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Reportagem

Entregadores dizem que iFood oferece até R$ 800 para melar Breque Nacional

Às vésperas do "Breque Nacional" de entregadores de aplicativos, previsto para segunda e terça-feira, organizadores do movimento afirmam que o iFood — líder do mercado de delivery — vem disparando promoções para incentivar motoboys e bikeboys a não aderirem à greve articulada em cidades de todos os estados do país.

A mobilização da próxima semana tem quatro eixos: a definição de uma taxa mínima de R$ 10 por corrida; o aumento da remuneração por quilômetro rodado de R$ 1,50 para R$ 2,50; a limitação da atuação das bicicletas a um raio máximo de três quilômetros; e o pagamento integral de cada um dos pedidos quando diversas entregas são agrupadas em uma mesma rota.

"O iFood e outras empresas de aplicativo estão, mais uma vez, tentando desmobilizar os entregadores com incentivos financeiros pontuais", afirma nota oficial do comando do Breque Nacional.

Prints encaminhados à coluna mostram, por exemplo, uma proposta de bonificação de R$ 800 a profissionais do Rio de Janeiro (RJ) que somarem 60 "rotas" entre os dias 20 e 31 de março. Uma "rota" pode envolver um conjunto de pedidos a serem entregues em um percurso pré-determinado pelo aplicativo.

Ifood
Ifood Imagem: Reprodução Ifood

Já em São Paulo (SP), principal praça do iFood, um anúncio "válido apenas pra quem recebeu o aviso no app" oferece uma premiação de R$ 200 a quem completar dez rotas entre os dias 25 e 31 de março.

A direção do iFood foi oficialmente comunicada pela coordenação do Breque Nacional sobre a realização do ato no dia 14 de março — antes do início das promoções, portanto. Nas redes sociais, a divulgação da greve dos entregadores vem sendo feita desde fevereiro.

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"Esses incentivos não significam valorização real do trabalho dos entregadores. Pelo contrário, provam que as empresas podem pagar mais, mas só fazem isso quando pressionadas. Se o iFood tivesse compromisso com a categoria, o reajuste seria permanente, e não limitado a dois dias de paralisação", prossegue a nota oficial do comando do Breque Nacional.

Em posicionamento enviado à coluna, a assessoria de imprensa do iFood diz que a empresa "respeita o direito à manifestação e acredita que o diálogo é fundamental para a construção conjunta de soluções com todos os envolvidos no ecossistema da plataforma. As campanhas citadas foram ajustadas e têm encerramento previsto para o dia 30 de março". Segundo a assessoria, promoções para entregadores são recorrentes e fazem parte do dia a dia da operação.

Ifood
Ifood Imagem: Reprodução Ifood

Promoções podem ser vistas como atos 'antissindicais' e contrários ao direito de greve, diz professor

Na avaliação de Rodrigo Carelli, procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) e professor de direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conceder incentivos para estimular entregadores a trabalhar na data específica da paralisação "impede o livre exercício de greve, ferindo a convenção 98 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a letra expressa da lei de greve".

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Em seu artigo sexto, a legislação diz que "é vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento".

Ainda segundo o procurador, as promoções oferecidas pelo aplicativo também contrariam a lei federal nº 12.436, de 2011. De acordo com o texto, é proibido "oferecer prêmios por cumprimento de metas por números de entregas ou prestação de serviço". A prática pode estimular o aumento de velocidade por parte dos entregadores, colocando em risco a integridade física desses profissionais.

A medida ficou conhecida como "Lei Habib's", uma referência a uma promoção de meados dos anos 2000 da rede de fast-food que isentava os clientes do pagamento de pedidos não recebidos em até 28 minutos.

O que diz o iFood sobre o Breque Nacional

Em relação às pautas centrais da mobilização da próxima semana, o iFood argumenta que nos últimos três anos tem aumentado os valores do quilômetro rodado e da taxa mínima, elevada de R$ 5,31 para R$ 6,50.

O comunicado também sustenta que a empresa já restringiu o raio de entrega para bicicletas em todo o Brasil. "Reduções adicionais poderiam resultar em uma queda na oferta para bicicletas e, consequentemente, impacto negativo nos ganhos", afirma um posicionamento oficial enviado aos organizadores do Breque Nacional, a que a coluna teve acesso.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.