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Por que o governo não imprime dinheiro para deixar todos mais ricos?

César Esperandio

02/10/2020 04h00

Já imaginou se você acordasse e tivesse o dobro de dinheiro na carteira? Dormiu com uma nota de R$ 50 e acordou com mais R$ 50 chegando por correspondência. Depois, foi abrir o aplicativo do banco e o saldo da conta bancária também havia dobrado. Foi checar a fatura do cartão e a conta tinha caído pela metade. Parece um sonho, não é?

Mas, e se, como em um passe de mágica, não só você, mas todo mundo também passasse a ser duas vezes mais rico da noite para o dia? Eu sou César Esperandio, economista do Econoweek, a tradução da economia. Agora, vou traduzir o que aconteceria caso todo mundo ficasse duas vezes mais rico. No vídeo acima, também dá para assistir a essa discussão.

No último episódio, a Yolanda mostrou quais são os investimentos que "pagam salário" para o investidor. Mas e se você nem precisasse mais se preocupar com salário por um tempo porque ficou duas vezes mais rico de repente?

O que você faria se, hoje, tivesse o dobro de dinheiro?

Isso pode parecer um absurdo, mas pense:

  • O governo pode imprimir dinheiro, tanto é que recentemente imprimiu notas de R$ 200;
  • Ele mesmo está passando por problemas por estar sem dinheiro para pagar as próprias contas;
  • Há um monte de gente pobre no Brasil precisando de dinheiro.

Por que, afinal, o governo não imprime um monte de dinheiro, dá para todo mundo e resolve o problema de uma vez por todas?

E se todo mundo fosse duas vezes mais rico?

Além de o seu saldo na conta bancária ter dobrado e suas dívidas e empréstimos terem sido reduzidos pela metade, a mesma coisa aconteceu com seu pai, com sua mãe, seus amigos e com todos que conhece.

Mesmo o empresário e o político, que já deviam ter mais dinheiro, abriram o internet banking e também ganharam o dobro.

O governo simplesmente ligou a impressora e deu dinheiro para todo mundo. Mandou para os bancos e falou "distribui esse dinheiro porque eu quero ver todo mundo duas vezes mais rico"!

O consumo aumentaria

A primeira coisa que aconteceria é que haveria maior consumo instantaneamente. Eu não sei você, mas eu sairia na hora para comemorar. Compraria umas roupas novas, ligaria para os amigos para farrear e compraria uma passagem para a próxima viagem (se não estivéssemos no meio dessa pandemia, é claro).

Eu sei que não seria todo mundo que gastaria todo o dinheiro de uma vez só, mas que praticamente todo mundo sairia para fazer umas comprinhas, eu não tenho dúvidas.

Os mais ricos iam esbanjar um pouco mais (e talvez até fossem os que não gastassem tudo, já que estão mais acostumados com a fartura), e os mais pobres de verdade comprariam o que estava faltando.

Isso poderia acabar com a fome no mundo! Seria alegria geral! Será?

Qual é o lado ruim?

Repare que, no meu exemplo, falei de o governo dar dinheiro para todo mundo. E isso é até possível de ser feito, já que ele é o dono da impressora oficial de cédulas e moedas.

Mas eu não falei nada de dobrar a riqueza ou a produção de coisas porque não há uma máquina que faça isso com a simples decisão de um presidente ou qualquer governante.

Dessa maneira, enquanto o consumo tem o potencial de dobrar instantaneamente, a produção de coisas que estão aí para sempre compradas não aumentaria nem um milímetro.

Mesmo que os lojistas pedissem mais produtos aos fabricantes, eles precisariam de tempo para produzir as novas encomendas e o tamanho das fábricas não daria conta de produzir o dobro de coisas de uma vez só.

Eles ainda precisariam do dobro de matérias-primas. Seria preciso do dobro de borracha para fazer o dobro de tênis; o dobro de água para fazer o dobro de Coca-Cola, o dobro de aço, alumínio e motores para fazer o dobro de carros; e o dobro de gasolina para abastecer todos eles.

Isso simplesmente não existe.

Sabe o que ia acontecer, então? O preço dos produtos subiria.

Mas iria não subir só um pouquinho. Subiria muito!

Oras! Há o dobro de gente querendo comprar, mas a mesma quantidade de produtos que é insuficiente para tanta demanda.

"Vamos subir os preços! Tem alguma coisa errada acontecendo e eu posso aproveitar para ganhar ainda mais dinheiro!" É o que praticamente qualquer fabricante ou lojista faria em uma hora dessa.

E alta de preços é chamada de inflação!

Inflação

Nesse caso, o preço das coisas poderia subir até atingir um novo equilíbrio em que as pessoas, com o dobro de dinheiro, perderiam aquele ânimo inicial de gastar todo o dinheiro que ganharam.

O novo equilíbrio poderia ser exatamente um no qual o preço das coisas também dobraria. De modo que todo mundo teria o dobro de dinheiro, mas as coisas passariam a também custar o dobro e só seria possível comprar a mesma quantidade de coisas que se comprava antes.

Mas há ainda mais um risco: a chamada "inércia inflacionária"!

Isso acontece quando a memória de alta de preços passada faz todo mundo continuar corrigindo os preços com força imaginando que a inflação futura ainda vai continuar alta, o que se torna uma profecia autorrealizável.

O lojista acha que o preço das coisas vai subir bastante mês que vem porque subiu muito nos últimos meses. Então ele aumenta o preço dos produtos da sua loja para garantir que terá dinheiro para continuar comprando tudo o que precisa dali em diante. Com isso, ele alimenta a continuidade da inflação descontrolada.

Em uma situação dessas, pode acontecer que todo mundo só consiga comprar metade do que comprava antes mesmo com o dobro de dinheiro impresso pelo governo. Ou até menos, conforme o tempo passa.

Por isso, há uma quantidade de dinheiro que deve ser impressa principalmente pelo motivo de reposição de notas que estragam. Já falei disso em um episódio em que comentei as dúvidas sobre o lançamento da nota de R$ 200.

E, por mais que a inflação não esteja descontrolada, todo mundo viu a alta do preço de alimentos recentemente. Por isso, é importante ter investimentos que te protejam da alta de preços das coisas ao longo do tempo.

Um desses investimentos é o Tesouro IPCA+, que garante que seu dinheiro investido terá rentabilidade igual a inflação, seja ela qual for, mais um percentual acima disso.

Mas esse é um assunto para outra hora. Se quiser que eu fale mais sobre isso, me avisa que faço um novo episódio.

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