IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Retrospectiva 2022: o que aconteceu no ano que vai começar

31/12/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Não funcionou a torcida para que a economia em 2022 se saísse melhor do que as projeções no início do ano indicavam. Se a atividade econômica acabou não registrando uma contração, em relação a 2021, também não se pode dizer que avançou.

No ano que agora chega ao fim, o PIB (Produto Interno Bruto) começou em queda e terminou parado. O crescimento de 0,38% adia a superação do vale ao qual a produção desceu a partir de 2014. Mais uma década perdida na economia brasileira.

A inflação, que deu um pinote em 2021, acalmou, mas ainda assim furou o teto do intervalo da meta de inflação em 2022. Com centro em 3,5% e intervalo de tolerância entre 2% e 5%, a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) chegou a 5,8%. Assim, pelo segundo ano consecutivo, o Banco Central teve de expor, em carta aberta, suas justificativas para o furo e as providências que tomaria para evitar que se repita.

Houve razões para o desempenho mais uma vez medíocre da economia. Para começar, o ambiente político interferiu negativamente. Este 2022 não foi apenas um ano de eleições presidenciais, mas de eleições polarizadas. Se investimentos naturalmente já se retraem em períodos de eleição, quando as incertezas sempre aumentam, o que dizer quando sobram tensões sociais.

Também nos aspectos propriamente econômicos, as condições em 2022 não foram favoráveis. Mesmo com um auxílio de R$ 400 mensais e despesas que driblaram o teto de gastos, a política fiscal mostrou-se, na prática, contracionista, ou seja, retirou recursos de circulação e retirou fôlego da atividade.

Também a política monetária (política de juros) foi contracionista. Perseguindo a quebra de pressões inflacionárias, o BC ainda subiu a já elevada taxa básica de juros até o segundo trimestre de 2022, mantendo-a daí em diante, no resto do ano, em dois dígitos.

A retirada pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano) dos estímulos monetários dos anos anteriores, levando a pressões sobre a cotação do dólar e, em consequência, sobre a taxa de juros, dificultaram a tarefa do BC e resultaram em resistências quanto a cortes nos juros básicos.

A evolução da taxa de câmbio foi um capítulo à parte em 2021. Além de manter juros básicos altos, tentando evitar que se abrisse o diferencial em relação aos juros estabelecidos pelo Fed, o BC foi obrigado a aumentar as intervenções no mercado cambial, sobretudo nos momentos em que as tensões eleitorais se elevaram. Foi um vaivém, com picos acima de R$ 6 por dólar, mas fechando o ano nas vizinhanças de R$ 5,8.

Contração fiscal e monetária, numa economia que não recuperou os impulsos perdidos no ano anterior, só poderia mesmo dificultar uma eventual reação da atividade econômica. Com espaço teórico para avançar, em razão da capacidade produtiva ociosa existente, mas às voltas com incertezas e freios macroeconômicos, as empresas adotaram estratégias defensivas, em 2022.

Com a economia em modo recessão, a taxa de desemprego permaneceu nas alturas de 12% da força de trabalho, ao longo de 2022. Manteve também o padrão do ano anterior, no qual as vagas reocupadas se concentraram nos extratos de qualificação profissional e de renda mais baixos.

Mesmo com recuo da inflação, renda baixa e endividamento alto das famílias compuseram mais um elemento da fragilidade exibida pela atividade no ano. Reflexo desse quadro de restrições, com um auxílio de R$ 400 mensais de alcance mais limitado, não houve recuo na população em situação de pobreza, o mesmo ocorrendo com o contingente de 20 milhões de brasileiros diretamente ameaçados pela fome.

As dificuldades de 2022 transbordaram a virada do calendário. Passadas as eleições, as projeções econômicas para 2023 sinalizaram mais um ano de baixo crescimento. As previsões convergiram para crescimento em torno de apenas 1,5% no novo ano, com persistência do desemprego.

Mas, apesar das previsões não muito animadoras para 2023, foram detectados, no fim de 2022, embora ainda não muito nítidos, sinais de que o atual longo ciclo de baixo crescimento, aprofundado pelo desarranjo econômico dos últimos quatro anos, poderá começar a ser superado a partir de 2024.

Entre riscos e desafios que nos esperam em 2022, voltando do futuro aqui imaginado, a coluna deseja o melhor Novo Ano a seus leitores!