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Trainee da Magazine Luiza e racismo reverso: diversidade gera resultados?

Yolanda Fordelone

22/09/2020 18h20

Você deve ter ouvido falar sobre o termo racismo reservo nos últimos dias. A polêmica nas redes sociais que envolveu políticos, famosos e empresas começou com o anúncio da Magazine Luíza na última sexta-feira, 18, sobre o novo programa de trainee: só negros podem participar.

Eu sou Yolanda Fordelone, economista do Econoweek, e na live de hoje, que você assiste o vídeo acima, conto porque a diversidade de gênero (homem ou mulher), de orientação sexual e étnica/racial, agora discutida por conta do programa da Magalu, é positiva em termos econômicos.

Mas antes de me aprofundar no tema, dois alertas:

1. Não é meu lugar de fala chegar a uma conclusão do que é justo ou não por não ser preta nem pertencente a uma minoria, apesar de me considerar parda;

2. Assim como não é meu lugar de fala contar sobre o aspecto jurídico do caso. Me restrinjo a falar dos impactos econômicos.

Para entender a polêmica

Um breve resumo se você perdeu os primeiros capítulos. O programa de trainee da Magazine Luíza ocorre há 15 anos e, neste ano, aceitará universitários e recém formados negros, de todo o Brasil. O objetivo é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia.

Vale lembrar os números: a empresa divulgou que 53% de seus funcionários atuais são pretos ou pardos, mas somente 16% ocupam cargos de liderança. Em 15 anos, a empresa formou 250 trainees e apenas 10 eram negros.

O programa foi desenvolvido por consultorias e institutos de apoio à inclusão. Por isso mesmo, para não ser uma barreira, não é um pré-requisito o conhecimento em inglês ou ter experiência profissional. O salário é de R$ 6600.

Nas redes sociais, o deputado federal e vice-líder do governo na Câmara Carlos Jordy (PSL-RJ) disse que entrará com uma representação no Ministério Público contra a companhia a acusando de racismo.

A empresa se defendeu dizendo que se apoia na lei e está tranquila quanto à legalidade do programa. Artistas como Bruno Gagliasso entraram no embate sobre a existência de um "racismo reverso" e se posicionaram contra o termo.

Também pipocaram notícias de que outras empresas como Ambev e Bayer também possuem programas dedicados só a negros, para trainees e estágio, respectivamente.

Outras diversidades

A polêmica é sobre a diversidade étnica/racial, mas sempre vale lembrar que há tempos o debate sobre outros grupos é intenso. O que mais movimentou as empresas foi a inclusão de mulheres no quadro de funcionários. Com as empresas mais jovens, se viu um movimento de orientação sexual mais diversa. Na semana passada, saiu uma reportagem no UOL falando da inclusão socioeconômica: o inglês, por exemplo, não é mais um requisito em alguns processos seletivos.

Aspectos econômicos

Alguns aspectos positivos de empresas que adotam políticas de diversidade:

1. Diminuição da desigualdade

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no fim de 2019, 55,8% da população se declarou negra (lembrando, que trata-se da soma de pretos e pardos) e há uma grande diferença quando comparadas as rendas. Entre os 10% mais ricos, os brancos somavam quase 71% e os negros, 28%. Já entre os 10% de menor rendimento, há uma inversão: 75% são negros e 24%, brancos.

A crise do coronavírus agravou a situação do desemprego. A taxa média da população está em 13,3%, mas entre negros chega a quase 18%.

2. Melhor compreensão da população

O país é diverso e formado em sua maioria (mais de 50%) por mulheres e negros. Se as empresas querem chegar a mais pessoas e entender cada vez mais o consumidor brasileiro faz sentido aumentar a representação desses e de outros grupos no quadro interno. Isso porque há mais ideias e mudanças nos processos.

O artigo "Diversity Matters: América Latina" da consultoria McKinsey reuniu quatro estudos feitos com empresas da região (o maior ouviu 60 mil funcionários).
Os funcionários incluídos dentro do quadro de diversidade tinham chances 152% maiores de afirmar que podem propor novas ideias e tentar novas formas de trabalhar.

3. Funcionários mais felizes e colaborativos

O mesmo artigo mostra que funcionários de empresas diversas são mais felizes e colaborativos, o que resulta na permanência por maior tempo dentro da empresa.
A probabilidade é 11% maior de as pessoas poderem "ser quem são" no trabalho e 64% maior de colaboração compartilhando ideias e melhores práticas. Isso porque os próprios funcionários acabam se sentindo mais representados.

Em níveis de satisfação, empresas diversas têm probabilidade até uma vez e meia maior de ter funcionários mais felizes. E por fim os funcionários têm probabilidade 36% maior de permanecer pelo menos 3 anos na empresa quando comparados aos quadros de empresas que não têm diversidade.

A retenção e satisfação do funcionário são ótimos para a empresa porque há menos rotatividade e custos com a curva de aprendizado de novos entrantes.

4. Mais resultados

Empresas diversas também geram mais resultados. Companhias da América Latina com executivos diversos em termo de gênero têm 14% mais chances de superar os concorrentes em termos de performance. Se os próprios funcionários identificam que a empresa é diversa, a chance é 93% maior.

Em relação à orientação sexual, o quadro diverso de executivos gera probabilidade 25% maior de superar a performance financeira. No campo da diversidade étnica/racial, o artigo fala em maior probabilidade, mas devido à baixa amostra não é possível chegar a um número estatisticamente significativo.

O que achou do programa? Acredita que é uma boa forma de promover a diversidade? Conte nos comentários ou fale com a gente no nosso canal do YouTube, Instagram e LinkedIn. Também é possível ouvir nossos podcasts no Spotify. A gente sempre compartilha muito conhecimento sobre economia, finanças e investimentos. Afinal, o conhecimento é sempre uma saída!