Preços do petróleo e do dólar caem; nos mercados ambiente é de trégua
É possível que, em prazo um pouco mais longo, a nova e trágica guerra entre Israel e o grupo extremista palestino Hamas, na Faixa de Gaza, possa interferir no mercado de petróleo, elevando seu preço internacional, com todos os impactos negativos e conhecidos sobre a economia global. Até aqui, porém, os ataques de militantes do Hamas e as represálias israelenses, atingindo populações civis de ambos os lados, não se alastraram para as regiões produtoras, e não afetaram os mercados de ativos.
Não há como prever a duração desse movimento até certo ponto surpreendente. Reviravoltas no humor dos mercados, em ambientes de alta instabilidade geopolítica, sobretudo quando envolve o conflagrado Oriente Médio e o mercado de petróleo, não são incomuns.
Alta nas cotações não se sustentou
Houve um ensaio de movimentação nas cotações típicos da reação a episódios de violência na região, nesta segunda-feira (9). Mas a ausência de envolvimento direto de grandes produtores de petróleo, esfriou os mercados. Restou desse movimento um "esquentamento" nas análises sobre a hipótese de explosão das cotações, que ocorria "se", por exemplo, o Irã, tido como patrocinador do Hamas, fosse atingido por novas sanções dos Estados Unidos.
Nem mesmo se confirmou a expectativa de que o conflito potencializaria o fenômeno conhecido como "aversão aos riscos", também típico dos momentos de instabilidade política em regiões sensíveis do planeta. Embora esteja se observando uma intensificação no movimento de capitais na direção do mercado dos Estados Unidos, não está ocorrendo uma fuga acentuada de recursos para os títulos do Tesouro americano, tido como porto mais seguro, que derruba mercados financeiros ao redor do mundo, quando acontece.
Na manhã desta terça-feira (10), todos os mercados de ações no mundo, exceto os da China e da Coreia, operavam em alta. Também as cotações do dólar recuavam na maioria dos mercados. Depois de subir 4%, na segunda-feira (9), as cotações do petróleo registravam baixa, desfazendo a elevação do dia anterior, com o barril voltando a valer pouco mais de US$ 85. Apenas o ouro, em alta, registrava movimento parecido com o que se esperaria que ocorresse, diante das presentes instabilidades geopolíticas.
No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, operava em alta de mais de 1%, se aproximando dos 117 mil pontos. Também no fim da manhã de terça-feira, a cotação do dólar recuava 1,2%, a R$ 5,07.
O que explica a reação moderada nos mercados?
Por trás desses movimentos, diferentes do que se considerariam "típicos", nestes episódios, opera uma conjuntura que não é favorável a estresses nos mercados, desde que eventos inesperados, como a nova guerra Hamas-Israel, não extrapolem seus limites restritos.
Com as altas de juros nos países desenvolvidos, a começar da economia americana, a atividade econômica sinaliza, nesta momento, trajetória de queda ou moderação do crescimento. O mesmo se observa na China, que enfrenta problemas no seu imenso mercado imobiliário, com reflexos negativos nas taxas de crescimento da economia. A resultante dessa situação, nos mercados internacionais de commodities, incluindo petróleo, é de moderação nas cotações internacionais.
As taxas de juros, no mercado americano, depois de uma escalada recente que fortaleceu o dólar, começou a mostrar sinais de recuo. Declarações de dirigentes do Fed (Federal Reserve, banco central americano), insinuando que as altas nos juros parecem se mostrar suficientes para a retomada do controle da inflação, ajudam nesse movimento. Mas também contribui para alívio nas taxas o aumento da procura por títulos do Tesouro americano, em reação às instabilidades no Oriente Médio.
A redução nas taxas de juros do Tesouro, principalmente no ramo longo da curva de juros, enfraquece a posição do dólar ante outras moedas, colaborando para distender os mercados de ativos mundo afora.
Não custa repetir que todo esse cenário pode mudar, e de uma hora para outra, se o conflito se alastrar, envolvendo outros países da região, em especial os grandes produtores de petróleo.
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