Graciliano Rocha

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Reportagem

Por que o frango brasileiro é tão importante para o mundo

Quem comeu frango recentemente em locais tão distantes quanto a China, países da União Europeia ou México (entre dezenas de outros países) provavelmente consumiu pedaços de uma ave criada no Brasil.

O país responde sozinho por mais de um terço das exportações globais de carne de frango. Isso significa que, em média, um em cada três pedaços de frango comercializados entre países tem origem em granjas brasileiras.

Esse domínio não é por acaso. O Brasil construiu ao longo de décadas uma cadeia produtiva robusta, altamente integrada e eficiente, com vantagens competitivas que vão da genética à sanidade animal, passando por custo de produção e escala.

Empresas como BRF e JBS lideram esse processo, sustentadas por um status sanitário até então imaculado: o país era um dos poucos grandes exportadores sem registros de gripe aviária em criações comerciais.

Isso mudou na semana passada, quando autoridades confirmaram o primeiro caso de gripe aviária H5N1 em uma granja comercial no município gaúcho de Montenegro. A reação foi imediata.

Os grandes clientes reagiram com duas abordagens distintas:

  • Países que juntos representam cerca de 40% das exportações brasileiras de frango -- como China, Coreia do Sul, México e União Europeia -- impuseram suspensões nacionais às compras, bloqueando toda e qualquer remessa do Brasil. No caso de China e Coreia, a dependência é profunda: mais de 70% das importações desses países vinham de produtores brasileiros.
  • Outros países adotaram uma abordagem mais seletiva. A Arábia Saudita, por exemplo, limitou seu embargo apenas à carne oriunda do Rio Grande do Sul, estado onde o foco da doença foi detectado. Foi o caminho seguido hoje por Rússia, Belarus, Armênia e Quirguistão.

A suspensão parcial permite que embarques de outras regiões brasileiras sigam normalmente, reduzindo os impactos tanto para importadores quanto para exportadores. Este é o objetivo dos contatos que o Ministério da Agricultura tem feito com os demais países.
Essa distinção de postura entre os parceiros comerciais tende a ser crucial nos próximos meses, à medida que o Brasil tenta conter a disseminação do vírus para manter sua posição como fornecedor confiável.

Poucas alternativas fora

Este episódio sanitário expõe o quanto o mundo depende do frango brasileiro - e quão vulnerável é esse sistema quando o maior fornecedor sai de cena.

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Há alternativas? Sim, mas limitadas. A produção nos EUA enfrenta seus próprios desafios com surtos de gripe aviária e baixa fertilidade de ovos, o que deve levar as exportações americanas a seus menores níveis desde 2015, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA, fonte das estatísticas mais usadas no agribusiness global).

Para os importadores, o impacto é direto: preços em alta. Já se observa pressão nos valores pagos por cortes como peito, asas e pés, sobretudo na Ásia. Na Coreia do Sul, o governo pediu que varejistas liberem estoques e estuda medidas para incentivar a produção interna, segundo noticiou a Bloomberg. As Filipinas buscam novos fornecedores na Europa e nos EUA. Mas todos sabem que nenhum país tem a escala do Brasil.

As próximas semanas serão decisivas. A capacidade brasileira de conter a disseminação do vírus vai determinar o tamanho do baque global.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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