Graciliano Rocha

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Reportagem

Casa projetada por Niemeyer nos EUA está à venda por R$ 113 mi, diz jornal

A única casa projetada por Oscar Niemeyer (1907-2012) nos Estados Unidos está à venda por US$ 20 milhões - o equivalente a cerca de R$ 113 milhões no câmbio atual, de acordo com o jornal The Wall Street Journal, o primeiro a noticiar que o imóvel foi listado pela Christie's Real Estate, uma imobiliária especializada em imóveis de altíssimo padrão.

Localizada em Santa Monica, na Califórnia, a propriedade é um exemplar da arquitetura modernista.

Com 410 m², a chamada Strick House, projetada em 1963 e construída em 1964, leva o nome de seus primeiros proprietários, o cineasta Joseph Strick e sua então esposa, a escritora Anne Strick. É único trabalho de Oscar Niemeyer nos EUA, além da co-autoria da sede da Organização das Nações Unidas em Nova York.

Joseph Strick (1927-2008) foi ganhador do Oscar de melhor documentário em "Interviews with My Lai Veterans" (1970), sobre o massacre na vila de My Lai por militares americanos durante a Guerra do Vietnã.

A escolha de Niemeyer como autor do projeto foi uma decisão política, no período subsequente ao macarthismo - a perseguição política institucional dos EUA contra cidadãos, servidores públicos, artistas e intelectuais acusados de comunismo.

O nome vem do senador Joseph McCarthy, que liderou uma campanha agressiva contra supostos comunistas infiltrados no governo e em setores estratégicos, como Hollywood e universidades. Muitas pessoas foram investigadas, demitidas ou tiveram suas carreiras arruinadas com base em suspeitas infundadas ou delações sem provas.

Niemeyer era filiado ao Partido Comunista do Brasil desde 1945 e, por isso, teve o visto negado para entrar nos EUA. O projeto foi feito por correspondência e executado com apoio de arquitetos locais, com supervisão de Anne Strick e do designer Amir Farr. "Escolher Niemeyer era, também, uma forma de afronta ao macarthismo", relembrou Anne em entrevista anos depois.

Casa Strick, esboço de Niemeyer
Casa Strick, esboço de Niemeyer Imagem: www.oscarniemeyer.org.br/

O casal Strick se separou logo após a conclusão da obra. Anos depois, ela vendeu a casa mas continuou morando no local pagando aluguel.

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O imóvel quase veio abaixo no início dos anos 2000, quando o novo proprietário cogitou demolir a casa para construir outro imóvel.

Em 2002, uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo narrou a mobilização de ativistas para impedir a derrubada e relatou que a residência já havia sido atração turística para arquitetos e aspirantes a arquiteto de todo mundo, "que não raro batiam à porta e pediam a Anne para ver o interior".

Do abandono à restauração

De acordo com o Wall Street Journal, o casal Michael e Gabrielle Boyd, restauradores e colecionadores de arquitetura modernista, entrou em cena e comprou a casa por US$ 3,5 milhões em 2003. Naquele momento, casa já não tinha jardim, nem móveis, e a piscina estava vazia.

Ao longo de três anos, os Boyds restauraram cuidadosamente a propriedade, segundo o jornal americano. Eles substituíram carpete dourado e linóleo verde por pisos de palmeira, criaram uma biblioteca com pé-direito duplo e preencheram os espaços com móveis icônicos — inclusive cadeiras desenhadas por Niemeyer para o Partido Comunista francês, adquiridas em leilão.

"Foi mais uma restauração de obra de arte do que reforma de casa", disse Michael Boyd ao Wall Street Journal.

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O mercado local está aquecido: o preço médio dos imóveis na região subiu 15,7% no último ano, segundo o jornal financeiro americano.

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