Graciliano Rocha

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Reportagem

Como foi a estreia da JBS na Bolsa de NY e o que está por trás do movimento

No primeiro pregão na Bolsa de Nova York (NYSE) nesta sexta-feira (13), as ações da JBS registraram leve alta de 1,61%, cotadas a US$ 13,87, após abrir o dia a US$ 13,65. O papel chegou ao pico de US$ 14,22 durante a tarde e teve recuo leve no after hours (negociação de ações após o fechamento regular da Bolsa) para US$ 13,82.

Quase 12 milhões de ações foram negociadas num pregão volátil, marcado pela tensão nos mercados globais - após um ataque de Israel a instalações nucleares do Irã e a retaliação iraniana a Tel Aviv, que reacenderam o temor de escalada no Oriente Médio.

A estreia, apesar do ambiente geopolítico tenso, marca um passo estratégico da JBS para se consolidar no centro financeiro global.

O que a JBS busca em Nova York

  • Acesso a capital mais barato e amplo: ser negociada nos EUA faz a companhia ter acesso a um mercado de crédito muito maior e potencialmente mais barato para sustentar o crescimento no exterior.
  • Base de investidores global: a empresa amplia o leque de acionistas sem abandonar o mercado doméstico .
  • Moeda forte para fusões e aquisições: Com ações dolarizadas e liquidez na NYSE, a JBS passa a dispor de papel competitivo para fechar negócios nos EUA e em outros mercados desenvolvidos.
  • Redução do custo da dívida: Quanto maior o pool de investidores institucionais (fundos de pensão e soberanos), menor tende a ser o spread (custo) pago em novas emissões de dívida.
  • Se for listada em índices como S&P 500, a JBS passa a ser potencial investida de fundos passivos que guardam uma enorme quantidade de capital que só pode ser alocado de maneira mais conservadora em ações.

Para viabilizar a listagem sem abandonar o mercado brasileiro, a JBS criou uma holding na Holanda e manteve BDRs no Brasil - BDRs são Recibos de ações estrangeiras negociados na B3. A estrutura de capital, no entanto, gerou críticas: os papéis classe B, com dez votos cada, foram entregues apenas à J&F Investimentos, dos irmãos Batista, concentrando 85% do poder de voto. Consultorias de governança recomendaram voto contrário, mas os acionistas aprovaram a proposta no fim de maio.

Atenção global

A chegada das ações ao mercado americano atraiu atenção internacional.

Como destacou a The Economist, a operação visa "acessar capital mais barato e atrair novos investidores", o que pode financiar a expansão da empresa nos EUA, Ásia e África, além de novos segmentos como carnes processadas.

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Já a Barron's, prestigiosa publicação financeira que pertence ao mesmo grupo do The Wall Street Journal, ressaltou que mais da metade da receita da companhia — que somou US$ 77 bilhões em 2024, com US$ 2 bilhões de lucro líquido — vem da América do Norte.

A publicação afirmou que a empresa, que já lidera o processamento de carne bovina e suína nos EUA, espera agora fortalecer sua presença com uma moeda forte (ações em dólar) para fusões e aquisições, elegibilidade para índices como o S&P 500 e menores custos de financiamento.

The Economist e Barron's também lembraram o passado conturbado da JBS: desde as prisões dos irmãos Batista por corrupção no Brasil até denúncias de desmatamento ilegal em sua cadeia de fornecimento. ONGs como a Mighty Earth e parlamentares dos EUA chegaram a pedir à SEC que bloqueasse o IPO. A JBS nega irregularidades e promete seguir as regras de transparência dos EUA, além de ampliar o rastreamento do gado em estados como o Pará.

A Economist ecoou as críticas à estrutura que concentra o poder de voto nas mãos da família Batista - que "alguns acham difícil de engolir", segundo a revista.

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