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Como youtubers virtuais vêm causando burnout de atores na China e no Japão
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Um anúncio pegou de surpresa os jovens da China e deixou os fóruns de internet no país em polvorosa. Integrante do A-SOUL, um dos principais grupos pop da atualidade, Carol teve de entrar em "hibernação" por motivos de "saúde".
Com dois milhões de seguidores no Weibo e quase quinhentos mil fãs no Bilibili, duas importantes redes sociais chinesas, o A-SOUL foi criado há dois anos por uma produtora associada à ByteDance, grupo que controla o TikTok.
Só que o A-SOUL não é um conjunto pop convencional, como Spice Girls ou Backstreet Boys. Suas integrantes são personagens virtuais, cujas feições lembram a estética dos mangás, aqueles gibis bastante populares entre adolescentes.
Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, vozes, trejeitos e personalidades não são programados por inteligência artificial — tudo é fornecido por atrizes e cantoras de carne e osso. Na internet, é fácil encontrar vídeos de modelos vestindo roupas pretas, semelhantes a macacões de surfistas, conectadas a câmeras e sensores por todas as partes.
É aí que entram Carol e seu burnout.
Assédio e gravações extenuantes
A hibernação forçada da integrante do A-SOUL, ocorrida no começo de maio, acendeu o debate sobre as condições de trabalho dos profissionais que emprestam seus corpos aos "Vtubers", como são chamadas as celebridades não reais das redes sociais.
O curioso é que não se sabe exatamente quem são as mulheres de verdade por trás das personagens do A-SOUL. Faz parte da mística que impulsiona os ídolos virtuais a ocultação das identidades das pessoas que dão vida aos Vtubers.
Mesmo assim, o inesperado desligamento de Carol detonou o vazamento dos bastidores dos sets de filmagem: horas e horas de gravação, repetições extenuantes de movimentos, além de um ambiente de assédio e intimidação.
Nas redes, fãs passaram a criticar a produtora responsável pelo A-SOUL por supostamente submeter a equipe ao regime 9-9-6, sistema que se estende das 9h da manhã às 9h da noite, seis dias por semana, e que virou o símbolo de uma cultura tóxica de trabalho duro na China.
Também vieram à tona informações sobre como era repartido o dinheiro. Reportagens de publicações especializadas em tecnologia — como PingWest e Rest of World — revelaram que as atrizes embolsam só 10% de toda a receita gerada pelo grupo. Em 2021, o faturamento bateu US$ 5,6 milhões.
Com a repercussão do caso, campanhas de boicote à ByteDance foram lançadas. Em resposta, o staff do A-SOUL publicou notas negando as acusações. Também afirmou que, apesar dos patrocínios de marcas relevantes como KFC e L'Oréal, o projeto ainda não é lucrativo e que não tem condições de pagar mais às atrizes.
Indústria no divã
Em dezembro do ano passado, a japonesa Kizuna AI, com mais de 3 milhões de seguidores no Youtube, entrou em hibernação depois que seguidores se sentiram traídos pelo fato de a personagem ser alimentada por quatro pessoas, e não por uma única atriz.
A indústria de Vtubers, tão dependente do afeto da comunidade de fãs, enfrenta um paradoxo: como garantir que um ídolo virtual seja cada vez mais feliz, autêntico e — acima de tudo — disponível, sem sacrificar a saúde mental e física dos trabalhadores por trás das personagens?
Só na China, de acordo com um estudo da consultoria especializada iiMedia citado pela revista digital Rest of World, estima-se que o mercado de ídolos virtuais movimente cerca de US$ 16 bilhões por ano. Em um ambiente virtual em que fãs e marcas demandam produção de conteúdo veloz e ininterrupta, a tendência é de crescimento. Hibernações, como a de Carol e Kizuna, podem se tornar mais comuns daqui para frente.
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