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Salto do dólar é só flutuação, e moeda não deve disparar, diz especialista
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Depois de bater em R$ 4,90 menos de duas semanas atrás, terminando o mês de junho como a moeda emergente que mais se valorizou ante o dólar, o real voltou a trilhar caminho da desvalorização. Nesta terça-feira (6), a cotação foi a R$ 5,20, com alta forte de 2,4% no dia.
A economista Julia Braga, professora da UFF (Universidade Federal Fluminense) e especialista no tema, lembra não ser possível fazer afirmações definitivas sobre os caminhos das moedas porque as influências que acabam determinando as cotações são de diversas origens e ordens. Ela avalia que, neste momento, o mais seguro de se afirmar é que não são conhecidas condições para uma desvalorização mais forte do real.
Julia Braga localiza, no vaivém do momento, influências de alguns fatores da conjuntura política doméstica e expectativas em relação aos passos futuros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). "A reforma tributária está embaralhando o meio de campo da relação do mercado com o governo, e há o temor de que os americanos, mais do que subir os juros, comecem a normalizar a política monetária", detalha.
Na ata da última reunião do comitê que determina o nível dos juros de referência na economia americana, divulgada na tarde desta quarta-feira, diretores do Fed expressaram a opinião de que, diante do ritmo mais forte da recuperação econômica, o processo de retirada dos estímulos monetários, que ajudaram a sustentar a economia na pandemia, poderia começar mais cedo que o antes previsto. Mas também avaliaram que as altas de preços no mercado americano continuam temporárias, o que deixa de lado eventual urgência em elevar juros.
A decisão do Fed fez a cotação do dólar, no mercado brasileiro, oscilar momentaneamente para cima, sem definir um rumo. Numa perspectiva de prazo um pouco mais longo, a tendência que Julia Braga visualiza é de valorização da moeda brasileira. A economista lembra que a cotação, não faz muito tempo, chegou a R$ 5,90 e depois caiu para menos de R$ 5. "Não se pode esquecer que a característica do dólar e das moedas a ele vinculadas é flutuar", diz a economista. "O que está ocorrendo agora é um movimento de acomodação".
Julia Braga acha que fazem sentido as estimativas que fixam o dólar "justo", no momento, abaixo de R$ 5. Um ponto a ser considerado nessa direção, segundo ela, é a perspectiva de uma balança comercial fortemente superavitária em 2021.
"As commodities também podem caminhar para um período de acomodação nas cotações, mas as exportações brasileiras continuarão robustas e as importações, mesmo com alguma recuperação da economia, não vão crescer no mesmo ritmo", imagina Julia. "O saldo comercial bem forte previsto é um elemento importante na construção de uma tendência de valorização do real".
Um outro fator que atuaria na mesma direção é a perspectiva de novas altas das taxas básicas de juros que, para ela, independentemente de ser a política correta ou não, influencia as cotações da moeda brasileira. "Depois de historicamente figurar entre as mais altas do mundo, a taxa de juros brasileira, recentemente, se alinhou com as mais baixas, em termos reais, entre os emergentes, entrando agora num processo de correção", observa Julia.
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