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José Paulo Kupfer

Controlar a pandemia será prioridade máxima de Biden; Brasil fora do mapa

05/11/2020 18h07

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A esta altura da marcha da apuração de votos, só um terremoto tira a presidência dos Estados Unidos do democrata Joe Biden. Como terremotos eleitorais podem ocorrer, não é possível, na tarde desta quinta-feira (5) dar a eleição presidencial americana como definida. Mas a chance de virada do presidente Donald Trump é tão remota que já permite que se tente avaliar o que virá com a vitória de Biden.

Uma disputa tão acirrada, numa sociedade que se revela tão polarizada, e, acima de tudo, em ambiente de Covid-19 descontrolada, deixa antever que que o mandato do quadragésimo sexto presidente americano, e o mais idoso deles ao tomar posse, não será normal. O trumpismo sobreviverá à esperada derrota de Trump, e isso também se refletirá no Congresso.

A divisão tradicional no Congresso americano se acirrará. No Senado, a vantagem dos republicanos, se permanecer, caminha para ser menor, com expectativa de que possa resultar em empate (no caso, como o vice-presidente da República preside a Casa, o voto de minerva seria democrata). Na Câmara dos Representantes, ainda que democratas mantenham a maioria, projeta-se avanço dos oponentes. É, resumindo, um quadro que pressupõe dificuldades para governar.

Não se deve imaginar, porém, que, guardadas as devidas proporções, a polarização da sociedade americana repetirá nos Estados Unidos a situação vivida pela ex-presidente Dilma Rousseff, em seu segundo mandato. À vitória estreita e contestada, reflexo da polarização já evidente na sociedade, sucedeu-se um bloqueio legislativo e a difusão de pautas-bomba que, independemente da alegada incompetência política de Dilma, impediram-na de governar.

Biden é um político experiente e com tendência natural à negociação. Não vai precisar do Congresso para reverter a maioria dos estragos institucionais, sociais e diplomáticos de Trump, podendo agir sem precisar do Congresso. Caso de medidas regulatórias ambientais, incluindo o Acordo de Paris, tarifas no campo comercial e, entre outros, o relacionamento com a China, retorno do apoio e sustentação de organismos multilaterais - ONU, OMS, OMC e outros.

Muito antes de tudo, porém, o maior e principal desafio de Biden será conter a violenta onda de Covd-19 que assola o país. No momento em que a eleição presidencial de 2020 se define em seu favor, são mais de 100 mil infectados novos a cada dia. Do êxito desse monumental empreitada dependerá o desenrolar de sua presidência.

O novo presidente, por isso mesmo, segundo a opinião de um bom número de analistas, não hesitará em mobilizar recursos para o setor de saúde e para sustentar empresas e empregos que podem sofrer com os lockdowns, ainda que parciais, que negociará com os estados onde proteção e auxílios forem mais necessários. A expectativa de que um megapacote fiscal seja despachado por Biden, logo no início de seu governo, já está sendo precificado nos mercados de ativos, em alta mesmo antes da definição final do pleito.

Do ponto de vista da politica externa, a prioridade, quase óbvia, será retomar as parcerias com México e Canadá, numa linha de retorno ao Nafta e de abandono do USMCA, um tratado comercial praticamente imposto por Trump a México e Canadá, baseado antes de tudo em cotas de exportação e importação. Depois vêm China e Europa.

Na América Latina, México é prioridade. Depois, as áreas de conflito, NIcarágua e Venezuela. O resto é o resto, incluindo o Brasil. Tamanho, no caso e no momento, não é documento. O Brasil, de início, está fora do mapa de Biden. Se o governo brasileiro acenar com mudanças em suas atuais politicas e orientações ambientais e nas relações internacionais, poderá, depois de algum tempo, ter início um diálogo. Se insistir nas posições atuais, será tratado como um pária entre as nações.