Graciliano Rocha

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Reportagem

Por que Elon Musk conseguiu comprar o Twitter, mas não o ChatGPT

A OpenAI, uma das principais empresas de inteligência artificial do mundo e dona do ChatGPT, rejeitou uma oferta de compra de US$ 97,4 bilhões liderada pelo bilionário Elon Musk. O conselho de administração da companhia, responsável por supervisionar sua governança, recusou a proposta por unanimidade, alegando que a aquisição "não seria do interesse da missão da empresa".

O presidente do conselho da OpenAI, Bret Taylor, reforçou publicamente a decisão: "A OpenAI não está à venda, e o conselho rejeitou unanimemente a mais recente tentativa do Sr. Musk de desestabilizar sua concorrência", segundo reportou o The Wall Street Journal.

Segundo a Bloomberg, o homem mais rico do mundo havia juntado um 'pool' de investidores para adquirir a empresa.

Por que deu certo para Musk no Twitter e errado com o ChatGPT?

Há diferenças importantes que determinaram o sucesso de Musk na aquisição do Twitter e o fracasso na tentativa de compra da OpenAI, dona do ChatGPT. Elas são as seguintes:

1. Estrutura de Controle

  • Twitter: era uma empresa pública (negociada na bolsa de valores) com acionistas e um conselho de administração focado em retornos financeiros. Musk fez uma oferta de US$ 44 bilhões para comprar 100% das ações da empresa e fechou o capital. Como os acionistas receberam um prêmio no pagamento, isto é, mais do que a avaliação da empresa com base no preço de suas ações, a proposta foi difícil de recusar.
  • OpenAI: tem uma estrutura híbrida, com uma entidade sem fins lucrativos controlando uma subsidiária com fins lucrativos. Isso significa que a decisão final não cabe apenas a investidores ou acionistas, mas ao conselho da organização sem fins lucrativos, que tem o dever jurídico de preservar a missão original da OpenAI.

2. Oferta voluntária vs. hostil

  • Twitter: Musk iniciou sua oferta adquirindo ações no mercado e, em seguida, propôs uma compra total. O conselho do Twitter inicialmente resistiu, mas acabou aceitando após negociações, pois era difícil justificar a rejeição a um preço atrativo para os acionistas.
  • OpenAI: A proposta de Musk foi não solicitada e enfrentou resistência desde o início. O conselho rejeitou a oferta por unanimidade, argumentando que vender a empresa iria contra sua missão de desenvolver inteligência artificial, definida em seu estatuto de entidade sem fins lucrativos.
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3. Responsabilidade do conselho de administração

  • Twitter: O conselho do Twitter tinha um compromisso fiduciário com os acionistas. Se recusasse a venda, poderia enfrentar processos por não maximizar o valor da empresa.
  • OpenAI: O conselho da OpenAI tem um compromisso fiduciário diferente. Sua prioridade não é maximizar o valor financeiro, mas garantir que a IA avançada seja usada de forma responsável e alinhada com o interesse público. Eles consideraram que a venda para Musk não atendia a esse propósito.

Entenda o caso:

Na segunda-feira (10), Musk e um consórcio de investidores apresentaram uma oferta não solicitada (hostil) ao conselho da OpenAI para adquirir os ativos da organização sem fins lucrativos que controla a empresa.

Em um documento apresentado na quarta-feira (12), os advogados de Musk indicaram que ele estaria disposto a retirar o processo judicial contra a OpenAI caso a empresa abandonasse seus planos de se tornar uma entidade com fins lucrativos.

Musk, que cofundou a OpenAI em 2015 antes de se afastar da empresa, argumentou que a aquisição permitiria resgatar os ideais originais da companhia, com foco em transparência e código aberto.

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A tentativa de aquisição pode ter reflexos importantes no mercado financeiro e na própria valorização da OpenAI. A empresa está em negociações para levantar uma nova rodada de investimentos que pode avaliá-la em até US$ 300 bilhões, com potenciais aportes de grupos como SoftBank, segundo a Bloomberg.

O caso tem fortes implicações regulatórias. O Departamento de Justiça dos EUA e a Comissão de Valores Mobiliários (SEC), ainda conforme a Bloomberg, estão atentos à estruturação desses negócios, especialmente devido ao impacto crescente da inteligência artificial na economia e na segurança nacional.

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