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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desemprego cai, mas vagas geradas são de baixa qualidade e pagam menos

30/09/2021 17h33

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Avanço da vacinação, com a consequente redução relativa das mortes e internações por covid-19, estimulando maior abertura da economia e retomada em ritmo mais acelerado das atividades no setor de serviços, é a principal justificativa dos especialistas para o gradativo alívio observado no mercado de trabalho. Esse alívio, contudo, continua é tímido e o mercado ainda não parece ter fôlego para absorver quantidades mais expressivas de pessoas em busca de trabalho. As vagas abertas estão concentradas em ocupações de menor qualificação e remuneração mais baixa.

De acordo com a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios), divulgada nesta quinta-feira (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa geral de desemprego caiu de 14,7% da força de trabalho, no trimestre encerrado em abril, para 13,7%, no trimestre findo em julho. Houve crescimento tanto na força de trabalho quanto na população ocupada, com o nível de ocupação passando de 50% da população em idade de trabalhar pela primeira vez desde o trimestre encerrado em abril de 2020.

Também tem havido melhora nas estatísticas do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que aponta a evolução mensal dos empregos formais. Em agosto, o saldo entre admissões e demissões foi positivo e resultou na criação de 372,3 mil vagas. De responsabilidade do Ministério do Trabalho, os números do Caged, que desde janeiro de 2020 computam os dados do emprego com base nos registros eletrônicos do eSocial, acumulam, em 2021, a criação de 2,2 milhões de novos postos de trabalho.

Mesmo com a absorção de 4,6 milhões de trabalhadores, em relação ao trimestre encerrado em abril, ainda são, de todo modo, mais de 14 milhões de desempregados. A população ocupada cresceu, mas também ainda falta absorver 5 milhões de pessoas para retornar aos níveis de ocupação pré-pandemia, E, enquanto a taxa de informalidade subiu para 40,8% da força de trabalho.

A tendência de redução do desemprego está sendo puxada mais pela retomada de atividades antes limitadas por medidas de restrição de mobilidade e exigências de distanciamento social do que por uma ampliação da capacidade de produção na economia. Para o economista Bruno Ottoni, pesquisador da consultoria iDados, e especialista em mercado de trabalho, disso resulta que a maior parte das vagas abertas são de baixa qualidade.

Explica-se assim por que a força da reabertura de postos no comércio, restaurantes e turismo. Também explica a razão pela qual a recuperação do mercado de trabalho ainda se apoia em recordes no segmento "por conta própria" e em níveis elevados de subocupação. A queda do rendimento médio mensal deriva dessa situação de mercado e reflete o fato de que os salários de admissão estão mais baixos. Atividades "por conta própria" reúnem empreendedores autênticos, mas também um grande contingente de trabalhadores de baixa qualificação, que vivem de pequenos serviços intermitentes. Estes também se avolumam entre os subocupados.

As dificuldades esperadas para 2022, com crise hídrica, inflação, alta de juros e menor crescimento na economia global, fazem também com que se acomodem as expectativas em relação à dinâmica do mercado de trabalho no ano que vem. No segmento formal, por exemplo, especialistas projetam a criação de um milhão de empregos em 2022, contra três milhões, em 2021.