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José Paulo Kupfer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

BC sobe mais os juros e avisa que ciclo de altas ainda não se encerrou

03/08/2022 19h56

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Desde a reunião de maio, o mercado financeiro discute se o Copom (Comitê de Política Monetária), que reúne os diretores do Banco Central e decide o ritmo de aperto da política monetária na economia, deveria encerrar o atual e longo ciclo de altas das taxas básicas de juros (taxa Selic). A discussão prosseguiu em junho e, a julgar pelas indicações do comunicado do encontro desta quarta-feira (3), ainda não chegou ao fim em agosto. Enquanto isso, a taxa básica subiu mais 0,5 ponto percentual, alcançando 13,75% nominais ao ano.

Imediatamente após a divulgação do comunicado, analistas elevaram para pelo menos 14% as projeções do nível da taxa Selic em setembro, sem garantir que representará o encerramento do ciclo de altas iniciado em março de 2021, quando os juros básicos estavam na mínima histórica de 2% ao ano. Os 11,75 ponto de alta em 12 reuniões consecutivas do Copom expressam o maior choque de juros na economia brasileira desde 1999.

A perspectiva de puxada mais forte e mais prolongada na taxa básica de juros, diante da indicação de menor agressividade do Fed (Federal Reserve, banco central americano) na sua política de juros, permite prever um ambiente propício a menores desvalorizações do real ante o dólar. No mercado financeiro, cresceram as apostas de que a cotação do dólar, no fim do ano, estará rodando nas vizinhanças de R$ 5. Nas projeções mais recentes do Boletim Focus, anteriores ao deste Copom de agosto, o dólar valeria R$ 5,33 no fim de 2022.

Como defendido por uma parcela de analistas, no comunicado emitido após a decisão do Copom, os diretores do BC deixaram portas abertas para pelo menos mais uma alta, na reunião de meados de setembro. Embora o comunicado informe que o "Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião", os diretores do BC consideram ser "apropriado" que o ciclo de aperto monetário continue avançando "significativamente em território ainda mais contracionista".

Contrair a política monetária significa aumentar juros, retirar dinheiro de circulação, dificultar e encarecer o crédito. Com essa política, o BC objetiva impor freios à atividade econômica para aliviar pressões inflacionárias. Uma das razões para essa atitude, mencionada no comunicado, é compensar a expansão fiscal promovida pela PEC Kamikase e a perspectiva de extensão dos benefícios sociais a 2023 ou mesmo torná-los permanentes.

Em favor imediato do encerramento do ciclo de altas, seus defensores mencionavam o esfriamento da economia americana, dispensando o Fed (Federal Reserve, banco central americano) de apertos mais duros nos juros de referência, nos Estados Unidos. Também lembravam que, no lado doméstico, a inflação deve registrar deflação em julho e talvez em agosto. Destacavam ainda que a taxa básica já se encontrava em terreno bastante contracionista, com os juros reais em torno de 6% ao ano. Sem falar na expectativa de que a ação de freio da política monetária na atividade econômica, pelo efeito retardado com que ocorre, ainda não estivesse completada.

A manutenção do aperto na política de juros, contudo, deriva da intenção do Copom de evitar que também em 2023 o teto do intervalo de tolerância do sistema de metas de inflação seja rompido, como já foi em 2021 e será em 2022. Para um centro da meta de 3,25% no ano que vem, o teto está fixado em 4,75%. No mercado, as estimativas atuais já são de uma inflação de 5,33% em 2023, acima do teto de tolerância.

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