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João Branco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Podcasts chegam a ter mesma audiência de programa de TV; onda é temporária?

Colunista do UOL

10/11/2021 04h00

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Uma pesquisa recente feita pelo Ibope mostrou que quase 20% da população brasileira com mais de 16 anos escuta podcasts. A maioria experimentou o mundo dos áudios digitais durante a pandemia, e ganhou um hábito de escutá-los enquanto está fazendo outras coisas.

O ranking dos podcasts mais ouvidos do Spotify e da Apple mostram que já existe boa diversidade de temas, que vão de piadas a discussões sociais, passando por dicas financeiras, apoio espiritual, horóscopo e aulas de inglês.

Mas o universo dos podcasts vai muito além dos maiores serviços de assinatura de sons. Uma onda gigante de conteúdos em formato de "entrevistas", "bate papos" e "mesas redondas" brotou na internet recentemente, incentivada pela remuneração dos anúncios. A internet possibilitou que qualquer um conseguisse fazer o seu próprio talk show, com um custo baixíssimo. Alguns fazem as conversas ao vivo de até quatro horas, que depois viram dezenas de vídeos menores - os famosos "cortes", para multiplicar ainda mais as propagandas que monetizam o trabalho. Não é impossível que os trechos do podcast Flow ou Podpah, por exemplo, ultrapassem 50 milhões de visualizações em um único mês cada um. São números que já podem ser comparáveis à audiência de programas de televisão.

Como marketeiro, adoro observar essas novidades. Por que será que esse fenômeno está acontecendo? E o que está por trás disso? Seria o podcast o novo rádio? Ou apenas mais uma modinha?

A resposta para essas perguntas passa pelo comportamento humano que está causando esse sucesso. O fato de a frequência de consumo desse conteúdo estar aumentando mostra que os ouvintes estão gostando do que estão ouvindo e, se isso continuar assim, o movimento não será temporário.

Seguir uma pessoa que você admira nas redes sociais é legal, mas vê-la respondendo perguntas ou simplesmente "jogando conversa fora" é ainda mais legal. Em geral, os papos mais longos são feitos em um estilo mais livre, sem respostas ensaiadas e edição - o que deixa tudo mais natural e humano. E a gente gosta dessa "intimidade".

Esse ambiente mais leve também obriga os participantes a exporem mais suas opiniões e, com isso, influenciar os ouvintes - um prato cheio para quem sabe se comunicar bem e quer se aproximar do público, como artistas, cantores e? políticos. Bingo! Estamos a menos de um ano das eleições e ouso dizer que a próxima disputa das urnas será muito influenciada pelos podcasts. Eles ainda não têm uma entrada tão alta quanto outros meios de comunicação, mas estão crescendo rapidamente.

Como o modelo de negócio desse ecossistema depende muito dos anúncios, o "vale tudo" pelas visualizações joga forte na hora de destacar trechos sensacionalistas dessas entrevistas. Os vídeos curtos, com títulos arrasadores e frases tiradas de contexto estão bombando - inclusive em canais que não têm nenhuma relação direta com os produtores dos áudios. Nesse cenário, a chance de um candidato falar algo polêmico e ter um corte que seja visto mais vezes que o horário político da TV é real.

Vamos acompanhar o que vem por aí. Você lembra quando teve a sua primeira televisão? E quando entrou pela primeira vez em uma rede social? A fila andou e a próxima onda chegou.

Estamos todos aprendendo com isso. Mas já ficou claro que, nessa pescaria chamada "mundo dos podcasts", os peixes somos nós. E somos fisgados pelos ouvidos. Então cuide bem dos seus!

podcast - Felipe Tomazelli - Felipe Tomazelli
Imagem: Felipe Tomazelli