Graciliano Rocha

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Reportagem

Como uma pequena cidade de MS virou uma estrela global da celulose

Com 24 mil habitantes segundo o IBGE, a cidade de Ribas do Rio Pardo, a 97 km de Campo Grande (MS), se tornou uma estrela da indústria de celulose global.

Em julho do ano passado, a Suzano inaugurou a maior fábrica do mundo de celulose em planta única, com capacidade de produzir 2,5 milhões de toneladas por ano. Agora, ela foi um dos vetores do crescimento operacional da empresa.

Sozinha, a fábrica deve elevar em 50% a produção anual de celulose de Mato Grosso do Sul, tornando o Estado do Centro-Oeste líder nacional (7,5 milhões de toneladas previstas para 2025), superando a Bahia (5,5 milhões/ano).

A nova fábrica é responsável por 6.000 postos de trabalho diretos e indiretos no município, de acordo com dados do governo de MS.

O investimento na planta foi de R$ 22,2 bilhões, dos quais R$ 15,9 bilhões para a construção da fábrica e R$ 6,3 bilhões com formação da base de plantio e a estrutura logística para escoamento da celulose.

Nesta quinta (13), a Suzano reportou os resultados do quarto trimestre de 2024, em que atribuiu ao desempenho da nova unidade as "vendas recordes, maior competitividade e desalavancagem" - que é a redução do endividamento da companhia:

Capacidade operacional plena veio antes do esperado: A unidade atingiu a conclusão da curva de aprendizado em menos de seis meses. Isso significa que a fábrica alcançou sua plena capacidade operacional mais rápido do que os nove meses previstos.

  • Aumento da produção e das vendas: O desempenho da unidade ajudou a Suzano a alcançar vendas recordes e uma posição competitiva mais forte no mercado global. No quarto trimestre de 2024, a companhia registrou receita líquida de R$ 14,2 bilhões, um crescimento de 37% em relação ao mesmo período de 2023. O Ebitda ajustado, uma métrica de fluxo de caixa, atingiu R$ 6,5 bilhões, com alta de 44% na comparação anual. No acumulado do ano, o EBITDA totalizou R$ 23,8 bilhões, 31% superior ao de 2023.
  • Redução da alavancagem: dívida líquida da Suzano, que passou de US$ 6,8 bilhões no quarto trimestre de 2023 para US$ 5,7 bilhões no último trimestre do ano passado.
  • Caixa: geração operacional de caixa no trimestre somou R$ 4,8 bilhões, um avanço de 74% frente ao mesmo trimestre de 2023. No consolidado do ano, a cifra alcançou R$ 16,2 bilhões, aumento de 40%.

Apesar do desempenho operacional, a companhia encerrou o trimestre com prejuízo líquido de R$ 6,7 bilhões, impactado pela desvalorização cambial e perdas com derivativos. No acumulado do ano, o prejuízo líquido foi de R$ 7 bilhões, revertendo o lucro de R$ 14,1 bilhões registrado em 2023.

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Mesmo com o prejuízo anual, o crescimento da produção e das vendas numa conjuntura de baixos estoques de celulose no mundo fez a ação da Suzano avançar cerca de 2,60% no pregão desta quinta, após a divulgação de resultados.

Eucalipto cresce mais rápido no leste de MS

A entrada de Ribas do Rio Pardo na celulose é parte de um fenômeno maior, que foi a transformação nas últimas duas décadas do leste do Estado.

Neste período, Três Lagoas (MS), que é o berço político da ministra Simone Tebet (Planejamento, MDB), passou a abrigar três grandes plantas de celulose - duas da própria Suzano e uma da Eldorado (objeto de disputa societária entre a J&F e a Paper Excellence).

O leste de MS ofereceu uma mistura de terras a preço baixo, graças a substituição de pastagens degradadas de pecuária extensiva por florestas, com condições favoráveis ao crescimento de eucalipto. No Estado, o eucalipto leva entre 6 e 7 anos desde o plantio e até o corte destinado à indústria.

Isso é uma vantagem comparativa importante porque em outros grandes produtores internacionais o ciclo é mais longo: na Austrália, país de origem da planta, é de 10 a 15 anos, e na África do Sul, de 7 a 10 anos.

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Exportações

A nova fábrica foi uma injeção na veia das exportações de celulose de Mato Grosso do Sul, que cresceram 122% em janeiro deste ano, com 731 mil toneladas, contra 329 mil no mesmo período de 2024, segundo dados do governo estadual.

O faturamento com exportação da commodity subiu 186%. Em janeiro do ano passado, foram US$ 137,5 milhões; agora, US$ 394,1 milhões em receitas, conforme a Carta da Conjuntura editada pelo governo de MS.

Com o avanço, a celulose representou 53,3% de todas as exportações de Mato Grosso do Sul em janeiro, que alcançaram US$ 739,48 milhões.

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