Graciliano Rocha

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Reportagem

Lucro da Bunge desaba com incertezas nos EUA, mas Brasil evita pior cenário

Uma das maiores companhias de agronegócio do mundo, a americana Bunge viu seu lucro recuar 40% no primeiro trimestre de 2025, reflexo direto da incerteza gerada pelas tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos, especialmente no setor de biocombustíveis e comércio de commodities agrícolas.

O desempenho, porém, foi parcialmente amortecido por resultados positivos no Brasil, onde a companhia mantém mais de 100 unidades industriais e logísticas e emprega cerca de 6.500 pessoas.

Segundo os resultados apresentados ontem, o lucro ajustado por ação caiu para US$ 1,81, frente a US$ 3,04 um ano antes. Já o lucro líquido consolidado ficou em US$ 201 milhões, enquanto o EBIT (uma métrica para fluxo de caixa) ajustado do grupo somou US$ 362 milhões, frente a US$ 676 milhões no 1T24. As vendas da principal divisão da empresa — o agronegócio — caíram 16%, para US$ 8,2 bilhões, com volume total de 18,2 milhões de toneladas.

A retração foi puxada, sobretudo, pela operação nos Estados Unidos, onde as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump continuam gerando efeitos sobre os fluxos comerciais. A incerteza regulatória sobre os incentivos a biocombustíveis também reduziu a demanda por óleos vegetais.

Ao lado de gigantes do setor como ADM e Cargill, a Bunge já vinha sentindo a pressão em suas margens desde o ano passado em razão da superoferta global de grãos e pela compressão nos spreads de comercialização.

Brasil amortiza impacto global

Apesar do cenário adverso, a operação brasileira teve papel relevante na contenção das perdas.

O lucro operacional ajustado da área de processamento, embora tenha caído globalmente 40%, foi impulsionado por resultados mais fortes no Brasil, Europa e Ásia, o que ajudou a compensar o desempenho mais fraco nos EUA, na Argentina e em sementes oleaginosas europeias, segundo o relatório integral apresentado pela empresa à SEC (o regulador do mercado nos EUA), lido pela coluna.

O relatório da companhia também aponta que a maior demanda chinesa por farelo e óleo de soja beneficiou diretamente a América do Sul, com impactos positivos sobre os volumes processados nas unidades brasileiras.

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A Bunge reforçou que segue apostando na estrutura local, que inclui terminais portuários em Santos (SP) e Imbituba (SC), além de ampla presença no interior do país, ligada à originação e ao esmagamento de grãos.

China trava fusão com Viterra

Outro entrave relevante foi a demora na aprovação da aquisição da Viterra, operação de US$ 8,2 bilhões que criaria uma das maiores tradings agrícolas do mundo. Embora o processo esteja avançado na maioria dos mercados, a aprovação da autoridade regulatória chinesa ainda não foi concedida, o que tem adiado a conclusão do negócio.

A empresa também desistiu formalmente da aquisição da brasileira CJ Selecta, avaliada em US$ 500 milhões, por falta de aprovação regulatória.

Apesar da retração nos resultados, a Bunge mantém sua projeção de lucro ajustado por ação para o ano em US$ 7,75, amparada pela expectativa de um segundo semestre mais estável e pela solidez da operação em mercados-chave como o brasileiro.

Reportagem

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