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José Paulo Kupfer

Termômetro da inflação indica corpo econômico com hipotermia 

10/06/2020 19h14

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A deflação registrada em maio no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), de 0,38%, até veio menor do que a projetada pelos analistas, que esperavam recuo de 0,46%. Com a queda de 0,31% observada em abril, a retração dos preços, apenas no período mais agudo das restrições da movimentação de pessoas, alcançou 0,7%. Essa é a menor inflação mensal em mais de duas décadas.

Com o resultado de maio, o IPCA acumula alta, em 12 meses, de 1,88%. É o segundo mês em que a inflação fica abaixo do piso do intervalo de tolerância do regime de metas de inflação, que é de 2,5%. Projeções para os próximos meses sinalizam retorno do IPCA ao terreno positivo, mas ainda em níveis mínimos de pressão sobre os preços. Para 2020, as previsões são de que o IPCA não avance mais de 1,8%, abaixo do piso

A derrubada na economia global contribuiu para cortar preços de commodities, nos mercados internacionais. Disso resultou queda forte, no Brasil, nos preços dos combustíveis. Seus preços recuaram 4,56%, no mês passado, respondendo pela maior puxada para baixo da inflação de maio.

É evidente que o choque simultâneo na oferta e na demanda de bens e serviços, causado pela pandemia da Covid-19, é o principal elemento dessa deflação acentuada. Mas não se pode esquecer que a economia já vinha numa batida fria, e que a desaceleração IPCA vai além dos choques da pandemia.

O que permite dizer isso são os núcleos de inflação, medidas da evolução de preços que eliminam eventos e fatores fortuitos, sazonais ou que registrem variações fora do padrão. A média dos núcleos roda abaixo do centro da meta desde 2017. Agora em maio, acumula alta de 2,21%, em 12 meses, abaixo do piso.

Como termômetro da atividade econômica, capaz de medir desequilíbrios entre a demanda e a oferta, um índice de inflação deprimido é sinal quase sempre inevitável de economia fraca. E, sem dúvida, as perspectivas são de que 2020 será um ano para esquecer, também em relação à evolução da produção e das vendas.

Nos últimos dias, organismos multilaterais, como o Banco Mundial e a OCDE, revisaram suas últimas previsões para o desempenho da economia brasileira neste ano. As revisões levaram a uma piora nas estimativas. O Banco Mundial prevê agora, para o Brasil, uma contração econômica de 8% e a OCDE estima que o recuo seria de 7,4%, podendo chegar a 9,1%, se ocorrer uma segunda onda de contágios, mais para o fim do ano.

A expectativa é de que a economia sofra uma retração inédita, no segundo trimestre, podendo chegar a 10%, com alguma recuperação a partir do segundo semestre. Essa recuperação, porém, apesar da baixíssima base de comparação, seria insuficiente para compensar as perdas do primeiro semestre, que podem chegar, no acumulado, a 12%.

Principais perdas são esperadas no consumo, que responde por 60% do movimento da economia. Não só o desemprego, que pode chegar a mais de 15% da força de trabalho, quando se desconsidera aqueles que, em razão da pandemia, deixaram de procurar trabalho, deve contribuir para a retração do consumo. Também a redução voluntária do impulso de compra e a formação de chamadas "poupanças precaucionais" - aquelas feitas para proteção contra crises - poderão ajuda a retrair o consumo.