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Latam pede recuperação judicial e deixa a dúvida: aéreas vão sobreviver?

César Esperandio

09/07/2020 19h16

A companhia aérea Latam Brasil entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos.

Eu sou César Esperandio, economista do Econoweek, a tradução da economia. Neste artigo, bem como no vídeo acima, no qual respondo a perguntas ao vivo sobre o tema, vou traduzir o que está acontecendo com a Latam, e quais são as perspectivas para o setor aéreo e de turismo, bastante penalizados com a crise.

Para ajudar a esclarecer o assunto, no vídeo acima, conversei com o Leonardo Nascimento, sócio-fundador da Urca Capital, especialista em reestruturação de dívidas e recuperação judicial.

O processo de recuperação judicial da Latam Brasil não foi uma grande surpresa já que as afiliadas da Latam no Chile, Peru, Colômbia, Equador e Estados Unidos entraram com pedido de recuperação judicial em maio, e o setor aéreo passa por grandes dificuldades, com a queda brusca de receitas e da demanda durante a crise de saúde global.

Segundo especialistas, a Latam Brasil havia ficado de fora desse primeiro processo para facilitar a negociação de uma possível ajuda financeira para o setor via BNDES, que ainda não aconteceu.

Para agravar a situação da Latam, a empresa está bastante concentrada em voos internacionais, que foram os mais afetados. Além disso, a Latam brasileira conta com uma dívida que chega a R$ 13 bilhões quando são considerados os créditos de passagens emitidas e não realizadas por conta do período de cancelamento de voos.

O que é recuperação judicial?

Recuperação judicial é uma medida para tentar evitar a falência. A companhia entrou em recuperação judicial justamente porque perdeu a capacidade de pagar suas dívidas e, nesse processo, tem a oportunidade de reorganizar seus negócios, renegociar dívidas e arrumar a casa.

Tenho passagem. E agora?

A recuperação judicial serve justamente para permitir que a empresa continue operando. Então, por enquanto, todos os voos serão mantidos e o programa de milhagens respeitado. É essa a expectativa para os curto e médio prazos.

Segundo o comunicado oficial, a Latam "continuará a voar normalmente durante todo o processo" e "serão respeitadas todas as passagens aéreas atuais e futuras, vouchers de viagem, pontos, reembolsos e benefícios do programa LATAM Pass, bem como as políticas de flexibilidade e demais normas vigentes". A companhia aérea ainda informou que "os funcionários continuarão sendo pagos e recebendo os benefícios previstos em seus respectivos contratos de trabalho", enquanto "os fornecedores receberão tratamento adequado".

O que esperar do setor aéreo?

O Brasil vinha se recuperando de uma crise, antes de tudo isso acontecer.

Havia expectativa de recuperação da economia brasileira, que deveria fazer a renda das famílias melhorar e, consequentemente, passarem a viajar mais. Esse fator poderia ser um vetor de mais receitas para companhias aéreas e ligadas ao turismo.

Mesmo que o pico dessa crise de saúde já tenha ficado para trás em algumas regiões, os países vão continuar com restrições à circulação, lugares de maior concentração de pessoas terão que se adaptar para manter maior distância entre as pessoas, bem como há a possibilidade de companhias aéreas também terem que se adaptar isso, com maior distanciamento entre os assentos. Sem contar que poderemos ver novas restrições de circulação regionais para evitar a expansão de novos focos de surgimento da doença.

Por tudo isso, imagino que o turismo deverá enfrentar tempos difíceis.

Por outro lado, o mercado costuma precificar com bastante antecedência qualquer perspectiva, seja positiva ou negativa. A pergunta é: quem não investir agora em setores como aéreo e turismo poderia estar perdendo a oportunidade de lucrar caso essas ações voltem a subir para níveis anteriores? Sim. Porém, hoje, muitos não se sentem confortáveis em fazer esse investimento.

O que esperar da economia?

Já conversamos sobre a possibilidade de estar se formando uma bolha no mercado financeiro, já que, apesar de os investidores embutirem nos preços das ações a expectativa de recuperação futura, atualmente, a economia real (formada por famílias e empresas) ainda sofre com os efeitos da crise, sentindo o peso da perda de emprego, de renda, e empresas fechando as portas.

O fato é que se a economia real não mostrar sinais mais animadores de recuperação, dificilmente a Bolsa e companhias aéreas e de turismo se recuperarão rapidamente diante do cenário de pessoas com menos renda e, portanto, menos propensas a viajar.

No vídeo acima, expandimos essa discussão em conversa com o especialista em recuperação judicial, Leonardo Nascimento, sócio-fundador da Urca Capital, que ajudou respondendo perguntas dos seguidores do Econoweek sobre o tema.

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