Fraude no INSS: quem paga a conta?
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou Gilberto Waller Júnior para comandar o INSS após a descoberta de fraudes bilionárias no instituto. A decisão por um procurador federal com carreira importante é correta, mas o problema está longe de ser resolvido, e o custo tem de recair sobre os fraudadores.
É preciso questionar: como uma falha tão grave nas nossas instituições sobreviveu, por tantos anos, de 2019 a 2024, conforme noticiado, levando a um prejuízo para aposentados e pensionistas estimado em R$ 6,3 bilhões? Onde as procuradorias, as corregedorias, as ouvidorias e os órgãos de controle erraram? E os gestores?
Está correta a determinação de ressarcimento de todos os prejudicados. O esquema armado operava a partir da assimetria de informação existente entre a população, as tais associações e o próprio INSS. Descontos eram realizados nos vencimentos dos aposentados, e o dinheiro escoava para os bolsos dos ladrões.
Como se não bastasse a grave situação em que se encontram as contas da Previdência Social, o que deverá requerer novas reformas nos regimes de aposentadoria, vale dizer, deixou-se que um esquema dessa natureza avançasse livremente. A situação não é só vexatória para órgãos de controle e para o próprio INSS, como também os governos e para todos nós.
As democracias modernas pressupõem que as ações do Estado, por meio de políticas públicas determinadas pela própria Constituição e/ou pelas leis, ocorram à luz do sol. A transparência, a prestação de contas, a responsabilidade com o uso do dinheiro público e a probidade, além da moralidade, deveriam regê-las.
O caso das fraudes com os aposentados é sintomático. Mostra que nossas instituições estão doentes. A "máfia" infiltrou-se nos sistemas oficiais, a ponto de conseguir informações privilegiadas e promover os abatimentos em todos esses benefícios.
O único caminho para resolver o problema, agora, é a punição de todos os envolvidos à altura. Mais do que isso, os valores surrupiados terão de ser, sim, devolvidos. Afinal, trata-se da remuneração de tantas e tantas pessoas que trabalharam a vida inteira para usufruir de um benefício na velhice.
A bomba, contudo, não pode, simplesmente, recair sobre o Erário. Este, vale dizer, já foi onerado pelos pagamentos realizados. Quem deve pagar a fatura são as associações e os agentes envolvidos em toda a trama. Os mecanismos para isso devem ser o bloqueio de contas bancárias, a identificação e apropriação pelo Estado do patrimônio dessas entidades, e o que mais for necessário para restabelecer a ordem.
A Advocacia-Geral da União e o próprio INSS, sob novo comando, estudam as formas para promover essas necessárias ações. O mínimo que a sociedade espera é celeridade. Os culpados precisam ser severamente responsabilizados.
O que não se pode cometer é um novo erro, de natureza distinta: por exemplo, simplesmente desembolsar mais R$ 6,3 bilhões para cobrir as perdas. O Estado terá de se apresentar muito mais eficiente e transparente, neste momento, para que a fonte do dinheiro a cobrir os prejuízos dos aposentados seja justamente a dos fraudadores, e não a da viúva de sempre.
Para ter claro, se a conta restar aos cofres públicos, isso significará que toda a sociedade acabará pagando pela corrupção desses grupos criminosos.
O episódio reforça, ainda, a necessidade da gestão profissional e do melhor funcionamento dos órgãos de controle em áreas tão essenciais como essa. A valorização da burocracia permanente e a escolha de dirigentes são pontos fundamentais a serem debatidos para que se afaste qualquer possibilidade de repetição de ladroagens como essas.
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