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João Branco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Você acha que pode cancelar alguém simplesmente por discordar?

Colunista do UOL

24/02/2021 04h00

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Vivemos num mundo louco: ao mesmo tempo em que temos muitos movimentos organizados antibullying também temos um recorde de "cancelamentos" - o nome dado nas redes sociais para o movimento coletivo de rejeitar uma pessoa por alguma coisa que ela fez ou falou. Talvez isso seja acentuado pelas bolhas dos algoritmos dessas redes. Ou talvez seja consequência da nossa dificuldade de tolerar o diferente, demonstrar amor pelo próximo e nos colocarmos no seu lugar.

A cultura de cancelamento atinge o participante do BBB que falou umas abobrinhas em rede nacional, aquela blogueira que fez um post infeliz, a rede de escolas que não apoiou uma causa ou aquela marca de cosméticos que ficou calada quando uma parte das pessoas queria que ela fosse ativista.

Hoje em dia não existe mais escorregadinha no tomate. Errou, pode tomar um linchamento público virtual. Mas a gente se esquece que os participantes de reality shows estão vivendo um experimento social bizarro, e estão provavelmente desequilibrados. A blogueira talvez estivesse vivendo um momento difícil na vida quando publicou aquela frase inconsequente. E a marca que está há dias sendo atacada por causa de um erro de uma pessoa, pode ter outros 100 mil funcionários que serão prejudicados.

Não estou dizendo que temos que aceitar atrocidades. De certa forma quem cancela está mostrando que se importa. Aliás, se importa tanto que demonstra sua indignação com um gesto extremo de rejeição. Mas vamos ser estratégicos por um minuto: qual é mesmo o objetivo do cancelamento? Eliminar uma pessoa da face da terra ou mudar um comportamento?

Se o que você quer é que pessoas e marcas sejam mais responsáveis, o melhor a fazer é ajudar, e não cancelar. Construir, e não destruir. Influenciar pelo exemplo, e não empurrar para o penhasco. Odiar o que uma pessoa fez é muito diferente do que odiar a própria pessoa. E precisamos lembrar que ninguém é perfeito, dono da razão e "senhor-acerta-tudo". No fundo estamos todos aprendendo e precisamos da ajuda empática uns dos outros.

Falando em empatia, o que aconteceria se o Tio Patinhas olhasse o seu dinheiro por alguns minutos com os olhos do Chaves? Ou se o Super-Homem trocasse a sua poderosa visão pelo olhar do Pantera Negra ou da Mulher Maravilha? Ou o que aconteceria se você se colocasse nos sapatos daquela pessoa que está sendo cancelada pela internet?

Deixo aqui uma palestra do TEDx pra te ajudar a refletir um pouco sobre o valor de olhar o mundo usando os "óculos" de outra pessoa: