Graciliano Rocha

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Reportagem

Boeing: troco da China a Trump visa causar dor em setor sensível dos EUA

A China ordenou que suas companhias aéreas suspendam novas entregas de jatos da Boeing, como parte da escalada na guerra tarifária na qual o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs tarifas de até 145% sobre produtos chineses, segundo noticiou a Bloomberg citando pessoas com conhecimento do assunto, sem identificá-las.

Usar a Boeing para dar o troco causa dor em um setor sensível da economia americana: as ações da fabricante de aviões chegaram a cair 4,6% no pré-mercado, antes da abertura dos pregões nos EUA, ampliando uma queda que já acumulava 10% desde janeiro.

A China responde hoje por cerca de 20% da demanda global por aeronaves comerciais e, apenas no ano passado, absorveu um quarto da produção da fabricante americana. Ainda de acordo com a reportagem, o governo chinês avalia formas de mitigar os impactos da medida sobre as companhias aéreas locais que operam aviões da Boeing por meio de contratos de leasing, cujos custos deverão subir consideravelmente.

Desde o agravamento das tensões comerciais entre os dois países e os problemas internos da própria companhia (que enfrentou problemas com a linha 737-Max e uma dolorosa greve no ano passado), a Boeing não registra grandes encomendas vindas da China.

Segundo a Bloomberg, cerca de dez aeronaves 737 Max estavam prestes a ser entregues a empresas como China Southern Airlines, Air China e Xiamen Airlines. Parte desses aviões está estacionada na unidade da Boeing em Seattle, enquanto outros se encontram em fase final de montagem na cidade chinesa de Zhoushan.

Embora a ordem de suspensão tenha entrado em vigor em 12 de abril, há possibilidade de que algumas entregas previamente contratadas sejam concluídas, caso a caso, de acordo com fontes ouvidas pela agência.

Sem saudades da ex

Em 2020, quando estourou a pandemia, a Boeing desistiu de comprar a brasileira Embraer, depois de a negociação ter sido finalizada e as condições da transação, acertadas.

Numa analogia com os relacionamentos, para a Embraer foi como ter se livrado de um parceiro que, depois, afundaria em problemas. Livramento.

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Cinco anos depois de ter sido abandonada à beira do altar, a brasileira vive o seu melhor momento corporativo nos últimos anos: encerrou 2024 com lucro líquido de R$ 2,6 bilhões, quase 700% de crescimento em relação ao ano anterior.

No pregão de hoje, já depois que a notícia da Bloomberg circulava no mercado, a ação da Embraer subia 3,94% às 11h.

Para a Boeing, o ano passado foi um dos mais difíceis de sua história, tendo registrado um prejuízo anual de US$ 11,8 bilhões (US$ 3,8 bilhões apenas no quarto trimestre).

Por conta da volatilidade do cenário geopolítico, dos anúncios e recuos de Trump, é cedo para cravar se essa situação vai perdurar a ponto de produzir danos permanentes à gigante aeroespacial americana. A reação dos mercados mostra que a China escolheu apertar uma ferida ainda não cicatrizada para causar dor.

Reportagem

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