Como a nova plataforma financeira vai mudar o negócio do Magalu

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Com licença do Banco Central para as operações da financeira MagaluPay emitida na última quinta (20), o Magalu fez um movimento para transformar seu ecossistema de varejo, um dos maiores do país, em um conglomerado com plataforma financeira capaz de expandir empréstimos a clientes e parceiros do marketplace.
De certo modo, o modelo é parecido como o do Mercado Livre, uma das empresas mais valiosas da América Latina, que reduziu a dependência do marketplace em relação ao sistema bancário tradicional, incorporando uma fintech às operações, como no caso do Mercado Pago.
"Por intermédio da financeira MagaluPay, o Magalu ampliará a oferta de produtos e serviços financeiros para seus clientes e sellers, com uma estrutura ainda mais eficiente, transparente e rentável", afirmou a empresa, em nota enviada ao UOL.
"Entre os produtos que serão oferecidos pela nova Financeira, destacamos o crédito direto ao consumidor, um dos principais meios de pagamento para as vendas nas lojas físicas e recentemente lançado no e-commerce", prossegue.
"Adicionalmente, com a atuação por meio de uma financeira regulada pelo Banco Central do Brasil, a MagaluPay poderá contar, oportunamente, com fontes adicionais de captação de recursos, tornando a operação de varejo mais eficiente do ponto de vista de capital investido".
Até agora, a Luizacred, joint-venture do Magalu com Itaú, era o principal braço financeiro da varejista, responsável por 6,3 milhões de cartões de crédito, que lucrou R$ 81 milhões entre outubro de 2023 e setembro de 2024 (último dado disponível).
Agora, com a licença de SCFI (Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento), o MagaluPay permitirá que o Magalu se expanda para novos serviços.
Para onde o MagaluPay expande:
- Na oferta de empréstimos para sellers e CDC (crédito direto ao consumidor) digital, a nova licença permite a atuação direta com maior possibilidade de personalização e eficiência de custos.
- Com a licença de SCFI, a empresa poderá oferecer aos clientes correntistas do MagaluPay opções de investimentos e remuneração do saldo em conta.
- A financeira permite novas fontes de captação de recursos, como a emissão de Letras Financeiras - o que possibilita a redução do custo de capital - gerando maior eficiência de custo e deixando o negócio de varejo mais leve.
Captação direta com investidores
"Varejistas expandirem para serviços financeiros é uma tendência dos últimos anos, C&A e Renner já fazem isso, ou via joint-venture com bancos, como o caso do Assaí com o Itaú. No caso do anúncio do Magalu, um dos pontos mais importantes é a questão da possibilidade de captar capital mais barato que o custo do crédito bancário", disse à coluna o analista de varejo da XP, Gustavo Sendai.
Com a autorização de captação pelo MagaluPay, as Letras Financeiras são títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras autorizadas pelo BC. Elas funcionam de forma semelhante aos CDBs (Certificados de Depósito Bancário), mas com prazo mínimo maior e possibilidade de captação de volumes mais altos.
No caso do MagaluPay, a financeira do grupo pode emitir LFs para captar recursos e financiar operações como crédito direto ao consumidor (CDC) e empréstimos para sellers.
As LFs costumam ser voltadas a investidores profissionais (como instituições financeiras, fundos de investimento e indivíduos com investimentos superiores a R$ 10 milhões)
Para o Magalu, o instrumento tende a permitir redução do custo de capital (em vez de tomar crédito no mercado a juros altos, ela capta diretamente com investidores), expansão da oferta de crédito (pode conceder mais financiamentos a clientes e sellers) e incentiva clientes a manterem seus recursos dentro do MagaluPay.
"O racional por trás disso é ajudar as vendas no varejo", diz Sendai.
Varejistas versus fintechs
No pano de fundo, o novo modelo do Magalu reforça a existência de uma disputa por disputa por clientes - entre gigantes do e-commerce e fintechs - que vai moldar o futuro de uma parte relevante da indústria financeira.
Ao oferecer serviços bancários cada vez mais parecidos com os das fintechs - dos cartões de crédito a contas remuneradas e empréstimos -, varejistas e marketplaces entram num território onde as fintechs reinaram absolutas e que está por trás do crescimento exponencial das instituições de pagamento, à margem do sistema bancário tradicional, na última década. Mas, no fundo, a demografia dos clientes de um e de outro é parecida.
O melhor exemplo no continente é a corrida entre as duas empresas mais valiosas da América Latina, o Mercado Livre e o Nubank.
O primeiro lidera entre pequenas e médias empresas e financia mais compras dentro de sua própria de comércio eletrônico. O segundo tem sua fortaleza no crédito ao consumidor. É possível que essas fronteiras sejam cada vez mais borradas pelo fato de muitas vezes a demografia dos clientes de um e de outro coincidirem. Até agora, ambas cresceram coexistindo.
Sendai, da XP, não quis falar sobre as fintechs, já que ele cobre empresas de varejo. Mas apontou um fundamento importante na entrada de varejistas nos serviços financeiros.
"As varejistas, quando entram em serviços financeiros, muitas vezes trazem consigo um conhecimento maior do consumidor, se ele já atrasou pagamentos, qual o perfil de compras, isso é muito importante na análise de risco de uma operação", disse.
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