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Tesouro Selic zera as taxas de investimentos até R$ 10 mil, mas não resolve

César Esperandio

24/07/2020 18h20

A taxa de custódia passará a ser zero para quem tiver investimentos de até R$ 10 mil no Tesouro Selic a partir de 1º de agosto.

Eu sou César Esperandio, economista do Econoweek, a tradução da economia. E, neste artigo, bem como no vídeo acima, no qual respondo a perguntas ao vivo sobre o tema, vou traduzir o que isso significa para seus investimentos e mostrar porque, mesmo com essa novidade, ainda é necessário buscar outra opções de investimentos para aumentar a rentabilidade dos seu dinheiro aplicado.

Atualmente em 0,25% sobre o total investido em qualquer título do Tesouro Direto, a taxa de custódia é aquela que você paga para a B3, nossa Bolsa de Valores, guardar seus investimentos de maneira segura.

Sendo que essa taxa permanecerá isenta para essa faixa de R$ 10 mil mesmo para quem tiver investimentos acima desse valor. Por exemplo: quem investir R$ 11 mil no Tesouro Selic pagará taxa de custódia apenas sobre os R$ 1.000 que excederem os R$ 10 mil isentos dessa cobrança.

Para ilustrar, vamos usar o próprio exemplo do comunicado oficial do Tesouro:

Considere um investidor que tem R$ 11 mil aplicados no Tesouro Selic. O investidor só terá custo referente à taxa de custódia sobre o valor de R$ 1.000, ou seja, o valor acima do limite de isenção de R$ 10 mil. Neste exemplo o investidor pagará aproximadamente R$ 2,50 ao ano dado a incidência da taxa de custódia (0,25%) sobre o valor de R$ 1.000.

Em outro exemplo, caso o investidor tenha R$ 5.000 investidos no Tesouro Selic, ele não terá a incidência da taxa de custódia sobre o seu investimento, uma vez que o estoque do seu investimento no Tesouro Selic está abaixo do limite de R$ 10.000.

Mas atenção! Essa nova regra valerá apenas para os títulos do Tesouro Selic, não se aplicando aos demais ativos do Tesouro Direto, como Tesouro IPCA+ e Tesouro Prefixado.

Mesmo assim, essa é uma novidade muito bem-vinda pois, segundo o Tesouro, isso vai beneficiar mais de 690 mil investidores (53%) dos quase 1,3 milhão com investimentos no Tesouro Direto. E valerá tanto para quem já investe como para futuros investidores dessa modalidade.

O Tesouro Selic ainda vale a pena?

Essa é uma pergunta cuja resposta é "depende"!

O Tesouro Selic, bem como outros investimentos seguros, pouco voláteis e que têm como característica a liquidez imediata (ou seja, que permitem saque a qualquer momento), continuam sendo muito adequados para a reserva de segurança, que é aquele dinheiro investido que não busca rendimentos elevados, mas sim dar a tranquilidade de saber que pode contar com ele a qualquer momento.

Qual é o retorno real do investimento?

Por outro lado, apesar de passar a contar com taxa de custódia zero até R$ 10 mil a partir de agosto, ainda há a incidência de Imposto de Renda e temos que considerar os efeitos da inflação.

Vamos supor que você invista R$ 1.000 no Tesouro Selic, sem nenhuma taxa ou imposto, e tenha rendimento de 2% em um ano. Esses R$ 1.000 virariam R$ 1.020.

Mas se a inflação no período for de 3%, o que antes era possível comprar com R$ 1.000, passaria a custar R$ 1.030 um ano depois.

Na prática, apesar de seu investimento ter rendido 2%, você consegue comprar menos coisas do que antes, pois faltariam R$ 10 para "empatar" essa conta.

Esse é o exemplo de um juro real negativo de -1%, que já desconta a inflação.

Como saber qual é o rendimento real?

Toda vez que eu vou investir, eu olho as projeções do Focus, lá do Banco Central, que agrupa as projeções de todos os economistas.

Dessa maneira, eu sei quanto esperar para o rendimento do Tesouro Selic e para a inflação, olhando o IPCA.

Vamos supor que hoje seja o primeiro dia de 2020 e você queira investir por um ano. Então, é só olhar para a Selic e IPCA projetados para o final desse ano.

Na data de publicação desse artigo, a projeção mais recente era que a Selic estaria em 2% no final do ano e a inflação seria de 1,72%.

Supondo que foram essas as taxas vigentes no ano todo, você reparou que, mesmo assim, a expectativa é de juro real positivo, já que a Selic vai ser maior que a inflação medida pelo IPCA.

Mas, aqui entra o detalhe que faz toda a diferença: ao investir no Tesouro Selic, mesmo que você esteja isento da taxa de custódia de 0,25% ao ano, ainda há o Imposto de Renda, que na melhor das hipóteses, se deixar o investimento parado por mais de dois anos, a alíquota é de 15% sobre o rendimento.

Assim, ao descontar o Imposto de Renda de 15% sobre o rendimento, o juro da sua aplicação cai para 1,7%. Esse será rendimento líquido de impostos e taxas.

Agora é que você vai descontar a inflação. Se ela for de 1,72%, como os economistas esperam, seu rendimento real no ano vai ser de -0,02%.

Isso significa que se você investiu R$ 1.000 no começo do ano, um ano depois isso viraria R$ 1.020. Ao descontar o Imposto de Renda, esse valor cai para R$ 1.017.

Só que com a inflação de 1,72%, as mesmas coisas que você comprava com R$ 1.000 um ano antes passariam a custar R$ 1.017,20.

Ficou bem claro que pode até parecer que você está ganhando um pouquinho. Mas, na realidade, você está perdendo.

O que fazer?

Os investimentos da sua reserva de segurança ainda devem permanecer no Tesouro Selic ou em opções similares, como em CDBs de liquidez diária ou até na Nuconta. Afinal, esse tipo de investimento não tem como objetivo ter ganhos elevados, mas sim te dar a tranquilidade de poder contar com aquele dinheiro a qualquer momento.

É por isso que o conselho é ter uma reserva de segurança equivalente a entre seis e 12 meses dos seus gastos mensais médios. Daí em diante, eu recomendo que buscar rendimentos melhores, atrelados a maiores riscos e menor liquidez.

Traduzindo, mesmo que a taxa de custódia zero para investimentos de até R$ 10 mil no Tesouro Selic seja uma ótima notícia, você pode buscar melhores rentabilidades para o dinheiro que sabe que não vai precisar no curto prazo.

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