha com a Abegás, associação do setor, Compass, concessionário de gás do empresário Rubens Ometto, entre outras empresas.

Como presidente da Petrobras, Pires decidiria sobre contratos e disputas judiciais e teria acesso a todo tipo de informação confidencial.

Fontes ouvidas pela coluna disseram que Pires não dava indicações de que estaria disposto a deixar o lado empresarial de lado. Normalmente, quando há problemas para o indicado, afirmaram, é mais natural que a pessoa desista de assumir o cargo para "diminuir sua exposição".

Ontem, Rodolfo Landim, presidente do Flamengo e ex-executivo da Petrobras, também desistiu de comandar o Conselho de Administração da petroleira.

Substitutos em estudo

O governo começou o dia "sem plano B" para o lugar de Pires, mas já estava fazendo avaliações para o lugar do presidente do Flamengo, que já tinha desistido no fim de semana.

Segundo uma fonte do Planalto, o presidente deve ouvir alguns conselheiros e aliados antes de uma decisão, mas cabe oficialmente ao ministro Bento apresentar as novas opções. Nesta terça-feira (5), Bolsonaro já convocou uma reunião com Bento, no início da tarde, no Planalto.

O governo tem até o dia 13 de abril para escolher o substituto de Silva e Luna, já que na data acontecerá a reunião da diretoria que avaliará os indicados para o comando da estatal e para o Conselho.

O governo sabe a importância dessa informação e seus impactos para o mercado financeiro, então, nas palavras de um auxiliar, é possível que se encontre uma "solução caseira". Nomes de técnicos da economia e de auxiliares militares estão circulando nas apostas dos cotados.

Petrobras aguarda indicações

Após a publicação do MME, a Petrobras também divulgou um comunicado, na noite desta segunda-feira, confirmando ter recebido os ofícios das desistências de Rodolfo Landim e Pires.

"A companhia esclarece que, até o momento, não recebeu informações do Ministério das Minas e Energia acerca das substituições dos indicados", completou, em nota.